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A Argumentação Crítica Do Filme: “Estômago”

Por:   •  24/11/2023  •  Resenha  •  5.469 Palavras (22 Páginas)  •  69 Visualizações

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE (CCBS) PSICOLOGIA

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ARGUMENTAÇÃO CRÍTICA DO FILME: “ESTÔMAGO”

SÃO PAULO

2023

SUMÁRIO

  1. HISTÓRICO DE VIDA E SOFRIMENTO PSÍQUICO…………………………..4
  2. HIPÓTESE SOBRE OS FATORES DESENCADEADORES DO SOFRIMENTO PSÍQUICO……………………………………………………………………………5
  3. CONFLITO ATUAL…………………………………………………………………7
  4. HIPÓTESE DIAGNÓSTICA………………………………………………………..8 
  1.  DIAGNÓSTICO CATEGÓRICO (DSM).........................................................8
  2.  DIAGNÓSTICO PSICODINÂMICO………………………………………...8
  3.  ARTICULAÇÃO TEÓRICA PSICODINÂMICA………………………….10
  4.  DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL…………………………………………..12
  1. REFERENCIAL TEÓRICO……………………………………………………….14

  1. HISTÓRICO DE VIDA E SOFRIMENTO PSÍQUICO

        A obra cinematográfica “Estômago” acompanha a trajetória da vida de Raimundo Nonato, um retirante nordestino que busca oportunidades na cidade, mas encontra-se sem suporte financeiro. O protagonista acaba por ser sujeitado a um trabalho não remunerado como cozinheiro de um boteco, no qual tinha comida e moradia, mas seu desempenho brilhante na culinária leva Giovanni, dono de um restaurante luxuoso, a contratá-lo e acolhê-lo como aprendiz.

        Inicialmente, nota-se que Raimundo não toma iniciativa para alterar o curso de sua vida, de forma a depender das nuances que ocorriam no meio para mudar seu lugar no mundo, como com as propostas de trabalho do dono do boteco, Zulmiro, e de Giovanni. Essa característica de submissão ao meio, unida ao entendimento daquilo que dizem de forma literal, podem estar ligadas a uma questão sociocultural.

  • Giovanni: “Esse aqui é o filé mignon, é o que há de melhor na carne, é que nem na mulher a bunda (...)”
  • Raimundo Nonato: “Ah, então o filé mignon é na bunda né? E é caro né, seu Giovanni?” 

A falta de ação prática pode ser relacionada com a escassez de oportunidades para um homem nordestino sem condições financeiras, gerando possivelmente insegurança. A compreensão literal pode estar ligada com um repertório cultural distinto daquele da cidade, este com diversas gírias e comparações. No entanto, será retomado no Diagnóstico Categórico a relação entre o Transtorno de Personalidade Antissocial (hipótese diagnóstica) e uma imposição de cuidados provenientes do ambiente. Primeiro, Nonato é cuidado pelo dono do bar, depois por Giovanni e, ao mesmo tempo, por Íria, uma garota de programa que se aproximara dele porque o homem se mostrava um bom cozinheiro e se dispunha a cozinhar para ela. Os cuidados de Íria são evidenciados quando o cozinheiro briga por ciúmes em uma boate e, todo machucado, tem seus curativos feitos pela mulher e repousa em sua casa.

O suporte proveniente de Íria advém também da satisfação das necessidades pulsionais de Raimundo. É possível notar que o talento do mesmo é usado pelas pessoas, como Íria, Zulmiro e Bujiú (o preso mais poderoso que dividia cela com Nonato). No entanto, no começo, trabalhando no bar, o nordestino não tinha uma percepção clara da relação entre poder e cozinhar. Com a prostituta, ele passa a manipular (ao mesmo tempo que ela o usa) a existência da relação através de seus dotes. Ao passo que na prisão, a manipulação do jogo de poder se delineia com mais clareza, à medida que Nonato articula conscientemente um plano para ascender à posição de maior poder dentro da cela: dormir na cama mais alta do beliche e a deter o respeito dos demais.

Além da gradual evidenciação da relação entre o ato de cozinhar com a possibilidade de domínio e poder, pode-se colocar que a expressão de si como bondoso e aparentemente ingênuo é uma forma que vai ganhando consistência como manipuladora. A aparente bondade facilita que haja uma criação de confiança, como quando Bujiú despeja toda sua confiança em Raimundo no cuidado dos alimentos com a esperança de se autopromover, mas acaba sendo enganado em meio à manipulação.

No que se trata dos mecanismos de defesa apresentados, percebe-se que o nordestino tem uma cisão dos objetos, como pelo fato de enxergar Íria de forma exclusivamente positiva, como se ele estivesse em uma posição para além de cliente e existisse uma relação consistente a ponto de fazer sentido ele pedi-la em casamento; no entanto, quando vê a mulher beijando Giovanni (coisa que ela se recusava a praticar com Nonato por afirmar que não fazia isso em sua ocupação), ela se torna totalmente negativa, a ponto de ser passível de extermínio. Também é possível notar uma dissociação de sua personalidade manifesta como um homem bondoso, tranquilo e ingênuo em momentos nos quais se propõe a beber alcoólicos, como após beber diversos Negronis e, demonstrando um episódio de fúria, tenta assassinar com uma garrafa quebrada um homem no qual Íria sensualizava na boate onde trabalhava.

Junto disso, nota-se uma negação primitiva, que apoia a cisão à medida que nega aspectos ameaçadores ou contraditórios da realidade psíquica ou externa. Essa defesa se dá quando o homem nega que está em posição de trabalho análogo à escravidão no boteco, dizendo para Giovanni, no momento em que ele tentava contratar Raimundo, que era bem tratado, recebia salário e benefícios. Já a idealização primitiva mostra-se em relação, por exemplo, ao primeiro chefe, Zulmiro, de modo que Raimundo o convida para ser padrinho de seu casamento mesmo tendo sido submetido ao trabalho questionável e humilhações.

  1. HIPÓTESE SOBRE OS FATORES DESENCADEADORES DO SOFRIMENTO PSÍQUICO 

        Na introdução do enredo o protagonista narra a origem de seu nome, “Raimundo Nonato”, dado em homenagem ao santo por consequência de seu nascimento “milagroso” cujo sua mãe não resistiu ao parto e faleceu. Este evento marca a história do narrador como o primeiro acidente traumático por ele sofrido, em contrapartida, o homem não relata o ocorrido como tal, coloca-se no papel de verdadeiro “santo”, uma pessoa ingênua em suas relações, enquanto aborda a mãe como apenas uma mulher que teve sua barriga cortada pela grande obra da medicina, possibilitando a origem de sua existência.

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