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A Metodologia Psicopatológica

Por:   •  9/6/2023  •  Artigo  •  3.030 Palavras (13 Páginas)  •  72 Visualizações

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METODOLOGIA PSICOPATOLÓGICA

Armando de Oliveira Neto

Estaremos neste momento, relatando um atendimento, onde utilizamos por base os conceitos de psicopatologia em Moreno, que nortearam o manejo da sessão.

Trata-se de uma sessão da paciente E.C., 24 anos, casada, estudante de letras, secretária.

Aquecimento Inespecífico

 

Chega dizendo estar muito nervosa e triste. Nas últimas semanas o marido tem brigado muito com ela, por qualquer motivo; explode com facilidade, age de forma grosseira, grita o que a faz se sentir muito mal.

Aquecimento Específico

Coloca que as brigas tiveram início após a compra do carro. Diz que ele, quando está dirigindo aceita sugestões e comentários de outras pessoas, menos os comentários dela, que muitas vezes procura chamar sua atenção para alguma coisa errada que está fazendo ao volante, “afinal, o carro também  é  seu” (sic). Nesses momentos ele fica agressivo, grita, e fica algum tempo sem conversar com ela. Além disso, ela tem algumas queixas do marido quanto a seu comportamento em casa, quase não tomando iniciativas para consertar, comprar ou arrumar a casa, a maioria das coisas fica por sua conta. No entanto nunca conversou com ele a esse respeito, tudo vai simplesmente acontecendo. Acha-o desligado, incapaz de aceitar críticas e muito nervoso, descontrolado.

Hipótese Diagnóstica

Nesse momento, desenvolvemos a hipótese de que as atitudes dela acabam por provocar esse comportamento dele, e que ela não consegue perceber como está atuando, atribuindo tudo ao outro, ficando na condição de quem sofre as conseqüências. A nosso ver, está apresentando dificuldades na 2º fase da Matriz de Identidade, o Reconhecimento do Eu. Isto fica claro, na medida que, observamos que E.C. consegue perceber claramente a atitude do outro, e como este age (3º fase da Matriz de Identidade) bem como consegue perceber o que esta atitude lhe causa, portanto o que sente (lº fase da Matriz de Identidade), no entanto não tem clareza de sua ação, de como atua e das conseqüências dessa ação não redutivas, portanto não espontânea, não criativa, com as devidas implicações, quer no prisma existencial, quer no sintomático. Pensamos então na utilização de um instrumento que permitisse confirmar ou não essa hipótese, no qual estaríamos utilizando a técnica do espelho.

Dramatização

Escolhemos como instrumento, fazer uma entrevista com o marido, na qual, ela representaria o papel do marido.

Assim, feita a proposta, e aceita por ela, solicitamos que assumisse o papel do marido. Depois de breve aquecimento no papel, demos início à entrevista, priorizando as perguntas em que o marido deveria enfocar o comportamento, as atitudes de E.C. em relação a ele. Portanto, ela, no papel do marido, estaria fazendo o espelho de si própria. Obtivemos os seguinte dados na entrevista: sempre que ele (marido) dirige o carro, ela faz comentários muito grosseiros e autoritários em relação à forma dele dirigir, que a todo momento ela o humilha e rebaixa, colocando uma situação de competição, e isso o irrita muito, especialmente quando isso ocorre diante de outras pessoas, o que faz com freqüência, inclusive em outras situações. O que ocorre quando ele dirige é só uma repetição do que já ocorre em outros momentos. Por isso tem estado tão irritado. Em casa, ela toma a dianteira em quase tudo, diminuindo seu espaço de ação. Tudo isso lhe dá uma raiva, e acaba brigando, especialmente quando quer conversar e ela se cala, não responde e se coloca numa posição de vítima.

Confirma a hipótese, e utilizada a técnica do espelho, encaminhamos a entrevista para o encerramento, retornando E.C. a seu próprio papel.

Comentários

E.C. pensa um pouco, fala que não havia percebido, até então, claramente suas atitudes em relação ao marido, que realmente, em muitas situações deve ter sido autoritária e agressiva. Especialmente depois da compra do carro, ficou muito impaciente, pois se acha muito melhor motorista, e não consegue apoiá-lo, mas só cobrá-lo. Sempre soube que ele não gosta de comentários diante de outras pessoas, mas acaba nunca respeitando esse desejo seu. Nunca havia pensado em impor, mandar, competir. Quanto às conversas que ele procura ter com ela, diz que, especialmente quando ele estava nervoso, nunca sabe o que fazer na hora, por isso não responde, tem vontade de chorar. Acredita que deve refletir mais sobre suas atitudes com o marido, revê-las, pois nunca tinha tido esta percepção. Durante os comentários o terapeuta assinalou questões como: o desrespeito a alguns limites do marido, o fato dela inferiorizá-lo, de sempre procurar provocá-lo à uma atitude mais agressiva, com a qual depois não sabe lidar, ficando com a impressão de que a intransigência é só dele.

Nesse exemplo, como já mencionamos, através da utilização da técnica do espelho, foi possível à paciente perceber-se atuando, como agente de seu DRAMA, e o que esta atuação provoca no outro. Agora será possível a ela, refletir sobre sua ação, entendê-la e optar com mais clareza pela ação que deseja adotar. Trabalhamos então, buscando a REMATRIZAÇÃO.

APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO

k., 39 anos, branco, solteiro, grego, projetista industrial. Iniciou psicoterapia há aproximadamente 2 meses, pois queixava-se de angústia acentuada, dificuldades para comer e dormir, com suores por todo o corpo, tremores e dores abdominais. Associa a situação de difícil manejo pois, considerando-se uma pessoa quieta, de pouca vida social, tímido retraído, vive um relacionamento homossexual com  companheiro de 23 anos, psicólogo, de intensa vida social, alegre, envolvente e que tem inúmeros relacionamentos sexuais públicos que os nomeia de progressistas. Não há antecedentes psiquiátricos de qualquer natureza. A seguir relataremos uma sessão em particular.

Aquecimento inespecífico

K. queixa-se de intensificação das dores abdominais.

Aquecimento específico

K. descreve com pormenores seu desconforto físico.

Dramatização

Propomos a K. que construa o seu segmento abdominal envolvido na queixa. O recurso utilizado são as almofadas, visto ser psicoterapia bi-pessoal, confecciona o que lhe representa ser as paredes do intestino, dispondo-as em duas fileiras, e na luz deste coloca outra almofada que forma o bolo fecal. Propomo-lhe que fique no lugar do bolo e K., agora K.-bolo, diz ser algo duro, imóvel e que estaria machucando as paredes do intestino. Pedimo-lhe que troque de lugar com algumas almofadas que representam as paredes intestinais. No lugar destas confirma a intensa situação de desconforto e dor. Chama a atenção o ritmo lento que K. imprime a todo movimento, contrastando com a aceleração de seu discurso verbal. Perguntamo-lhe o que esta situação se lhe aparece, e após alguns instantes, espontaneamente, associa com o seu relacionamento afetivo. Imediatamente sugiro-lhe que aja como melhor lhe parecer. Lentamente K., K.-intestino, inicia uma movimentação rítmica e espasmódica até a expulsão do bolo, seguido de um cansaço intenso. Findamos a dramatização.

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