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TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO (TDAH): Uma Análise das Controvérsias entre Psiquiatras e Terapeutas.

Por:   •  7/6/2016  •  Artigo  •  9.282 Palavras (38 Páginas)  •  365 Visualizações

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TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO (TDAH): uma análise das controvérsias entre psiquiatras e terapeutas.

Autora: Luiza Carvalho de Oliveira[1]

Instituição: Universidade Estadual do Maranhão – UEMA.

Resumo

Estudo bibliográfico acerca das abordagens neuropsiquiátrica e psicológica crítica de conceituação e caracterização do TDAH. Parte do conceito de dificuldade de aprendizagem, para iniciar uma discussão sobre as interpretações biológica e social que permeiam os problemas educacionais, para, em seguida, apresentar as perspectivas antagônicas de análise do TDAH: uma que se utiliza do discurso médico-biológico e simplifica o problema numa relação dual de saúde-doença, cujo tratamento se dirige a um indivíduo que apresenta uma deficiência; e outra,  psicodinâmica,  que aponta o TDAH como uma manifestação do processo de medicalização da educação. Tal estudo revelou que as controvérsias que permeiam os discursos sobre o TDAH explicitam a dificuldade dos indivíduos em lidar com as exigências sociais contemporâneas, alimentada pela indústria farmacêutica e pelo discurso de medicalização da vida. Evidencia, ainda, que pesquisas recentes têm possibilitado a desconstrução do fenômeno TDAH como um transtorno mental, e a sua interpretação como uma construção cultural, o que põe em cheque a sua existência real.

Palavras-chave: Dificuldades de aprendizagem. TDAH. Transtorno. Medicalização.

  1. INTRODUÇÃO

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um problema que atinge de 3 a 5% da população mundial, sendo que, desses, um número considerável é de crianças em idade escolar. Um estudo estimativo realizado em 2010 (MATTOS et. al., 2012) afirma ter, no Brasil, pelo menos 924.732 pessoas afetadas com TDAH. Já o Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde (BRATS), de março de 2014 (ANVISA, 2014), declara que as estimativas de prevalência desse transtorno em crianças e adolescentes variam consideravelmente, de 0,9% a 26,8%.

Cada vez mais professores e pais se queixam, ou daquelas crianças agitadas, inquietas, relutantes, ou daquelas desastradas, desajeitadas, desligadas, que parecem viver “no mundo da lua”. Tais queixas tem resultado, não só no aumento do número de encaminhamentos dessas crianças ao sistema de saúde, como também no crescimento de casos diagnosticados de TDAH. Assim, mais crianças passaram a usar o metilfenidato como medicação para corrigir seus comportamentos. Arraes (2014) afirma que, nos últimos dez anos, houve um aumento de cerca de 775% no consumo brasileiro de Ritalina – nome comercial pelo qual é mais conhecida a substância metilfenidato.

No entanto, essa alta frequência de diagnósticos de TDAH tem sido amplamente discutida por profissionais tanto da área da saúde quanto da educação, que questionam, não somente os processos de avaliação e de intervenção, mas também as práticas educativas adotadas por pais e sistemas de ensino no que concerne à orientação e ao acompanhamento de crianças com e sem o TDAH.  Esses processos e práticas, por vezes, desconsideram fatores sociais e individuais, como problemas ou situações familiares atípicas, ou ainda o ritmo próprio de aprendizagem de cada criança.

Isso evidencia que o TDAH tem se manifestado na nossa sociedade por meio de discursos que, ora enfatizam o seu caráter patologizante, ou seja, o caracterizam como doença, transtorno mental, que, portanto deve ser tratado; e ora o visualizam como um fenômeno social, resultado das transformações ideológicas e comportamentais dos indivíduos, que deve, assim, ser interpretado por uma diversidade de prismas

Por isso, no presente trabalho, buscamos analisar os discursos que permeiam as concepções acerca do TDAH, a fim de delinear seus desdobramentos no processo de formação da identidade de crianças na sociedade contemporânea. Para tanto, iniciamos a discussão, apresentando as controvérsias existentes na compreensão do TDAH como dificuldade de aprendizagem; em seguida, descrevemos duas perspectivas antagônicas de análise do TDAH: as abordagens neuropsiquiátrica e psicológica crítica; por fim, por meio da apresentação de uma pesquisa recente sobre o TDAH, apontamos os avanços no que tange à interpretação deste como um fenômeno social e não um transtorno mental.  


  1. AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E O TDAH

Há uma controvérsia entre os estudiosos acerca da definição de dificuldades de aprendizagem. Essa problemática, que não é recente, influi na tomada de decisões sobre uma série de variáveis, dentre elas a do processo de ensino e aprendizagem, o que afeta, em última análise, o futuro de crianças e jovens em idade escolar.

Assim, a definição de dificuldades de aprendizagem deve considerar seus contornos educacionais e clínicos, bem como sua repercussão quanto aos períodos críticos do desenvolvimento.

Jardim (2001) afirma que tais dificuldades podem ser uma repercussão da falta ou carência de oportunidades, enquanto as desordens de aprendizagem equivalem a problemas mais severos, como as incapacidades de aprendizagem. Por isso, diz que, para definir as dificuldades de aprendizagem, é importante considerar os seguintes parâmetros:

  • adequada oportunidade de aprendizagem;
  • discrepância entre o potencial de aprendizagem e os resultados escolares;
  • disfunção nos processos de informação; e
  • fatores de exclusão.

Smith e Strick (2001) denominam dificuldades de aprendizagem todos os problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para entender, recordar ou comunicar informações, onde também podem se enquadrar crianças com história de repetência e privação sociocultural.

Essas concepções, portanto, não consideram como dificuldades de aprendizagem nem as deficiências intelectual e/ou sensorial, nem os transtornos globais do desenvolvimento, pois eles evidenciam desordens básicas no processo de aprendizagem que impedem muitas crianças e jovens de atingir um rendimento escolar satisfatório.

Para esses autores, a criança ou jovem com dificuldade de aprendizagem apresenta discrepância, e não uma deficiência, entre a capacidade ou habilidade mental e o desempenho, refletidas em resultados escolares insatisfatórios. Em geral, essa criança apresenta um QI (quociente de inteligência) dentro ou acima da média, e um aproveitamento escolar abaixo dela em algumas áreas, mas não em outras. Dessa forma, as dificuldades de aprendizagem sugerem um comprometimento no processo de informação, com uma pequena desordem psiconeurológica que afeta a função cognitiva.

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