ANÁLISE DO FILME: “O QUE VOCÊ FARIA?
Por: Mariana Chieregato • 21/4/2019 • Resenha • 1.681 Palavras (7 Páginas) • 722 Visualizações
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
ANÁLISE: “O QUE VOCÊ FARIA?”
MARIANA CHIEREGATO PEDRO
SOROCABA
2016
ANÁLISE DO FILME: “O QUE VOCÊ FARIA?”
O filme El Método ( “O que você Faria” no Brasil) retrata as etapas finais de um processo seletivo para o cargo de alto executivo na empresa DÉKIA através da adoção do método Gronholm, no qual os candidatos finalistas passaram o dia em uma dinâmica de grupo que os forçava a interagir entre si e procurar respostas para os testes psicológicos e práticos do método, em conjunto. Os finalistas do processo são:
- Carlos: candidato jovem de aproximadamente 30 anos, astuto, aparentemente tranquilo, tentava atrair a atenção de Nieves, fala inglês e entende francês, sabe ser questionador e se esquivar de um problema.
- Nieves: mulher jovem de aproximadamente 30 anos, bem preparada, com amplo conhecimento de economia e francês, que teve relações íntimas com Fernando durante o processo e além de “desistir da vaga” no final.
- Júlio: participante bem preparado, com maior experiência profissional, comunicativo que denunciou a empresa que trabalhava por motivos ambientais, causando mais de 200 demissões
- Ana: mulher de aproximadamente 40 anos que não conseguia convencer seus concorrentes ou passar-lhes segurança, agrediu verbalmente Carlos em uma das fases.
- Fernando: militarista, que não conhecia outras línguas, era agressivo e machista, teve relações sexuais com Nieves durante o processo seletivo
- Ricardo: psicólogo que ficou de supervisor infiltrado no processo, criava conflitos entre os participante e observava constantemente suas reações, mas como interpretou bem o papel de candidato não foi descoberto pelos outros candidatos, atuava em conjunto com Montse, a secretária que também era um psicóloga supervisora que controlava o processo.
- Henrique, participante mais descontrolado emocionalmente, muito interessao no processo, mas mostrou-se não confiável ao delatar informações pessoais de Ricardo para o grupo.
Pode-se notar que esses finalistas, de certa forma, são representações estereotipadas de grupos sociais. Por exemplo: uma mulher mais velha que segue mais intensamente os padrões ditos tradicionais, uma mulher que representa mais a juventude e se mostra mais aberta aos assuntos, um homem que coloca o meio ambiente acima de tudo, um homem que retrata mais o estilo “nerd” e pensa sempre em todas as possibilidades (Henrique), além de mostrar timidez para falar, entre outros. Assim, é possível observar como ocorre o processo de socialização entre os diferentes grupos sociais abordados, bem como as pressões, cobranças e preconceitos que cada um deles sofre.
Além disso, houve também uma forte representação de papéis sociais no filme. Em uma das etapas, o grupo deveria descobrir quem era o funcionário da empresa dentre eles. No caso, o psicólogo assumiu um papel social de um participante cujos ideais eram contraditórios ao cargo na empresa. Apesar do Ricardo ter incorporado seu papel muito bem, ainda era possível notar, em alguns momentos, que seu lado pessoal ficava mais visível - ou seja, quando sua consciência falava mais alto e sua identidade ficava mais clara, através do modo que ele analisava as pessoas, criava conflitos, e se abstinha nas votações. Dessa forma, seu lado pessoal, seu modo de falar e sua visão do mundo acabaram por mostrar algumas de suas características reais, mesmo que os participantes não tenham identificado.
Quando é analisado esse conjunto de pessoas, é possível classificá-las como um grupo, uma vez que são pessoas reunidas com um objetivo comum (vaga em um alto cargo executivo) dentro de uma organização onde as instituições sociais são mantidas e reproduzidas. Pode-se dizer que esse grupo se constituiu através de uma solidariedade mecânica, já que a institucionalização do processo seletivo obriga os candidatos à conviverem com pessoas as quais não escolheram durante aquele período; ainda assim, é possível observar a formação de alguns subgrupos (“panelinhas”) formados através de solidariedade orgânica devido à afinidade entre os participantes como o caso de Carlos e Nieves, que já se conheciam e haviam tido um relacionamento antes da entrevista.
O desenvolvimento da coesão desse grupo é feito à partir de seu objetivo comum, contudo a alta competitividade entre os membros, a situação em que o grupo foi criado – não orgânica - os quase inexistentes laços de lealdade, a falta de homogeneidade do próprio grupo, além das práticas de supervisão e pressão externa feitas pela organização e pelas pessoas que coordenam o processos seletivo, levam à um baixo nível de coesão, tão baixo que o grupo vai se dissolvendo à medida que os candidatos são eliminados e no final do processo seletivo o grupo deixou de existir por completo. Nas partes dos filmes que mostravam o ambiente externo ao escritório, onde ocorria trânsito caótico e as manifestações eram formas representar as pressões externas que os indivíduos alí enfrentavam e que os aumentavam um pouco a coesão do grupo.
A fidelidade ao grupo é devido à necessidade dos seus integrantes de permanecerem dentro dele para que consigam o emprego, todavia, quando à individualidade de alguém se sobressaia ao interesse do grupo e do modo de liderança democrática que foi adotado, esse participante tendia a ser isolado e não tal atitude não era bem vinda, isso pode ser bem explicado pelo fato de que todos os integrantes eram novos e possuíam o mesmo grau de aderência ao grupo. Além disso, a real liderança desse grupo era exercida pela empresa, de uma forma autoritária, pois era o processo seletivo que levava os candidatos à reagirem de certa forma, filmando-os constantemente, colocando-os em situações de conflito para testar suas reações; o controle do processo está nas mãos dos supervisores que são empregados da empresa e não realmente do que por vezes guiava os participantes nas realização de votações como era o caso do Julio.
A questão de autoridade praticamente nula durante o processo inicialmente parece ser uma forma de garantir a expressão da individualidade de cada participante, mas acaba por medir o comportamento dos mesmos, dosando suas expressões e sentimentos, contendo seus impulsos. A liderança autoritária ou democrática também foi bastante evidenciada em um dos testes, quando Fernando propõe ser o líder autoritário ( foi um militar) do abrigo imaginário, ideia que foi muito contestada pelos participantes, principalmente por Nieves, que foi contra a sua proposta de liderança autoritária, preferindo uma liderança mais democrática e compartilhada. Essa questão do autoritarismo nos grupos é muito importante, pois para situações imediatas, uma liderança mais autoritária pode ser mais eficiente que era a forma que Fernando enxergava a situação, enquanto Nieves analisava a situação do abrigo como como de maior duração, onde uma liderança autoritária seria negativa pois geraria intrigas, menos produtividade, e divisão injusta de tarefas, enquanto uma liderança democrática promoveria uma maior participação de todos os integrantes, dividindo as responsabilidades de forma mais eficiente.
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