A atenção como função psicológica superior e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade pela visão da Psicologia Histórico-Cultural
Por: npnnt • 12/2/2023 • Trabalho acadêmico • 3.452 Palavras (14 Páginas) • 70 Visualizações
A atenção como função psicológica superior e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade pela visão da Psicologia Histórico-Cultural
Introdução
Este trabalho tem como objetivo principal analisar o desenvolvimento das funções psicológicas superiores a partir de sua interfuncionalidade, destacando as características do desenvolvimento da atenção voluntária. A teoria tomada como base para este trabalho é a Psicologia Histórico-Cultural, desenvolvida no início do século XX por L.S Vygotsky (1896-1934) junto com seus colaboradores A.R Luria (1902-1979) e A.N Leontiev (1903-1977). Para tal, a dissertação aqui exposta proporciona um vínculo entre o estudo do desenvolvimento das funções psicológicas superiores, elaborado por Vygotsky, com os estudos de Luria no campo da neuropsicologia. Este trabalho também propõe expor a respeito de como se dá o desenvolvimento da atenção voluntária na abordagem da Psicologia Histórico-Cultural, tendo como objetivo possibilitar um novo entendimento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Entendimento este que vai de encontro aos princípios hegemônicos relativos ao problema, visto como resultado de desajustes no organismo do sujeito.
Desenvolvimento
2.1 A atenção vista pela abordagem Histórico-Cultural
Faremos uma breve análise em relação às pesquisas de Vygotsky que esclareceram como as funções psicológicas superiores são afetadas pela fala e uso de instrumentos. Os estudos de Kohler sobre o campo sensorial em macacos antropóides trouxeram evidências de que os animais não-humanos não possuem capacidade de modificar o seu campo sensorial através de um esforço voluntário, explicitando dessa forma uma diferença entre as funções psicológicas de animais e seres humanos.
A atenção leva o primeiro lugar dentre as grandes funções da estrutura psicológica que embasam o uso de instrumentos. Muitos estudiosos, incluindo Kohler, notaram que um determinante essencial do sucesso ou fracasso de atividades práticas é a habilidade de focalizar a própria atenção. Entretanto, a diferença entre a inteligência prática das crianças e dos animais é que as crianças, são capazes de reconstituir a sua percepção, e assim, deslocar-se de uma determinada estrutura do campo perceptivo. Com o auxílio da função indicativa das palavras, a criança começa a dominar sua atenção, criando centros estruturais novos dentro da situação percebida. A criança avalia a importância relativa desses elementos, destacando, do fundo, “figuras” novas, ampliando assim as possibilidades do controle de suas atividades.
Além disso, com o auxílio da fala a criança também cria um campo temporal tão perceptivo e real quanto o visual. Portanto, a criança que fala tem a capacidade de dirigir sua atenção dinamicamente. Ela pode perceber mudanças na sua situação imediata do ponto de vista de suas atividades passadas, e pode agir no presente com a perspectiva do futuro.
Assim, o campo de atenção abrange uma totalidade das sessões de campos perceptivos que formam estruturas dinâmicas e sucessivas ao longo tempo. Portanto, podemos concluir que a atenção é a capacidade de selecionar um estímulo e focalizar as operações psicológicas sobre o mesmo, utilizando somente as informações necessárias para tal, a partir da seleção dos estímulos que afetam a percepção.
Há 2 grupos de fatores que determinam o mecanismo de funcionamento da atenção do homem: a estrutura dos estímulos externos e os fatores referentes à atividade do próprio sujeito. O primeiro grupo é mais relativo aos fatores da estrutura da percepção e a intensidade da força do estímulo, assim como a novidade do estímulo. Já o segundo grupo é mais relativo ao próprio sujeito e a estrutura de sua atividade, assim como suas necessidades, interesses e objetivos. Para que ocorra a internalização, isto é, a mudança do meio inter para o intrapsicológico, de uma função superior, é necessário que haja mediação. O desenvolvimento da atenção, é considerado um processo puramente orgânico “de crescimento, maturação e desenvolvimento dos aparatos nervosos e das funções da criança” (Vygotski, 1931/2000c, p. 214). Vigotski explica que este processo de maturação é fundamental no primeiro ano de vida da criança e não para ao longo da infância, nem na vida adulta. Porém, conforme ocorre o desenvolvimento, o processo passa a ser dirigido por fatores socioculturais. A fase mais primitiva será superada e fases mais complexas serão incorporadas de acordo com o ambiente sociocultural do indivíduo e suas demandas e disponibilidades. Podemos esclarecer este processo com a explicação do texto de Hilusca:
A forma mais elementar de manifestação da atenção é chamada atenção involuntária. Esta é considerada um fenômeno natural e tem, em sua base, a ocorrência do reflexo orientado e da ativação de respostas a determinados estímulos novos, que se extinguem paulatinamente na medida em que ocorre a adaptação. Corresponde aos casos em que a atenção do homem é atraída por estímulos fortes, novos ou interessantes (que estejam de acordo com as necessidades) (Luria, 1979a). Na atenção involuntária, além das reações de orientação ocorridas mediante a apresentação de estímulos atrativos, como sons e cores diferenciados, é também possível medir, no bebê, mudanças no ritmo respiratório, constrição dos vasos sanguíneos periféricos e dilatação dos vasos sanguíneos da cabeça (Luria, 1979b). Contudo, a atenção involuntária não é capaz de organizar o comportamento do sujeito. É responsável por despertar o interesse para algo, mas não se mantém por muito tempo. Vigotski e Luria (1930/1996b) observam que, caso existisse apenas a atenção involuntária, em longo prazo, não seria possível construir uma forma estável de comportamento, visto que, a cada novo estímulo, seria necessário reorganizar a conduta. E salientam, ainda, que, em tais condições, a existência apenas da atenção involuntária somente satisfaz o organismo quando este se encontra fora das exigências sociais, da cultura, do trabalho, do coletivo; pois, quando o indivíduo está inserido em um contexto que exige o desempenho de tarefas organizadas, há a necessidade da existência de formas mais estáveis de atenção. (Leite, H. A)
2.2 O olhar da neuropsicologia sobre a atenção
A atenção é um processo neuropsicológico complexo que tem a função de auxiliar a atividade mental filtrando estímulos mais importantes,
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