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A Cultura da Morte no Candomblé

Por:   •  24/5/2019  •  Pesquisas Acadêmicas  •  4.385 Palavras (18 Páginas)  •  303 Visualizações

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ADRIANA RODRIGUES DOS SANTOS KOGI

ANDRESSA RODRIGUES DOS SANTOS

CLAUDIA JORDANA DA SILVA ALEGRI

ELIZANGELA ZORZIN

EVERALDO DA SILVA RODRIGUES

MARIA DO SOCORRO MARINHO DOS SANTOS PRESTES

TANIA MARA PASSONI FERNANDES

A MORTE NO CANDOMBLÉ

CASCAVEL

2019


ADRIANA RODRIGUES DOS SANTOS KOGI

ANDRESSA RODRIGUES DOS SANTOS

CLAUDIA JORDANA DA SILVA ALEGRI

ELIZANGELA ZORZIN

EVERALDO DA SILVA RODRIGUES

MARIA DO SOCORRO MARINHO DOS SANTOS PRESTES

TANIA MARA PASSONI FERNANDES

A MORTE NO CANDOMBLÉ

CASCAVEL

2019


A MORTE NO CANDOMBLÉ

Conceito de Morte no Candomblé e Mitos

Morrer faz parte do ciclo de existência, é uma mudança de estado, de plano, ao mesmo tempo religioso e vital, que possui início, meio e fim (BANDEIRA, 2010), ao quais todos os seres vivos, bem como o homem, estão fadados. Todo o entendimento da morte passaria então pela forma de como esse mesmo homem vivencia suas experiências e a maneira como ele tem enfrentado esse assunto.  

Segundo Bandeira (2010), o que ocorre com as sociedades de cultura mítica, é que a noção de tempo adquire uma circularidade, ou seja, a vida seria uma eterna repetição do que já aconteceu num passado não muito distante, e o mito é utilizado para dar conta disso.  O que ocorre no Candomblé, por ser uma religião na qual as tradições são transmitidas oralmente de geração em geração, cada palavra proferida é única e os mitos seguem essa dinâmica, assim, muitos conhecimentos se perdem quando da morte de um ancião.

Essa base mitológica está pautada na essência divina do Olorum, considerado o Deus Supremo, o criador de tudo, princípio de pureza e integridade do povo, inacessível ao homem, pois se encontra em repouso num lugar distante, no Orum (céu), o mundo sobrenatural ou espiritual, habitado pelos Orixás (divindades), Exá (ancestrais) e todas as formas de “espíritos”, que servem de intermediários na relação entre os homens e o Deus supremo (MELO, 2014, p.26).

Segundo Barbosa (2006, p.32) deste modo “a veneração e adoração ao Olorum não acontece de forma direta como no catolicismo, por exemplo, mas sim, pela figura dos orixás que são o eixo central no qual gira a vida religiosa no candomblé”. Todavia, a base mitológica abordada pelo Candomblé se corporifica pelo culto aos orixás, que são figuras divinizadas, possuindo atributos ligados à natureza, cultura e sociedade; são representações psicológicas, com características ambíguas, com qualidades e capacidades bem como defeitos, o que os aproximam dos seres humanos.

Os orixás também são concebidos como entidades que viveram no mundo material por algum tempo e realizaram feitos importantes e sagrados, deixando seu legado e sua marca: segredos, encantos, ensinamentos; em seguida, retornam ao Orum (céu dos orixás), constituindo-se assim em objeto de adoração, passado de geração em geração (SILVA, 2011).

Dentro deste contexto mítico, a morte (Iku), é reconhecida como um Orixá, que foi criado pelo Deus supremo para remover as pessoas cujo tempo na Terra terminou. Iku não as mataria, somente as tocaria, e com este toque a pessoa se desligaria deste mundo acordando no outro (BANDEIRA, 2010).

Atualmente são cultuados aqui no Brasil em torno de dezesseis orixás, entre esse número quatro: Obá, Logunedé, Ewa e Irôco, raramente se “manifestam” nas festas e rituais. Neste estudo serão listados somente os que têm estreita ligação com a morte:

Exu: Deus dos caminhos e das encruzilhadas. É representado com o símbolo fálico. Princípio dinâmico da realidade. Sincretismo: foi associado por muitos com o diabo. Comida: cabrito, frango e miúdos. Qualidades: Exú Bará, Alaketu, Lonã e outros. Saudação: laroiê Exu! [...] Omolu: Deus da lepra, “medico dos pobres”. Sincretismo: São Lázaro- São Roque. Comida: deburu (pipoca). Qualidades: Xapanã, Azauane e outros. Saudação: Atotô! Ajuberú. Nanã: Deusa da morte, seu elemento é a lama e a água parada; é o Orixá mais velho. Junto com Oxalá deu vida a Ossanhe, Oxumarê e Omolu. Sincretismo: Nossa Senhora de Santana. Comida: Pipoca. Qualidades: Buruquê. Saudação: Saluba! [...] Iansã: Deusa do fogo, da guerra. Sincretismo: Santa Bárbara. Comida: acarajé. Qualidades: Oyá Balé, Oyá Onira, Oyá Topé. Saudação: Eparrei! [...] Oxalufã: Oxalá velho. Esposo de Iemanjá, pai de toda humanidade. Representa o pombo da paz. Sincretismo: Jesus. Comida: Canjica branca (ebô) e acaçá (feito de farinha de milho e enrolado na folha de bananeira. Saudação: Xeuê, babá! (CORREIA, 2009, p.17).

Segundo Campolim (1995), nenhum “santo” é superior ou inferior a outro dentro do rito, pois não existe o Bem e o Mal, isoladamente, nem pecado, nem condenação, segundo o povo santo, pois o “os mesmos estariam contidos dentro de cada indivíduo e de cada orixá” (BARBOSA, 2006, p.34), seriam parte de sua essência, algo natural e inerente a sua existência, ao passo que os orixás também foram pessoas humanas; deste modo a não existência desses dois polos igualmente, negaria a existência de um ser supremo julgador.

Portanto, segundo Silva (2011, p.68), quando os participantes de qualquer manifestação religiosa prestam culto, devoção e adoração ao seu orixá ou a vários deles, a intenção dos adoradores é tentar aproximar-se o máximo possível das características de seus guias, reproduzindo os gestos, os sentimentos, construindo sua personalidade legitimada pela força e pela importância da entidade a ser copiada. Deste modo o contato do sobrenatural (orixá) com o natural (seguidor) é tão sério no rito, que uma infidelidade ao culto pode gerar doenças, morte, perdas materiais, abandonos afetivos, sofrimento do corpo; e a forma de evitar esses males só se daria através das oferendas e da obediência, fonte de equilíbrio entre ambos.

Segundo Cruz (1995, p. 67), a “identificação com o orixá através da negligência com os sacrifícios de obrigação, da não observância dos resguardos rituais e da falta de etiqueta diante da hierarquia, é colocar-se ao alcance da morte. A morte de um iniciado é assim, uma prova da existência do orixá”. Por isso, no Candomblé,

A vida é pensada nos mínimos detalhes, e de forma concreta no aqui e agora, onde o futuro não existe, pois é o simples retorno do passado ao presente. O axé seria então a dinâmica para o acontecimento atual da vida, é a harmonia. Manter a harmonia com o orixá refletirá na harmonia com o social e consigo mesmo; por isso a relação entre os orixás e seres humanos é vista como algo prático que se dá no presente imediato. A vida atual seria então a única perspectiva do ser humano, que mereceu nascer, para ser feliz e realizar-se, desenvolver-se enquanto pessoa, de forma equilibrada, integrada e harmônica; não havendo deste modo a perspectiva de uma vida melhor após a morte (BARBOSA, 2006, p.37).

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