A espiritualidade em cuidados paliativos
Por: artur.almeida • 10/4/2019 • Artigo • 2.413 Palavras (10 Páginas) • 153 Visualizações
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A ESPIRITUALIDADE EM CUIDADOS PALIATIVOS SOB A VISÃO DA PSICOLOGIA
Artur Alves Almeida[1]
Resumo:
Este artigo tem por objetivo tratar da espiritualidade no contexto dos cuidados paliativos e como a mesma pode auxiliar na qualidade de vida de pessoas que estão sob cuidados, trazendo uma visão da psicologia sobre a espiritualidade, articulando os conceitos sobre atribuição de sentidos.
Palavras-chaves: Cuidados Paliativos. Espiritualidade. Psicologia.
1 INTRODUÇÃO
A motivação em tratar da espiritualidade em cuidados paliativos surgiu antes mesmo da escrita desse artigo, quando desenvolvia uma pesquisa acadêmica para o curso de Psicologia da PUC Minas entre fevereiro e novembro de 2016. A referida pesquisa tinha como tema A assistência psicológica nos cuidados paliativos, e foi feita por cinco acadêmicos de psicologia juntamente a um professor orientador. Foram realizadas sete entrevistas com psicólogas hospitalares/paliativistas de alguns hospitais públicos e privados da Região Metropolitana de Belo Horizonte, escolhidos aleatoriamente. Para a captação dos dados trabalhamos com a técnica da entrevista semiestruturada.
O roteiro da entrevista não continha nenhuma questão relacionada diretamente à espiritualidade dentro dos cuidados paliativos, o que nos causou certa surpresa nas respostas encontradas, pois em sua maioria, apresentavam falas sobre a importância de se trabalhar o espiritual com o sujeito em tratamento. Na percepção das psicólogas, a espiritualidade é uma forma de suportar a dor psíquica, sendo de extrema importância a não desconstrução da mesma, pois ela ajuda os sujeitos sob cuidados paliativos a lidarem com as angústias de sua existência e a finitude da mesma. Tratar de fé, crenças e espiritualidade durante o processo pode melhorar a qualidade de vida para se ter um tratamento ou uma morte mais suave.
A confrontação do sujeito entre vida e morte, e saúde e doença, relacionados à fé e à espiritualidade do mesmo e as suas significações traz a questão: como a espiritualidade contribui na qualidade de vida do paciente submetido a cuidados paliativos?
Neste artigo foram apresentados embasamentos teóricos para a resposta da pergunta descrita acima e os resultados encontrados.
2 CUIDADOS PALIATIVOS
2.1 História e conceito de Cuidados Paliativos
A história dos cuidados paliativos está interligada as antigas hospedarias, ou Hospices, que remetem à época do início do Cristianismo, onde viajantes e peregrinos ficavam hospedados e eram cuidados. Posteriormente foram criadas instituições de caridade para abrigar as parcelas mais necessitadas da sociedade, e eram mantidas por igrejas e ordens religiosas, sendo que, mais adiante, passaram a ter características de hospitais (MATSUMOTO, 2012, p.24).
O modelo de Hospice atual foi elaborado pela médica, enfermeira e assistente social britânica Cicely Saunders, nos anos de 1940, que diferencia-se dos hospitais convencionais no enfrentamento de doenças, pois não visa simplesmente a cura, mas promover um tratamento que vise melhorar a qualidade de vida do paciente e amenizar os sintomas no decorrer da doença. Saunders, que tinha formação humanizada, fez estudos sistemáticos com pacientes acometidos pelo câncer entre a década de 1950 e 1960, e no ano de 1967 inaugurou o St. Christopher’s Hospice, onde desenvolveu técnicas de tratamento proporcionando uma nova forma de cuidar de quem necessitava, além de ensino e pesquisas (MATSUMOTO, 2012, p.24).
Na década de 1970 Cicely encontrou-se com outros profissionais da área, levando o método de Hospice para os Estados Unidos e Canadá. Em 1982 a OMS recomendou que todos os países adotassem políticas para o tratamento do câncer que utilizavam o modelo Hospice (MATSUMOTO, 2012, p.25).
O Manual de Cuidados Paliativos ANCP (2012) trabalha com a definição de que
Cuidado Paliativo é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameacem a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual (OMS, apud MATSUMOTO, 2012, p. 26).
O conceito da OMS aponta o espiritual como uma das possíveis formas de adoecimento; e o tratamento como um promotor de qualidade de vida através do enfretamento de doenças, sugerindo assim uma correlação entre bem estar espiritual e promoção qualitativa de vida.
Cuidados Paliativos comumente são atribuídos apenas à tratamentos de doenças com prognóstico de morte, o que pode ser considerado um equívoco, pois pode-se entender como um tratamento para doenças sem prognóstico de cura. Os cuidados desempenham um papel importante ainda no início da doença, para que assim possa nortear os trabalhos desenvolvidos pela equipe paliativista (MCCOUGHLAN, 2011, p. 170).
2.2 Princípios dos Cuidados Paliativos
Matsumoto (2012) também traz nove princípios para o trabalho em Cuidados Paliativos descritos pela OMS, sendo eles:
- Promover o alívio da dor e outros sintomas desagradáveis;
- Afirmar a vida e considerar a morte como um processo normal da vida;
- Não acelerar nem adiar a morte;
- Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente;
- Oferecer um sistema de suporte que possibilite o paciente viver tão ativamente quanto possível, até o momento da sua morte;
- Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente e a enfrentar o luto;
- Abordagem multiprofissional para focar as necessidades dos pacientes e seus familiares, incluindo acompanhamento no luto;
- Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença;
- Deve ser iniciado o mais precocemente possível, juntamente com outras medidas de prolongamento da vida, como a quimioterapia e a radioterapia e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações clínicas estressantes.
Dentre os nove, destacam-se dois relevantes para compreender a relação entre espiritualidade, psicologia e qualidade de vida: integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente e melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença.
Esses dois princípios estão diretamente ligados. O sujeito durante o processo de adoecimento tem de encarar perdas como a de locomoção, funcionalidade, autoimagem, entre outras, que podem o abalar psicologicamente, causando angústia, depressão e ansiedade, dificultando o tratamento.
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