A Teoria de Bender
Por: charlesdias • 20/10/2015 • Dissertação • 932 Palavras (4 Páginas) • 217 Visualizações
Sabe-se que, se torna de suma importância a averiguação das mais diversas habilidades que podem estar comprometidas em disléxicos.
A importância de se investigar as múltiplas habilidades que podem estar comprometidas em disléxicos tem levado à escolha do Teste Gestáltico Visomotor de Bender como instrumento de avaliação do aspecto percepto-motor. Sua nova versão americana – Bender Gestalt II (Brannigan & Decker, 2003) – conta com estudos de validade que foram realizados com população clínica, entre os quais o de distúrbios de leitura, com 185 indivíduos, de ambos os sexos, em idades de 6 anos e meio a 19 anos e meio. Os desempenhos dos disléxicos foram inferiores ao grupo de referência, tanto na tarefa de cópia quanto na de memória. Num estudo de avaliação interdisciplinar da dislexia de desenvolvimento, proposto por Pestun, Ciasca e Gonçalves (2002), o Bender também aparece como instrumento utilizado na bateria de testes selecionados pela equipe, em sua versão de correção pelo método de Clawson. Esse estudo se propôs a avaliar um caso de criança disléxica, reunindo informações médicas, neuropsicológicas e pedagógicas. No caso, o escore do Bender apresentou-se com nível maturacional abaixo do esperado para a idade cronológica da criança estudada. Os dados obtidos permitiram concluir que o caso em questão apresentava a chamada dislexia mista, com comprometimentos tanto no processamento fonológico quanto no processamento visual envolvidos no ato de ler. O Teste de Bender, em suas versões mais comuns de correção (Koppitz, 1989; Clawson, 1982) foi usado clinicamente no Brasil até recentemente, quando nos anos de 2001 e 2003 o Conselho Federal de Psicologia (CFP) baixou resoluções relacionadas à utilização de instrumentos de avaliação psicológica, requerendo estudos de validação e precisão para a realidade brasileira. Reconhecendo que este teste tem um histórico que lhe garante um lugar de destaque em avaliação psicológica de crianças, Sisto, Noronha e Santos (2005) realizaram um estudo com o Bender, propondo um sistema de pontuação gradual para o critério específico de distorção da forma. Seu uso está previsto para crianças de idades entre 6 e 10 anos, podendo ser aplicado coletiva ou individualmente. Com o uso de aplicação coletiva desse sistema, Suehiro e Santos (2005) se propuseram a investigar o desempenho de 287 alunos de 2ªs. e 3ªs. séries do ensino fundamental (atualmente 3º e 4º ano do ensino básico). Os resultados obtidos indicaram a existência de diferenças significativas no desempenho de crianças diagnosticadas como portadoras de dificuldades de aprendizagem, classificadas nas categorias previstas na Escala de Avaliação de Dificuldades na Aprendizagem da Escrita (ADAPE), de Sisto (2001). Assim, crianças com dificuldades de aprendizagem leve, média e acentuada apresentaram mais erros de distorção de forma do que as sem indícios de dificuldades de aprendizagem, tendo alcançado a média de erros de 8,20 no Bender-Sistema de Pontuação Gradual. As autoras recomendam que outras pesquisas sejam realizadas, visando à ampliação do conhecimento sobre a sensibilidade do sistema para avaliação dessa população. Com base em pesquisas feitas com profissionais que atuam em neuropsicologia nos Estados Unidos, Lacks (1999) afirma que o Bender é um dos testes mais utilizados na prática neuropsicológica (o quarto mais usado), visto ser a habilidade percepto-motora uma das funções cognitivas. Em seu trabalho de revisão do uso do Bender, Lacks (1999) propõe um sistema de avaliação para ser usado como um screening, ou seja, como uma investigação inicial de disfunção cerebral. Na adaptação feita por Lacks (1999), os doze fatores discriminativos de danos cerebrais fazem parte da lista proposta por Hutt e Briskin em 1960, que se agrupavam originalmente em cinco categorias mais amplas, ou seja, organização (incluindo colisão), tamanho (incluindo coesão), mudanças na forma da gestalt (incluindo dificuldade em fechamento e em angulação), distorção da gestalt (incluindo rotação, regressão, simplificação, fragmentação, dificuldade em sobreposição e perseveração), movimento e desenho (incluindo falta de coordenação motora). O erro denominado impotência não estava incluído nas cinco categorias. Utilizando esse novo sistema, a autora descreve estudos com a população focalizada por ela, especialmente com pacientes adultos psiquiátricos, adultos sem história clínica de doença mental e, também, com pessoas idosas. Estudos com adolescentes de 12 a 16 anos, valendo-se de comparação entre as pontuações dos sistemas Lacks e Koppitz, foram efetuados por McIntosh e cols., em 1988, e são citados por Lacks (1999), mostrando um índice de correlação significativa entre ambos (r=0,71). Os indicadores de consistência interna de ambos os sistemas foram considerados excelentes (Koppitz com r = 0,97 e Lacks com r = 0, 93). Segundo Lacks, a adolescência é uma fase para a qual ainda não havia estudos de validade para o Bender. Os estudos de Koppitz comportavam até a idade de 11 anos e os de Lacks começavam com 18 anos. As contribuições de McIntosh foram, portanto, não apenas de alimentar com dados esta faixa etária, mas de trazer à reflexão se o desenvolvimento percepto-motor teria seu platô após os 11 anos de idade e se o sistema Lacks seria sensível à detecção de sinais de disfunção cerebral também nesta fase de desenvolvimento. O decréscimo de erros com o aumento da idade não ficou evidenciado nesse estudo. Partindo do pressuposto que na dislexia há aspectos maturacionais disfuncionais referentes à percepção visoespacial, a presente pesquisa foi proposta para comparar os resultados obtidos por crianças e adolescentes que possuem diagnóstico de Transtorno da Leitura, comparando-se os resultados no Teste de Bender, de acordo com os sistemas B-SPG e com Lacks, correlacionando-se os dois sistemas de pontuação. Análises da freqüência de pontuações nas várias figuras nos dois sistemas de pontuação, bem como das comparações entre as médias do grupo normativo do BSPG e do grupo de disléxicos foram focos de discussão nesta pesquisa.
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