A Construção da Masculinidade
Por: Leandro Penha • 24/9/2018 • Trabalho acadêmico • 1.032 Palavras (5 Páginas) • 281 Visualizações
Nos últimos anos, a identidade masculina tem gerado uma crise no homem contemporâneo. O modelo de masculinidade hegemônico não consegue sustentar e descrever as novas maneiras de ser homem, o que gera uma crise na identidade masculina. “O “novo homem” estaria em crise porque não encontraria modelos identitários hegemônicos para descrever sua nova condição masculina.”(Silva, 2006).
A história das relações de gênero é presente e influencia a sociedade, visto que esta possui caráter social e histórico baseado nas percepções das diferenças entre os sexos profundamente enraizados em um domínio masculino milenar. Sendo assim, pode-se dizer que o gênero é um dos primeiros modos de dar significado às relações de poder. A masculinidade, assim como a feminilidade, é uma negociação entre os vários discursos disponíveis na cultura na qual cada um está inserido, construindo-se baseada nas relações intra e interssexuais e através da forma em que cada grupo marca suas diferenças e semelhanças, tornando-se menos ou mais poderoso que o outro. (Kenway, 1995; Gilbert e Gilbert, 1998 apud Saavedra, 2004)
Até o século XVIII, não existia um modelo de sexualidade humana da forma que entendemos atualmente. O termo sexualidade surgiu somente no século XIX, onde a concepção dominante era a do monismo sexual, ou “one-sex-model”, que dominou o pensamento anatômico por dois milênios, a mulher era entendida como um homem invertido, cuja vagina era vista como “um pênis interno, os lábios como o prepúcio, o útero como o escroto e os ovários como os testículos” (Laqueur, 2001 apud Silva, 2006). O modelo de perfeição era representado pela anatomia masculina e isso definia a superioridade e o domínio do homem e inferioridade da mulher. Com base nessa concepção, a relação entre reprodução, sexo e orgasmo também passaram a seguir conforme o modelo masculino e justificar a posição dominante do homem na sociedade (Silva, 2006).
Com o desenvolvimento da anatomia e da fisiologia, iniciou-se um movimento de diferenciação biológica entre os sexos que tornou insustentável a visão hierárquica entre homem e mulher e deu aos homossexuais o lugar que a mulher tinha como homem invertido e inferior. De acordo com Laqueur (2001 apud Silva, 2006), uma anatomia e fisiologia da incomensurabilidade substituiu uma metafísica da hierarquia na representação da imagem da mulher em relação ao homem. Assim, de homem invertido, a mulher passa, então, a ser o inverso do homem e em seu lugar, entraria o que hoje denominamos homossexuais, estabelecendo, assim, o início do estado de decadência masculina, momento este em que se sucederá a primeira crise e o culto à masculinidade (Showalter, 1996; Gay, 1995 apud Silva, 2006). Esse choque fez com que o homem da época adotasse ao “ser homem” uma série de valores que constituem a masculinidade hegemônica de hoje (Silva, 2006).
A Revolução Francesa, Revolução Industrial e as posteriores guerras mundiais desordenaram o papel do homem burguês, levando-o a consolidar um ideal de masculinidade e virilidade hegemônica comum para todos os homens. Isso gerou o temor de alguns em se tornar homossexuais diante da obrigatoriedade de pôr em prova sua masculinidade, caracterizando a primeira crise da identidade masculina (Gay, 1995; Mosse, 1998; Badinter, 1993; Almeida, 1995 apud Silva, 2000).
Sob a ameaça de serem associados à figura da mulher, dado os “invertidos sexuais”, os homens vitorianos recrudesceram mais do que nunca a sua masculinidade, tanto no aspecto físico como psicológico, construindo para si uma série de papéis e traços representativos da condição masculina. Ser homem, no século XIX, significava, então, não ser mulher, e sob hipótese alguma ser homossexual (Silva, 2006). Ser homem era ser viril, inteligente, corajoso, provedor, ser forte e conquistar muitas mulheres, isso com o objetivo de justificar e legitimar o papel dominante do homem na sociedade tanto em aspectos econômicos como sociais.
Esse modelo de masculinidade, que segue como hegemônica até agora, se encontra em crise. O movimento feminista vem para colocar em xeque as relações de poder entre os gêneros e, assim, atacar uma masculinidade que tem como objetivo a manutenção do status dominante e superior do homem perante a mulher (Silva, 2006)
O movimento feminista, juntamente aos estudos de gênero, veio criticar a base secular de estrutura de poder que se mantinha até então, nascendo daí os “men’s studies” (Dorais, 1994a, p. 14 apud Silva, 2006). Numa divergência de ideias que não conseguem se manter diante de melhor descrição que solucione o mal-estar, a crise da identidade masculina contemporânea será um reflexo “do incremento da participação das mulheres no mundo do trabalho, da maior partilha de responsabilidade e poder entre os sexos, da reconsideração feminista dos papéis tradicionais atribuídos aos homens e às mulheres, da prática do celibato e do desmantelamento dos casais e da família, além da reprodução artificial e do pânico das doenças sexualmente transmissíveis, como a aids” (Dorais, 1994a, p. 14 apud Silva, 2006).
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