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A LINGUAGEM E A ESCUTA: UMA ANÁLISE CRÍTICA NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA-EXISTENCIAL

Por:   •  24/4/2019  •  Artigo  •  1.654 Palavras (7 Páginas)  •  215 Visualizações

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FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE – FAFIRE[pic 1]

Curso: Psicologia/ 7º período – Turma “A”

Disciplina: Técnicas Psicoterápicas Fenomenológico-Existencial 

Professor: Hermes de Azevedo

Atividade: Texto crítico com base em entrevista sobre a influência da subjetividade do psicólogo/entrevistador na escuta, intervenção e relação com o cliente, e suas implicações na Psicologia

Aluna: Juliana F. Lombardi

Data: 22/04/2018

Texto crítico

A experiência de ouvir o pensamento de Carlos (entrevistado) sobre a solidão me fez imediatamente construir uma percepção sobre a opinião dele, sobre o que eu acho que ele vivenciou para ter esse olhar sobre o tema. Eu escrevi sobre a solidão num sentido mais existencial, filosófico e social, enquanto ele trouxe uma perspectiva que pressupõe uma “sabedoria” em lidar com a mesma, com uma certa implicação e auto-responsabilidade da pessoa em si com esse fenômeno. Carlos falou na solidão como algo inalienável, enquanto a minha visão não incluiu essa percepção de forma direta, então ouvir a opinião dele me fez ampliar o sentido sobre a mesma palavra/conceito. A sensação é de estarmos falando sobre uma mesma coisa, mas a partir de vivências individuais.

Ambos trouxeram a ideia de que a experiência da solidão pode ser algo positivo ou negativo, a depender da pessoa que a vive. No entanto, eu falei a partir de um enfoque mais “social”, enquanto ele não mencionou isso diretamente. Também senti que existiu uma diferença na experiência da situação a partir do dispositivo usado para discorrer sobre o assunto: enquanto usei a escrita, Carlos usou a fala, e acredito que isso também interferiu diretamente na nossa forma de raciocínio, pois tive tempo para pensar e redigir, enquanto ele falou sem pausar para pensar e/ou refletir. Em mim, ficou uma sensação de que a minha escrita foi mais “bem explicada” do que a fala dele, pois amarrou melhor as palavras e, consequentemente, o raciocínio.

Ao saber a percepção que as outras 2 colegas tiveram sobre a fala de Carlos, percebi que houve algumas ressonâncias entre nós, no entanto, nada numa medida exata. Considerando que as 3 entrevistadoras são pessoas diferentes, ou seja, que todas têm a sua subjetividade e formas de ver o mundo, assim como também o entrevistado, é possível atestar que não existe uma comunicação sem falhas, nem um entendimento completo de uma experiência que não seja a nossa (e, ainda assim, questionável). Todos os envolvidos partiram de suas próprias experiências com o tema para discorrer sobre ele. É a “lente” de cada um que vai moldando o seu mundo interno e externo.

A partir dessa vivência, foi possível refletir sobre a postura e o papel do psicólogo na sua atuação. É imprescindível que o profissional de Psicologia trabalhe as suas próprias questões em psicoterapia, para se conhecer antes mesmo de iniciar os seus atendimentos, pois aquele que evita olhar para si e teme se conhecer a fundo, não pode ser um profissional de confiança. Quanto mais nos conhecemos e entendemos os nossos automatismos, assim como os padrões familiares e sociais que nos atravessam, mais somos capazes de olhar para o outro de forma aberta e com o julgamento “suspenso”, pois ao reconhecer os nossos limites e ressalvas, temos mais chances de respeitar o tempo do outro, seu caminho e escolhas.

Segundo Rollo May (1974, p. 29), “(...) o psicólogo deve continuamente analisar e esclarecer suas próprias pressuposições.” Cabe ao psicólogo ampliar a sua visão sobre o cliente, no sentido de compreender as nuances que lhe atravessam e a sua forma de existir no mundo, para evitar a produção de uma imagem “chapada” do mesmo, pois enquanto seres múltiplos e plurais, possuímos várias camadas. Valdemar (2002) reforça essa ideia quando fala sobre a importância de um dimensionamento contendo o homem e sua historicidade. Quando nos abrirmos totalmente à experiência única do cliente, que reage à vida à sua própria maneira, estamos também evitando uma imposição sobre o outro da nossa própria concepção sobre a vida.

Ser honesto com o processo e com o cliente parte de uma atitude de atenção plena, na medida do possível, sobre as nossas próprias questões, evitando impor ao outro a “melhor” forma de ser e de estar no mundo. Assim, as intervenções têm chances de serem mais pontuais e precisas. A percepção é um instrumento que pode servir muito bem ao psicólogo, mas se utilizado de forma inadequada, é capaz de provocar grandes estragos no processo. A experiência da entrevista deixou isso claro, pois ouvir uma fala dentro de um contexto completamente isolado, nos fez levantar hipóteses que talvez nem existam, além de construirmos imagens sobre o outro que nunca darão conta de sua diversidade.

Valdemar (2002) traz a ideia da mudança no campo perceptivo como premissa para uma “revolução” na vida do indivíduo, pois a partir do momento em que a percepção muda, nada mais será igual. Digamos que é um renascimento simbólico, pois o sujeito não fica mais à mercê dos fatos, mas pode implicar-se neles para inclusive mudá-los. É preciso ir além dos paradigmas para estar em presença autêntica diante do outro, considerando que “(...) paradigma significa (...) um modelo ou um conjunto das formas básicas e dominantes do modo de se compreender o mundo e o modo de uma sociedade (...)” (GUIMARÃES, 1998, p. 1). Assim, determinados paradigmas estimulam a normatização sobre formas de comportamento e do existir. Sendo o ser humano um ser múltiplo e repleto de particularidades, não cabe encaixá-lo em nenhum paradigma pré-estabelecido.

Guimarães (1998) chama a atenção para o fato de estarmos sob o escopo da ciência pós-moderna, que nos faz acreditar que as coisas existem e se relacionam entre si de forma previsível, mecânica e controlável. Partindo do fato de que estamos inseridos nesse contexto, é de extrema importância considerar que somos seres influenciáveis por essas premissas, e enquanto psicólogos, nos cabe questionar o que nos é imposto, criando saídas para acolher o ser humano em sua totalidade, fora das estatísticas e das “certezas” científicas. Devemos cuidar do direito à subjetividade, do livre pensar e sentir, que não segue lógicas matemáticas, mas se expressa de formas diversas.

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