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MASCULINIDADE E HEGEMONIA FICHAMENTO

Por:   •  12/6/2017  •  Resenha  •  4.509 Palavras (19 Páginas)  •  793 Visualizações

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Connell, Robert W. & Messerschimidt, James W. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Estudos Feministas, Florianópolis, 21(1): 424, janeiro - abril/2013

          O conceito de masculinidade hegemônica foi formulado há 20 anos e desde então tem contribuído para o pensamento que atualmente tem-se dos homens, hierarquia social e gênero, possibilitando uma ligação entre diferentes campos de estudo, posições do feminismo e até mesmo modelos de gênero. Há uma infinidade de artigos publicados e conferências também sobre o tema. Recebe criticas de diversas direções e ainda é um conceito contestado.

          No que concerne à origem, o conceito foi proposto primeiramente em relatórios de estudos de campo feito em uma escola na Austrália sobre desigualdade social relacionada à construção da masculinidade e relação com o corpo, segundo o autor. O primeiro artigo foi “Towards a New Sociology of Masculinity”, criticando o que até então se tinha do papel sexual dos homens, propondo um modelo de masculinidade nas relações de poder. Cabe dizer que esse modelo foi integrado à uma teoria sociológica de gênero, e o tempo se mostrou maduro, nas palavras do autor, para receber esse tipo de síntese. Como base para esta síntese estava a teoria feminista do patriarcado e o papel dos homens na transformação do patriarcado. Alguns homens tentaram um apoio ao feminismo, chamando mais atenção para diferença de classes na expressão na masculinidade. Mulheres criticaram preconceitos relativos à raça quando o assunto é conceitualizado em questão das diferenças de sexo, o que levou a um questionamento grande sobre reinvindicações vindas dos homens.

         Segundo a autora, o termo “hegemonia” foi utilizado em tentativas para estabelecer uma compreensão nas relações de classe. A ideia desse termo acabou sendo passada para uma o problema paralelo das relações de gênero, o que gerou um desentendimento seguindo a lógica de que a hegemonia teria sido reduzida a um modelo de controle cultural. Cita também que antes do Movimento de Liberação das Mulheres já havia um viés da psicologia e sociologia que reconhecia a natureza social da masculinidade. Em 1970 foram feitos vários artigos sobre o papel do homem, como forma de crítica sobre suas normas e origem do comportamento opressivo vindo dos homens, fornecendo material para o movimento de homens antissexista.

          O poder e a diferença também foram tópicos apontados pelo autor como importantes, uma vez que foram essenciais no movimento da liberação gay, ligada a um ataque de estereótipos de gêneros, desenvolvendo uma analise da opressão do e pelo homem. Foi em 1970 então que surgiu o conceito da homofobia sendo já atribuído ao papel masculino convencional. A pesquisa social empírica foi igualmente de grande importância, documentando hierarquias locais e culturas de masculinidade nas escolas, locais de trabalho onde quem domina é o homem e em comunidades populares. Esses estudos foram capazes de comprovar pluralidade de masculinidades e complexidade da construção de gênero para o homem, trazendo as lutas pela dominância.

          A autora coloca também a influencia que a psicanalise teve sobre o conceito, sendo o próprio Freud quem introduziu uma analise de biografia dos homens em “Homem dos Lobos”, mostrando como a personalidade adulta é um sistema sob tensão e com contracorrentes reprimidas. A autora cita Stoller, um psicanalista, que fez com que “identidade de gênero” fosse popular, além de que mapeou suas variações no desenvolvimento de meninos, incluso as que levam ao transexualismo, sendo as mais famosas. Outros temas também apareceram pelos psicanalistas foram poder dos homens, espectro de possibilidades do desenvolvimento de gênero e da tensão e contradição entre masculinidades tidas como convencionais.

            Com relação à formulação, o autor coloca que em 1980 a sociologia trazia estudos da estrutura do poder, tendo como centro o grupo dominante, sendo a masculinidade hegemônica entendida como um padrão de práticas o qual deu abertura para que a dominação dos homens sobre as mulheres continuasse. É citada a diferença entre a masculinidade hegemônica e a subordinada. A masculinidade hegemônica é, segundo autor, normativa, exigindo uma posição dos homens em relação a ela e legitima subordinação das mulheres aos homens. A masculinidade hegemônica fica aberta, porem, a uma mudança histórica, já que as hierarquias de gênero eram sujeitas a essas mudanças também, passando a existir em circunstâncias especificas dando espaço à substituição de algumas masculinidades por novas, por exemplo, tornando possível pensar numa abolição das hierarquias de gênero.

          Sobre a questão da aplicação do conceito, a autora data que meados de 1990, as pesquisas sobre homens e masculinidade iam se consolidando num campo mais acadêmico, com conferencias, publicação de livros, revistas e pesquisas no campo de ciências sociais e humanidades. O conceito foi usado em diversas áreas e situações diferentes, como na educação para compreender uma dinâmica de sala, em casos de bullying, currículos, criminologia, contribuiu também para a teoria entre crimes e masculinidade, estupro, colarinho branco e também em pesquisas sobre homem e sua representação na mídia, ajudando a dar sentido em diversos aspectos, como pesquisas da mídia de massa. Foi utilizado também em estudos organizacionais e etnográficos traçando perfis de homens em comunidades especificas. A autora conclui todos esses exemplos dizendo que o conceito serviu para quadro de esforços das pesquisas em desenvolvimento sobre homem e masculinidade, substituindo a teoria do papel sexual e modelos categóricos da psiquiatria.

          Cita-se então, quatro formas de documentação da masculinidade hegemônica: pelam documentação sobre as consequências e custos da hegemonia, desvelamento dos mecanismos da hegemonia, pela demonstração da vasta diversidade das masculinidades e delineamento das transformações nas masculinidades hegemônicas. No primeiro caso, as pesquisas que foram feitas no campo da criminologia mostraram os padrões de agressão ligados à masculinidade hegemônica, através da busca por essa hegemonia e não como um efeito mecânico. No segundo caso, é citado pesquisas que trouxeram frutos no que diz respeito da revelação dos mecanismos da hegemonia, algumas sobre o “ostentar” da masculinidade nos esportes, como nos mecanismos sociais onde Roberts chama de “censura” (ROBERTS, 1993) que é direcionada a certos grupos sendo considerados subordinados, outra abordagem ainda é a operação da hegemonia pela invisibilidade, removendo a forma dominante da masculinidade da possiblidade de censura. No terceiro caso, as pesquisas internacionais vão confirmar o insight de que ordens de gênero vão construir masculinidades múltiplas.

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