A Orientação Vocacional Ocupacional
Por: Psicóloga Aline Vicente • 8/10/2022 • Resenha • 1.950 Palavras (8 Páginas) • 267 Visualizações
CRESTANI, Regina Anzolch. Orientação Profissional na escola privada. In: LEVENFUS, Rosane Schotgues; SOARES, Dulce Helena Penna et al. Orientação vocacional ocupacional. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. Cap. 4. p. 57-64.
Resenha Critica
A autora inicia o capítulo relatando que, em virtude de sua participação no VIII Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional Ocupacional, ocorrido em 2007, realizou uma pesquisa com 52 escolas da rede particular de ensino médio do Estado do Rio Grande do Sul. O questionário contemplava as seguintes perguntas: “A escola disponibiliza Orientação Profissional a seus alunos?”; “Há quanto tempo existe esse serviço?”; “Em qual série pé ofertado esse serviço?”; “A atividade é curricular ou extracurricular?”; “Qual a metodologia utilizada no trabalho de Orientação Profissional”. Constatou-se com a pesquisa que dentre as 52 escolas participantes, 15 oferecem o trabalho de Orientação Profissional – 6 delas disponibilizam no modelo curricular e 9 no extracurricular - e 7 não, sendo que 30 delas optaram por não responder o questionário. 80% das escolas realizavam suas atividades com base no autoconhecimento, sendo o corpo profissional formado por psicólogos e orientadores educacionais.
Crestani (2010) ressalta a importância de trabalhar a OP nas escolas de maneira curricular. O desempenho escolar dos alunos deve caminhar concomitante ao processo de escolha profissional, no entanto, as instituições em sua totalidade adquiriram um olhar mais apurado apenas aos alunos que se sobressaem perante toda a turma – os que têm as melhores notas ou aqueles com maiores dificuldades – ignorando aqueles que a autora denomina medianos.
Para compreender melhor essa posição da escola, a autora realizou um estudo buscando levantar os motivos pelos quais os estudantes se conformavam com a posição de medianos, sem buscar um melhor desenvolvimento cognitivo e escolar. 46 alunos do 2º ano do EM, de ambos os sexos, entre 15 e 16 anos, participaram do estudo. Foi constatado que aproximadamente 83% dos estudantes escolheram determinada instituição pela qualidade na preparação para o vestibular; 58% dos alunos ainda não estavam decididos quanto à sua escolha profissional, resultando na acomodação e falta de interesse em melhorar seu desenvolvimento cognitivo e escolar; e ainda, 63% dos alunos relataram acreditar que atingir a média mínima exigida pela escola é suficiente para garantir aprovação nas provas de vestibular. Posteriormente a autora traz à discussão Paulo Freire e a obra Educação como prática da liberdade. Baseando-se em Freire, Crestani (2010) afirma que a partir da década de 1960 o país vem sofrendo constante mudança no cenário social. Ela caracteriza nossa sociedade como alienada, fechada, antidemocrática, antidialogal e com alto índice de analfabetismo, que volta-se à uma elite e consequentemente exclui parte dos Brasileiros. Dito isso, Paulo Freire apresentou sua metodologia com o objetivo de erradicar a exclusão social. O diálogo nessa perspectiva é posto como palavra de ordem, assim como a construção de uma consciência crítica, ou seja, o conhecimento acerca da realidade do mundo em que vivemos. Quanto ao processo educativo, Freire afirma que este não se caracteriza apenas pelo viés da transmissão de conhecimento, mas sim a participação ativa e consciente dos estudantes, o caráter desafiador, provocador juntamente com a compreensão real das situações vivenciadas pelo sujeito, bem como as significações dadas por ele ao longo de sua vida.
Nessa perspectiva, as escolas, sejam elas públicas ou privadas, têm a incumbência de tornar os estudantes capazes de se desenvolver, fazer inferências, julgamentos, comparações, raciocínios e deduções afim de que construam sua identidade e personalidade. A autora discute ainda o conceito de estudo e suas implicações, afirma que este significa muito mais do que apenas sentar e ouvir, abarca uma compreensão dinâmica e que exige esforço, é uma “ação transformadora, libertadora e construtora de uma nova realidade” (CRESTANI, 2010).
Um modelo de OP no ensino médio é trago no capítulo. A metodologia basicamente compreende o atendimento individual e/ou coletivo dos alunos visando a conscientização da importância do processo de escolha profissional. Para Crestani (2010), a orientação se destina aos estudantes do 2º e 3º ano do Ensino Médio, onde são ofertadas palestras para os pais afim de apresentar o projeto de OP, estendendo o trabalho também aos familiares que assim como a escola são figuras responsáveis pelo processo de escolha profissional dos alunos; palestras para os estudantes, ambiente onde será conversado sobre OP, escolha, vestibular, mercado de trabalho etc.; dinâmicas de grupo são propostas com o objetivo de sensibilizar, instigar e promover o autoconhecimento, o reconhecimento da identidade pessoal, e a apresentação de si ao outro; técnicas informativas como DVDs, idas à campo, laboratórios, locais fora da sala de aula; feira das profissões como recurso para que os adolescentes tenham contato com as ocupações que desejam seguir futuramente; e finalmente a devolutiva, o feedback individual promovendo a reflexão dos alunos acerca das suas vontades, interesses, e motivação voltados ao âmbito profissional, para que então possam fazer suas escolhas. Conclui-se então que a Orientação Profissional compreende um processo em que o aluno ocupa o lugar de agente de mudança, o protagonismo, construindo uma sociedade mais “ética, justa e humana” (CRESTANI, 2010).
Critica do Resenhista
A autora relata no capítulo que os números de transferência e evasão nos cursos de graduação são elevados. Penso que durante o ensino médio, adolescentes com geralmente 16/17 anos ainda não possuem maturidade para decidir a ocupação profissional que desejam seguir. A adolescência é caracterizada por um período de muitas dúvidas e mudanças físicas, sociais, psicológicas e emocionais, assim como a busca por uma identidade e autoafirmação de si. Confrontos, questionamentos, procura por novas experiências, saciedade dos desejos sexuais e também o descobrimento sexual são acontecimentos desse estágio da vida humana. Voltando-se ao âmbito profissional, a melhor maneira de contribuir para a escolha da profissão e o processo de autoconhecimento é a oferta de Orientação Profissional nas escolas, compreendendo cada estudante dentro de sua singularidade, subjetividade e limitações, compreendendo que o adolescente pode ou não estar preparado para o mercado trabalho, assim como optar ou não por prestar vestibulares, concursos e saber qual a ocupação profissional que quer seguir. Para evitar essas transferências e evasões nos cursos de graduação, saliento a importância do engajamento da escola no processo de escolha profissional. Muitas vezes o que falta aos alunos é motivação, empenho, vontade de estudar e fazer a diferença na sua comunidade, dessa forma a escola tem papel fundamental tendo a responsabilidade de criar projetos, propor atividades de OP envolventes e prazerosas que instigam no educando a vontade de ser agente de mudança, sujeito ativo e transformador. Ao resenhar sobre o capítulo em questão, me veio em mente o conceito de Construtivismo, um modo de conceber o conhecimento entendendo que nada está pronto, acabado, mas que o conhecimento e aprendizado se constituem a partir das relações sociais, da interação do indivíduo com o meio físico e social. Nesse sentido, trago à luz a dicotomia entre educação bancária e a educação transformadora, propostas por Paulo Freire. Na primeira, encontramos um sistema educacional que transmite o conhecimento de forma repetitiva através da diferenciação entre professor e aluno, transformando a consciência em pensar mecânico, inibindo no educando a possibilidade de criação, construção de pensamento crítico, desenvolvimento de criatividade e aprender de acordo com a realidade vivida por cada sujeito em seu contexto, valorizando apenas os resultados, números e aprovações. Domesticada. Conservadora. Na segunda, havendo espaço para o intercâmbio de conhecimento entre educador e educando, presença diálogo, autonomia, onde passamos a ser sujeitos de nossa própria história. Uma educação libertadora. Revolucionária. Caminhando juntamente com a compreensão do Construtivismo, onde a educação e o processo de aprendizagem devem ser de construção individual, pois, cada aluno tem seu tempo e espaço e deve trabalhar da forma que mais lhe deixa confortável. Professor e aluno devem manter uma relação de complementariedade e não soberania, o educador deve instigar no educando a busca pela autonomia e liberdade de expressão, assim como a evolução do pensar que o faça ter senso crítico.
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