A Ética e Moral
Por: geisaclaudia • 19/9/2021 • Resenha • 1.317 Palavras (6 Páginas) • 177 Visualizações
FICHAMENTO
Dados Bibliográficos: Moral e Ética: Uma Leitura, Psicológica Psicologia: Teoria e Pesquisa 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 105-114
Página | Apontamentos | Anotações |
105 | No começo do século XX, em 1902 exatamente, Lévy-Bruhl, para quem “uma moral, mesmo quando quer ser teórica, é sempre normativa, e, justamente porque é normativa, nunca é realmente teórica” | Propunha que a moralidade fosse finalmente tema de investigações científicas, notadamente psicológicas |
105 | A tese psicológica que vamos aqui analisar pode ser assim enunciada: para compreendermos os comportamentos morais dos indivíduos precisamos conhecer a perspectiva ética que estes adotam. | Tal afirmação, pressupõe uma diferença de sentido entre os conceitos de moral e de ética. |
106 | Para Kant, a moral ordena: o sujeito moral sente-se intimamente obrigado a agir segundo determinadas regras. Sua ação é, para ele, necessária, e não apenas possível ou provável, e isto porque o bem moral é um bem em si. | Nos interessa é saber se, sim ou não, tal sentimento de obrigatoriedade corresponde a um fato psicológico, pelo menos em alguns indivíduos. E seja qual for a regra contemplada - a moral é sempre uma determinada moral, portanto, comprometida com determinados valores, princípios e regras. |
106 | Mais perto da hipótese de um tribunal da razão está Piaget (1932), para quem a moral da cooperação implica a presença de um sentimento incontornável de dever. | é perfeitamente legítimo afirmar a existência de um sentimento de obrigatoriedade, e explicar tal existência é um desafio para a Psicologia. |
106 | O primeiro: o sentimento de obrigatoriedade (ou dever) experimentado por um sujeito não corresponde sempre e necessariamente a uma exigibilidade social. | Exemplo: quando alguém pauta suas ações pela regra ‘não matar’ e vive numa sociedade na qual o matar é moralmente proibido. O importante e sublinhar aqui é que o sentimento de obrigatoriedade poder ser experimentado sem que haja exigibilidade social do comportamento decorrente. |
106 | O segundo comentário incide sobre a frequência, na população e no próprio indivíduo, do referido sentimento. Comecemos pelo aspecto populacional: a maioria dos homens sente-se movida por essa força interna chamada dever? Ou são poucos aqueles que experimentam tal ‘obrigação superior’? | É evidentemente impossível responder estatisticamente a essa indagação, mas o bom senso costuma fazer com que nos inclinemos pela raridade do fenômeno. |
107 | Assim, vemos que Dupréel, Freud e Piaget pensam ser rara a determinação das ações humanas por imperativos categóricos. Lipovetsky (1992) tem a mesma opinião, mas por motivos de ordem cultural. Segundo ele, vivemos tempos de crepúsculo do dever, nos quais “cessamos de reconhecer a obrigação de nos apegar a outra coisa que não seja nós mesmos” (p. 15). | A raridade do sentimento de obrigatoriedade não seria devida, portanto, a fraquezas de caráter que, em todas as épocas, minam a força moral da maioria dos homens, mas sim a uma nova ordem social individualista que mais valoriza o prazer que o dever. A sociedade pós-moderna seria também a sociedade pós-moralista. |
107 | Mas o que é,para Piaget, a moral autônoma? | É, entre outras coisas, uma moral da igualdade, da reciprocidade, do respeito mútuo. Logo, se ele tiver razão, o indivíduo moralmente autônomo não poderá legitimar deveres contraditórios com tais critérios. |
107 | Nas abordagens de Piaget e Kohlberg, há uma tese psicológica a respeito do conteúdo da moral. Eles não falam de ‘qualquer moral’ pois pensam que os processos psicológicos de desenvolvimento inevitavelmente trazem ao plano moral deveres inspirados pela reciprocidade. | Essa constatação não equivale a uma crítica: o objetivo das investigações desses dois grandes autores foi o de observar e analisar a dimensão racional da moralidade, não sua dimensão afetiva. |
108 | O Plano Ético: Comumente, as palavras ‘moral’ e ‘ética’ são empregadas como sinônimas. Por exemplo, diz-se de uma pessoa que ‘ela não tem ética’ para criticar seus comportamentos e atitudes; poder-se-ia muito bem chamá-la ‘imoral’. Quando se fala em ‘problemas éticos’, costuma-se fazer referência a questões atinentes aos deveres, portanto, ao plano moral. | ‘moral’ e ‘ética’. As duas mais frequentes e consagradas mantêm os dois termos como referência a deveres. A primeira dessas possibilidades consiste em reservar a palavra ‘ética’ a deveres de ordem pública. Ex: ‘ética da política’, ‘ética da empresa’, ‘código de ética’. Tal ética, portanto, exige comportamento moral. |
108 | Comte-Sponville faz eco a dois autores ao escrever que “a moral responde à questão ‘que devo fazer?’, e a ética, à questão “como viver?’ | diferenciaremos, portanto, o plano ético referente ao tema da ‘vida boa’ e o plano moral, ao tema dos deveres para com o outro e para consigo mesmo. |
109 | Podemos, então, dizer que a tese anunciada no início do presente texto – a saber, que para compreendermos os comportamentos morais dos indivíduos precisamos conhecer a perspectiva ética que estes adotam. | lembrando da diferenciação entre moral (conteúdo) e plano moral (forma). Falta-nos a articulação entre a busca da felicidade e o dever, ou seja, a articulação entre o que chamamos de plano ético e plano moral. |
110 | Moral e Ética: Personalidade Ética Aceitas as definições de plano moral e plano ético, a pergunta que imediatamente surge é a de saber se um deles engloba ou determina o outro. | “a moral está dentro da ética (responder à pergunta ‘como viver?’ é, entre outras coisas, perguntar-se que lugar reservar aos deveres), bem mais do que a ética está dentro da moral (responder à pergunta ‘que devo fazer?’, ainda não permite saber como viver e nem mesmo – uma vez que a vida não é, aos meus olhos, um dever – se é preciso viver)” |
111 | É claro que a questão ética é mais ampla que a questão moral, mas isso não significa necessariamente que a primeira determine a segunda. | Teríamos, portanto, o seguinte quadro: a moral limita a ética. Expressões como ‘a liberdade de cada um acaba quando começa a liberdade de outrem’, ou ‘live and let live’ (viva e deixe viver), traduzem bem o referido quadro, que poderia ser assim explicitado: cada um é livre para escolher a ‘vida boa’ que quiser, contanto que reconheça aos outros o mesmo direito e não os trate como instrumento. Nessa formulação, vê-se a moral como critério de limite para as escolhas do plano ético. |
112 | Em resumo, para nós, o invariante do plano ético é a busca de sentido para a vida, e os diversos conteúdos dependerão dos diversos sentidos atribuídos à vida. Já podemos perceber uma relação entre o plano ético e o plano moral: se o grande problema da vida é ela fazer sentido, deduz-se que a moral, ela mesma, e as obrigações dela derivadas, devem também fazer sentido. | Para defender a hipótese da prevalência do plano ético sobre o plano oral, devemos nos perguntar se há, dentro da própria problemática do sentido da vida, um outro invariante de ordem psicológica. |
112 | Como o leitor pode perceber, não hesitamos em colocar, no plano ético, o ‘famigerado’ amor-próprio. Mas não somos os únicos a reconhecer que a ética não pode traduzir-se na negação do sujeito (ver Savater, 2000), e tampouco a moral pode fazê-lo. Basta atentar para o fato de a pergunta do plano ético ‘que vida quero viver?’ implica outra: ‘quem quero ser?’. Portanto, parece-nos não haver possibilidade de se pensar a ética sem contemplar a dimensão da identidade, e esta, sem a busca de atribuição pessoal (e coletiva) de valor. | Agora estamos em condições de defender nossa tese, segundo a qual, para compreender os comportamentos morais dos indivíduos precisamos conhecer a perspectiva ética que eles adotam. |
113 | Em suma, cremos que pensar a motivação moral por intermédio das opções éticas permite maior flexibilidade para dar conta da variedade de condutas que se observam. Sendo a área da psicologia como é, com profusão de teorias e dos chamados ‘novos paradigmas’, é difícil saber se a abordagem teórica que responde pelo nome de moral self ou personalidade ética dominará doravante os estudos de Psicologia Moral e Psicologia do Desenvolvimento Moral. | uma coisa é certa, como o explicitamos tanto na filosofia quanto na psicologia: tal abordagem encontra-se fortalecida e inspiradora de novas investigações, Brasil incluído. |
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