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A VENDA DE CADÁVERES

Por:   •  14/9/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.119 Palavras (5 Páginas)  •  194 Visualizações

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CAPÍTULO IV - A VENDA DE CADÁVERES

“Holocausto Brasileiro” trata-se de um livro lançado em 2013 escrito pela jornalista Daniela Arbex com a ajuda dos relatos dos ex-funcionários e de pessoas que de alguma forma estiverem ligadas ao maior hospital psiquiátrico do país, o Hospital Colônia de Barbacena.

O capítulo IV elaborado por Daniela retrata a venda dos cadáveres da Colônia de Barbacena. O mesmo foi escrito com a ajuda de um professor que presenciou o conhecido comércio da morte. Este, inicia seu relato na década de 1970, onde próximo à escola de farmácia e odontologia, viu duas moças que passavam em frente ao portão da faculdade colocando a mão no nariz, numa evidente demonstração de repugnância. A atitude das jovens chamou sua atenção, e ao se aproximar, se deparou com 30 corpos esparramados de uma forma desumana pelo chão do pátio. Tais corpos haviam sido deixados no local por cerca de R$ 1 milhão cada, R$ 364 nos dias atuais. Uma cena nada comum ao professor, já havia sido repetida por diversas vezes em diversas faculdades do país entre 1969 e 1980, para onde outros 1.823 outros corpos foram vendidos.

A partir de 1960 o tráfico de corpos tomou força e se tornou frequente devido a disponibilidade dos corpos já que as péssimas condições de higiene e atendimento provocara mortes em massa na Colônia, onde registros contabilizam 16 mortes por dia acabou alimentando a indústria da morte. Em uma década, o comércio da morte atingiu quase R$ 600 mil. As condições em que os corpos se encontravam eram percebidas pelos estudantes das universidades, onde era comum a presença de tuberculose nos pulmões, além da aparência descuidada. Ao passo que as faculdades de medicina perdiam o interesse na compra dos mesmos, estes eram decompostos em ácido, ali mesmo na Colônia, na frente dos pacientes, dentro de tonéis que ficavam no pátio, a fim de que as ossadas pudessem ser mais tarde comercializadas.

O processo da Reforma Psiquiátrica no Brasil passou por uma fase promissora na década de 90 com a realização da II Conferência Nacional de Saúde mental. Tratava-se de um movimento social envolvendo gestores, técnicos, familiares, usuários, funcionários dos hospitais psiquiátricos, com o objetivo de reverter o modelo manicomial que mantinha os indivíduos excluídos da sociedade (Souza, 2000). Com o decreto da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, que visa proteger os direitos humanos das pessoas portadoras de transtornos mentais, além de redirecionar o modelo de assistência em saúde mental, o Brasil passa estar entre os países a qual a legislação está pautada nas diretrizes da OMS – Organização Mundial da Saúde. Tal feito garantiu que essas pessoas, os “socialmente mudos”, passassem a possuir alguns direitos; ainda, regulamenta as internações voluntárias (Alves, 2011).

O movimento que visava a “abolição da escravidão dos doentes mentais”, a reinserção dos pacientes na sociedade e principalmente a humanização dos tratamentos de fato ganhou a opinião pública. De modo geral, é visível a presença do conceito da Reforma Psiquiátrica nos relatos emocionantes e empáticos do professor Ivanzir, onde o mesmo dispõe de toda a sua experiência para contribuir com o movimento de transformação do saber e do tratamento, marcado pela defesa dos direitos humanos e de resgate da cidadania dos que carregam transtornos mentais e são incapazes de lutar sozinhos. O hospital teve sua última cela desativada em 1994.

Pressupostos que acompanharam a Reforma compreende que o homem que perde seus direitos corre o risco de não ser homem. Ainda, o homem tem direito à vida e a morte, portanto não deve aguentar qualquer atentado à sua dignidade, à sua integridade física e à sua liberdade (Souza, 2000). Mais de 60 mil mulheres, homens e crianças tiveram seus direitos à vida, à morte, à dignidade e integridade física violados todos os dias, e mais que isso, seus corpos foram deixados em pátios com objetivos mercadológicos. Morriam de frio, de fome, de doença, de choque, de invisibilidade. Tantos, que somavam pilhas de cadáveres. Corpos desnudos, em posições grotescas, sem o mínimo de dignidade, expostos a quem passasse pelo local. Eram vendidos, sem que ninguém questionasse, sem que suas famílias autorizassem, e quando não mais se interessavam por seus corpos, pois já haviam comprado tantos que não sobrava lugar para novos, eram decompostos em ácido e comercializados. Lucro atropelando os direitos humanos.

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