A Criança adotada na visão da clinica psicanalítica
Por: Fernanda Allegretti • 7/12/2017 • Trabalho acadêmico • 2.162 Palavras (9 Páginas) • 290 Visualizações
A criança adotada na visão da clinica psicanalítica
Fernanda Espindola Allegretti[
As primeiras ligações e o desenvolvimento da criança
A criança ao nascer necessita de cuidados para que deixe de ser um “pedaço de carne” e venha a tornar-se um ser humano em desenvolvimento, e para isso é comum que a mãe seja a primeira referencia de cuidado deste bebe indefeso. É nela que a criança irá buscar seus referenciais de carinho, afeto, alimento e amor. As marcas deixadas nessa idade serão referencias carregadas durante toda a vida, sendo elas boas ou ruins. Contudo, no caso da mãe não poder ter, ou não desejar, esta criança consigo e houver adoção isso não inviabilizará que estas marcas sejam deixadas e novas sejam criadas a partir do contato primário com a nova família, podendo assim o adotado ter um desenvolvimento saudável.
Do ponto de vista de Bowlby, a criança não precisa necessariamente ser cuidada pela mãe verdadeira ou pela figura materna principal, porém crê que a criança necessite ser adotada logo após seu nascimento, para que os cuidados maternos sejam colocados logo após a chegada ao mundo. Além disso, quanto mais novo o bebe for, mais fácil será para os pais verem esta criança como sendo deles, tornando mais fácil as condições para que esse filho se insira na relação familiar. Além disso, receber a criança nos primeiros meses de vida dá aos pais um certo alivio na questão de que eles serão os responsáveis por moldá-la, evitando assim que sua personalidade seja desviada devido a problemas provindos da mãe biológica, sendo isso muito comum de ser encontrado no discurso dos pais de crianças que foram adotadas com um pouco mais de idade.
Nesta relação inicial mãe/filho a mente infantil ainda encontra-se em desenvolvimento, onde a mãe, ou quem desenvolver este papel, auxilia nesta construção mental. Porém, esta relação é estabelecida quando a criança ainda encontra-se no útero e permanece pós ele, e é por isso que a questão da adoção envolve não só a aceitação da família pela criança, existindo questões muito mais importantes que isso, as quais ela irá carregar consigo desde antes do nascimento. A partir disso pode-se dizer que a importância dos pais adotivos é essencial, porém é preciso que estes façam a apropriação do adotado, que o desejem, não bastando somente a vontade de ter uma criança em casa, porque isso não tudo, é preciso investimento, e aqui não falamos de investimento financeiro.
As fases do desenvolvimento e a mãe (in) suficientemente boa
Segundo Winnicott, existem duas fases iniciais do desenvolvimento infantil, dependência absoluta (a) e dependência relativa (b), onde (a) ocorre do nascimento aos seis meses de idade, e é vista como dependência absoluta, porque sem os cuidados da mãe a criança não iria desenvolver-se. Neste momento o bebe ainda entende que ele e a mãe são um só, e a partir disso a mãe exerce três funções maternas, que são: a apresentação de objeto (1), onde da de mamar, utilizando o seio ou mamadeira, onde a partir disso o bebe acredita ter criado o objeto, pois quando estava quase imaginando este ele surge para sua satisfação, e a criança passa a sempre esperar por este objeto de satisfação. Na questão da adoção a amamentação também se coloca, porque embora a criança não tome o leite diretamente do seio materno, a questão pode se arranjar de outras maneiras, contanto, o importante aqui será como a criança será cuidada nesse momento. Quando a mãe adotiva consegue colocar-se na posição de cuidadora e consegue dar prioridade às necessidades do bebe, esse processo se desenvolve com sucesso (holding, handling); Holding (2), aqui é onde a mãe cria a rotina mãe/bebe, a partir dos cuidados que exerce diariamente. Ela dá sustentação à criança a partir “desse “mundo” em que os dois vivem, e a partir dessa rotina a criança cria autoconfiança e sua integração no tempo e espaço. Aqui é preciso dizer que embora a relação criança adotada/pais adotivos não seja tão profunda como em uma relação biológica, a criança ainda assim pode sentir-se sustentada (tendo holding), e assim sentirá que está segura e que faz parte daquela família; Handling (3), seria a fase onde o bebe é manipulado enquanto é cuidado, Winnicott chama de personalização, e é onde se harmoniza a vida psíquica e corporal. A partir da realização destas três fases é que a mãe torna-se a mãe suficientemente boa, ela representa segurança, um ambiente bom e faz com que a criança possa dar continuidade ao desenvolvimento, fazendo emergir o verdadeiro self (corpo e organização mental), porém Winnicott crê que exista não somente o verdadeiro self mas também o falso, sendo o verdadeiro apenas o eu, a pessoa constituída a partir de suas vivencias, tendências e desejos, onde existe a espontaneidade e realidade do sujeito – surge a partir da mãe suficientemente boa – porém o falso self surgiria da mãe insuficientemente boa, aquela que não identifica-se com as necessidades do filho, ou seja, uma mãe ausente e onde o apego é apenas comum em relação à criança). Já a fase (b) ocorre dos seis meses aos dois anos. Aqui, diferentemente de (a) a criança já não se vê “fundida” à mãe, dá-se conta que existe o lado externo, consegue entender que a mãe comete falhas no amparo e adapta a partir disso. Ela se dá conta de que precisa da mãe para suprir suas necessidades e já desvincula-se da fase anterior da onipotência. Aqui também podemos ver que a mãe já não está mais tão alienada ao bebe, deixa de viver somente para o filho e consegue aos poucos retomar sua rotina anterior a partir de desejos seus e não somente da criança. Vale destacar que quando a mãe não é suficientemente boa poderão haver distúrbios no psiquismo da criança, causando carência, angustia, e a partir da angustia a “ameaça de aniquilação do eu” (despedaçamento, impressão de queda infindável, sentir-se levado para alturas infinitas, ausência de relação com o corpo, ausência de orientação espaço-temporal) – a essência da angústia psicótica. A partir dessa mãe insuficiente também poderá desenvolver-se patologias como esquizofrenia latente (manifesta-se em fases de tensão), estado limítrofe (apresentação neurótica, mas o núcleo do distúrbio é psicótico), personalidade esquizoide, personalidade com base no falso self.
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