A MOTIVAÇÃO PARA A MUDANÇA EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOB O OLHAR DA PSICOLOGIA
Por: Andressa Costa Obeltz • 27/5/2020 • Artigo • 1.444 Palavras (6 Páginas) • 286 Visualizações
MOTIVAÇÃO PARA A MUDANÇA EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOB O OLHAR DA PSICOLOGIA
TAINÁ SOUZA MARTINS1; JENNIFER SOARES MARTINS; MAIQUEL GORIN2; MARIANE LOPEZ MOLINA3
1Faculdade Anhanguera do Rio Grande – ttaimartins@gmail.com
2Faculdade Anhanguera do Rio Grande – jennifersoares23@yahoo.com ;gorin.psico@gmail.com
3Faculdade Anhanguera do Rio Grande – mariane.molina@educadores.net.br
1. INTRODUÇÃO
O conceito de dependência é a relação que um indivíduo tem com o ato de consumir uma substância psicoativa. Muitas pessoas utilizam de forma prejudicial e, em alguns casos, acaba evoluindo para um quadro de abuso e dependência dessas substâncias. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o uso abusivo de substâncias psicoativas como uma doença crônica e recorrente, o qual, constitui um problema de saúde pública. Apesar de cada substância causar quadros clínicos diferentes, há um plano de tratamento que pode ser comum para a dependência química que contém o objetivo de mudança no estilo de vida. Como forma de intervenção para mudança temos as Comunidades Terapêuticas (CTs), onde no Brasil, em meados de 1978 surgiram as primeiras representando um dos modelos de cuidado a pessoas com transtornos decorrentes do uso de substâncias psicoativas. As Comunidades Terapêuticas promovem a internação e permanência voluntárias, entendidas como uma intervenção que objetiva auxiliar o dependente de substâncias psicoativas (SPA) a reinserir-se e reintegrar-se na sociedade, assumindo suas funções como cidadão, membro de uma família, trabalhador ou estudante (KANTORSKI 2005; ANDRETA & OLIVEIRA, 2011; ZANELLATO, 2013).
Observa-se que os usuários de substâncias psicoativas possuem elevados índices de recaída, independentemente da modalidade e do número de tratamentos a que eles se submetem ao longo da vida. Nesse sentido, a motivação torna-se um dos fatores importantes para o sucesso do tratamento (BITTENCOURT, 2009; ANDRETA & OLIVEIRA, 2011).
Uma das teorias que mais tem contribuído para a compreensão da motivação para o tratamento é a do Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento, desenvolvido por James Prochaska na década de 80, baseado na combinação de ideias que reconhecem o papel central do dependente químico no processo de mudança. O indivíduo transita por cinco estágios de motivação para a mudança de comportamento: Pré-contemplação, Contemplação, Preparação/Determinação, Ação e Manutenção. (ZANELLATO, 2013). O estudo que serviu de base principal para a contrapartida do projeto foi o livro “O tratamento da Dependência Química e as Terapias Cognitivo Comportamentais”, do autor Ronaldo Laranjeira.
Centrado na motivação para a mudança no tratamento da dependência química, o projeto teve por objetivo visar a promoção da autoestima dos residentes em tratamento, de forma a contribuir para melhor qualidade de vida durante e pós tratamento. Sendo assim, o presente trabalho visa apresentar o relato de experiência de uma intervenção realizada em uma CT da cidade de Rio Grande pelas acadêmicas do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera do Rio Grande.
2. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência do estágio básico II em Psicologia, realizado na Comunidade Terapêutica Vida Nova, localizada na zona Rural da cidade de Rio Grande, a qual oferece serviços de tratamento para dependentes químicos. A Instituição conta com diretores, monitores, estagiários, coordenadores, psicólogo e assistentes sociais conveniados.
O trabalho foi desenvolvido entre o período de 26 de abril a 4 de junho de 2019, ministrado por três acadêmicas do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera do Rio Grande, supervisionadas pela professora responsável pelo estágio, bem como pelo psicólogo da CT. O estágio foi dividido em duas etapas: observação e elaboração do projeto, seguido pela aplicação prática do mesmo.
Após redação e aprovação do projeto pelo local, foram realizados 14 encontros, na modalidade grupal, com atividades voltadas para a promoção da autoestima, qualidade de vida, motivação para a mudança e identificação de situações de risco para recaídas dos residentes em tratamento da CT Vida Nova. Nesses encontros, visando atingir os objetivos propostos, foram desenvolvidas atividades como palestras, representações, dinâmicas de grupo, filmes e atividades manuais, bem como, rodas de conversa e trocas de experiências.
As atividades foram desenvolvidas nas dependências da CT e utilizou-se de recursos materiais como papeis ofício, lápis, canetas, tintas, papel pardo, notebooks e objetos quotidianos para a realização das atividades.
Este relato de experiência foi previamente aprovado pelo psicólogo responsável pelas atividades na CT, respeitando o sigilo na identificação das identidades dos residentes.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As atividades foram desenvolvidas em um grupo de 35 residentes, com faixa etária entre 20 a 55 anos, predominância de sujeitos de baixa renda e com baixa escolaridade. A maioria teve seu primeiro contato com drogas ou álcool aos 14 anos de idade, quase todos são reincidentes e buscaram tratamento na CT voluntariamente.
Foi possível observar muitos aspectos acerca da dependência química, tais como: elos que auxiliam no comprometimento para reabilitação e, em contrapartida, aqueles que retroalimentam a recaída, como também o alto índice de reincidência ao tratamento. O estudo sobre os estágios da motivação para a mudança, foi de grande valia para o entendimento da dependência e o seu percurso. Segundo Zanelatto (2013), vários são os fatores que influenciam a busca por tratamento e a sua adesão. Dentre eles destaca-se a motivação do dependente químico como um dos principais critérios que envolvem a procura e a manutenção do tratamento.
Inicialmente, foi possível perceber um certo receio por parte dos residentes ao relatar suas experiências. Mas no decorrer dos encontros foi se estabelecendo o vínculo e a confiança, permitindo uma maior exposição e participação dos mesmos. As atividades levadas tinham o objetivo de desenvolver a autoestima e a interação do grupo, fazendo com que eles se sentissem a vontade. A atividade que mais mobilizou o grupo e promoveu a participação de todos bem como um maior estreitamento de vínculos, foi a realizada no décimo encontro, onde a proposta era a confecção de um cartaz em grupo, um trabalho manual com tinta objetivando trabalhar a criatividade, memória, interação grupal, relaxamento e reflexões. O grupo se inteirou na atividade e todos participaram, riram, brincaram, demonstraram união entre eles. Alguns rapazes do grupo se direcionaram até as estagiárias perguntando se o terceiro e quarto estágio da motivação para a mudança eram tais os quais eles haviam escrito, quando confirmado, suas reações foram muito positivas. Nesse momento percebeu-se o quanto valeu a escolha deste assunto para o estágio, e o quanto estava-se promovendo a motivação.
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