AS CAMPAINHAS, LETREIROS, LUZ DE POLÍCIA: SOBRE SER
Por: Simon Lucas Alves Rodrigues • 8/6/2022 • Trabalho acadêmico • 448 Palavras (2 Páginas) • 101 Visualizações
CAMPAINHAS, LETREIROS, LUZ DE POLÍCIA: SOBRE SER
NEGRO, GAY E FILHO DE FAMÍLIA INTER-RACIAL
Falar de questões étnicas-raciais no Brasil, é remeter a uma questão sócio-histórica. É impossível falar de racismo no Brasil, sem remeter ao processo do Brasil colônia. Onde o homem branco impõe sobre os outros sua superioridade e normativa, cabendo aos diferentes apenas aceitar, em um sinal de preservação da sua vida e submissão.
O homem negro passa a ser apenas uma figura “exóticos, irracionais, fetichistas, bárbaros, incivilizados, desprovidos de razão, inteligência, humanidade e cultura”. E esse discurso, mesmo em grandes proporções, permanece em uma perspectiva de racismo velado. O homem negro é tido como uma figura de hipersexualização, onde seu corpo é visto como objeto de prazer, mas descartável pela sua cor.
No estudo de caso, referido pelas autoras Santos e Santos (2022) remete a um jovem de 23 anos, negro e gay, concebido por um casamento inter-racial, este que não era bem visto pela família de seus pais. O pai negro e mãe branca. A figura que a mãe desempenha é tida como afetiva, mas preconceituosa: “Corte seu cabelo, está juntando sujeiras”. Falas como essa, que refletem a um racismo velado.
Tais situações permeiam ao cotidiano e mina a autoestima, pois em uma sociedade de “homem branco, ocidental, heterossexual, cisgênero, classe média, cristão, urbano e não periférico” não a espaço para um jovem pobre, negro, gay.
Tal configuração sistêmica da sociedade, invade aos settings dos terapeutas, proporcionando uma decadência na visão ética-racial. Onde o sujeito é tido como delirante e reprodutor de um sofrimento que pode não existir. Para as autoras isso acontece por uma formação decadente do profissional, pois a “compreensão de que o sofrimento psíquico não se configura na ordem da intimidade, mas sim na esfera política.” (SANTOS, SANTOS, 2022, p. 13).
Para as autoras (2022), reafirmar o que você é, é não retroceder em uma sociedade que segrega e exclui, é conquistar respeito próprio. Tais questões baseiam em uma luta contra uma sociedade permeada por um discurso de branqueamento. Onde ser cis e branco é uma condição de superioridade.
Por fim “Não há mais espaço para abrigar profissionais que ignorem as questões étnico-raciais, assim como as de gênero, classe, sexualidade e demais marcadores sociais de diferença. É preocupante o cenário em que alguns profissionais de saúde mental têm atuado como agentes reprodutores do ciclo de violência e opressão social, o que indica a necessidade de investimento na qualificação apropriada”
Este artigo foi resultado de um estudo qualitativo, transversal e exploratório, tendo como delineamento metodológico o estudo de caso. Foi utilizada entrevista em profundidade, cujos conteúdos foram submetidos à análise temática indutiva e interpretados à luz do referencial teórico dos estudos de raça e subjetividade, sob um olhar interseccional.
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