A Religião e o Uso de Drogas
Por: iana.mg • 10/6/2019 • Dissertação • 1.075 Palavras (5 Páginas) • 168 Visualizações
Por muito tempo drogas como maconha, coca e alucinógenos eram utilizadas em diversas regiões do mundo em práticas religiosas. No entanto, durante a Idade Média a Igreja Católica condenou o uso de drogas para espairecimento e associou a sua prática a rituais de bruxaria. Já na América Latina, o catolicismo proibiu juntamente as autoridades espanholas o cultivo e o uso das folhas de coca na Bolívia e no Peru, mesmo que o cultivo sendo considerado como uma cultura ancestral das comunidades andinas. Em 1912, representantes de doze países se reuniram em Haia para assinar o primeiro acordo internacional que regulamentava o comercio de drogas, essa reunião ficou conhecida como Convenção Internacional do Ópio (NASSIF, 2012). Na atualidade, a liberação da maconha no Uruguai e em alguns lugares dos Estados Unidos, reavivou a questão do uso das drogas no mundo e, com ela, veio o debate do papel da religião no controle da dependência química na sociedade.
Na atualidade, conflitos envolvendo o uso de drogas tornou-se polêmico, já que ela debate diversas visões de valores, mundo e normatividades. O que hoje pode ser considerado um “problema” social constitui-se assim devido aos diversos fatores que se interligam de maneira complexa, mesmo que pareça surgir de um único aspecto. Para o doutor em ciências sociais Mauricio Fiore (2007) “medicalização, criminalização, moralismo, xenofobia, economia, controle político e etc.” são demandas que instauram o “problema das drogas” na sociedade contemporânea. Pode-se considerar que o “problema das drogas” foi historicamente constituído através de um extenso percurso de combate aos falsos ídolos, de medicalização das substancias de modo geral e da individualização da saúde3. Ao longo desse percurso, o chamado “usuário de drogas”, é considerado um dos principais problemas causado pelo uso. De acordo com a mestra em educação Gilberta Acselrad (2015) “desqualifica-se a pessoa como sujeito de sua história, de suas escolhas. Afinal, a droga é apresentada quase como um vírus contra o qual a ‘vacina’ da proibição e da repressão surge como a única solução”
Os grupos religiosos diante do “problema das drogas” se colocam como forma de cuidado com a integridade e com a saúde de seus aderentes tanto no quesito espiritual quanto no social e no psicológico. Dessa forma, são responsáveis pela atuação nas camadas públicas em nome do bem-estar social, que são pautadas e fundamentadas em suas filosofias e entendimento religioso-espiritual. Nesse contexto, muitos grupos religiosos promovem intervenções e assistências para dependentes de psicoativos com a finalidade de ajuda-los a sair de um contexto tido como problemático. De acordo com pesquisas realizadas por Solange Nappo, doutora em ciência, e Zila Sanchez, professora de medicina, (2008), “dentre as técnicas de ‘tratamento’ comuns nos grupos religiosos foram relatadas: oração, conscientização da vida após a morte e a fé como promotora de qualidade de vida” . Esses tratamentos “espirituais” são métodos predominantes não apenas em igrejas católicas e evangélicas, mas também nos centros espiritas e em outras instituições religiosas.
As noções compartilhadas entre as camadas religiosas de manter a sobriedade e corpo sadio, também levam a marginalização de pessoas que fazem uso de psicoativos. De acordo, com os entendimentos sobre sua composição química desvirtuariam o corpo do indivíduo visto como algo sagrado que pertence ao divino. Entretanto, não apenas o corpo por carregar a alma da pessoa que ressuscitará, mas segundo a visão que é predominante cristã, há o perigo da própria condenação da alma e punição posteriores, como pensa Henrique Carneiro (2008):
O modelo psíquico moderno constituiu-se historicamente. Uma centralização religiosa em torno à imagem nuclear de uma divindade atômica, mas tripartite, como monoteísmo, equivalia a uma nuclearização da alma tornada única e imperecível, sujeita a condenações ou salvações perpétuas e ligada sempre a um único corpo, perecível, mas passível de ressurreição.
(CARNEIRO, 2008, p.71)
Segundo uma pesquisa realizada por Solange Nappo e Zila Sanchez a religiosidade da pessoa e de sua família era a maior diferença entre os jovens usuários e não-usuários de drogas psicotrópicas, e classe socioeconômica baixa. Estudo qualitativo no Brasil identificou que a maior diferença entre adolescentes usuários e não-usuários de drogas psicotrópicas, de classe socioeconômica baixa, era a sua religiosidade e a de sua família. Por conta disso, entende-se que a religiosidade, sem especificar religião, facilita a recuperação dos dependentes de drogas contribuindo para a diminuição dos índices de recaídas dos pacientes .
O principal
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