AS CONTRIBUIÇÕES DA GESTALT-TERAPIA PARA A CONCEPÇÃO DE “CURA” DENTRO DO PROCESSO DE SAÚDE-DOENÇA, NO CONTEXTO HOSPITALAR
Por: Danielle Cristina Frazão Pereira • 3/11/2022 • Artigo • 2.322 Palavras (10 Páginas) • 178 Visualizações
CONTRIBUIÇÕES DA GESTALT-TERAPIA PARA A CONCEPÇÃO DE “CURA” DENTRO DO PROCESSO DE SAÚDE-DOENÇA, NO CONTEXTO HOSPITALAR
Danielle Cristina Frazão Pereira¹
Maria Emília Miranda Álvares²
RESUMO
O presente artigo é resultado de pesquisas e estudos sobre a aplicação da Gestalt dentro do contexto hospitalar e sua contribuição dentro do processo de saúde-doença. Em seu conceito geral, a Psicologia da Gestalt é uma doutrina que defende que não se pode conhecer o “todo” por meio de suas partes. Ou seja, para se compreender as partes é preciso, antes, compreender o “todo”. Sendo assim, a Gestalt-terapia apresenta-se como uma abordagem fenomenológica-existencial, ou seja, uma psicoterapia vivencial que ressalta a consciência do aqui-e-agora. Levando-se em consideração o contexto hospitalar, essa relação com o meio se faz essencialmente necessária, uma vez que é através do contato com a doença que o paciente se torna também responsável por seu processo de recuperação; e ainda, enxergar o sintoma não como uma patologia total, mas como uma forma do corpo dizer algo além para si.
Palavras-chave: Psicologia da Gestalt, Gestalt-terapia, contexto hospitalar, processo saúde-doença.
1 INTRODUÇÃO
A Gestalt-Terapia apresenta-se como uma abordagem fenomenológica-existencial conhecida como “terapia do contato”, ou seja, uma psicoterapia vivencial que ressalta a consciência do aqui-e-agora, através do foco de como o fenômeno nos é apresentado, muito mais do que no porquê. Através dele, nos damos conta de nossa existência enquanto ser-no-mundo. Dentro do contexto hospitalar, o paciente tem contato com sua doença e torna-se responsável pelo seu processo de recuperação.
Diante disso, faz-se necessário enxergar o sintoma não como uma patologia total, mas como uma forma do corpo dizer algo além para si. Dessa forma, o adoecimento pode ser percussor de reflexões e ressignificações necessárias para a superação daquela patologia ou enfermidade por parte do paciente.
Partindo-se desse pressuposto, a autorregulação se refere a uma regulação saudável em que todo organismo enquanto ser vivo é capaz de se autorregular de uma forma que seja melhor para si mesmo, tendo a habilidade de escolher o seu próprio caminho. Portanto, o psicólogo enquanto Gestalt-terapeuta deve levar em conta esses aspectos subjetivos de experiência do sujeito em todas as suas dimensões. Ou seja, faz-se necessário entender como é esse processo e como o paciente sente e vivencia aquela determinada situação.
Para alcance destas respostas compreende-se como objetivo geral a relevância da Gestalt-terapia dentro do contexto hospitalar e como esta pode intervir no processo de saúde-doença; e por objetivos específicos a observação de como essa abordagem pode contribuir para uma prática hospitalar mais humanizada, avaliando de que modo pode auxiliar na autonomia do sujeito durante esse processo, respeitando os princípios éticos relacionados à abordagem.
O presente artigo utilizará como método de abordagem o método dedutivo, trabalhando em cima de estudos previamente definidos a fim de construir uma conclusão coerente que analise a aplicabilidade da Gestalt-terapia no contexto hospitalar. A pesquisa para comprovar os objetivos e evitar falseamento será de cunho bibliográfico, ou seja, com base em livros, artigos científicos, trabalhos acadêmicos.
Por fim, acredita-se que por meio desta pesquisa é possível compreender a importância da aplicação de conhecimentos gestálticos para a concepção de “cura” dentro do processo de saúde-doença, visto que essa abordagem da psicologia engloba as diversas dimensões do sujeito e contribui para a sua autonomia durante esse processo de estadia no hospital ou até mesmo fora dele.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Fritz Perls (1997), considerado o pai da Gestalt-Terapia, descontente com o método psicanalítico, começou a buscar outras respostas para os conflitos humanos. Dentre elas: o humanismo, o existencialismo, a fenomenologia, a psicologia da Gestalt, a teoria de campo, a teoria organísmica e a filosofia buberiana.
Em seu livro “Gestalt-Terapia” (1997), ele coloca que antes de procurarmos as coisas que por ventura estejam por detrás, melhor faremos se focalizarmos nossa atenção no que está ali, dado, presente, visível. Além de que, isso que está ali, nesse óbvio, certamente também estão presentes elementos que possam estar por detrás. A Gestalt-Terapia, portanto, seria uma atitude de redescobrir aquilo que está ali, sem a priori. É uma atitude de lidar com o novo como novo, de nada afirmar sem negar.
É considerada uma terapia do contato, onde acredita-se que a todo momento se está em contato com o meio. E é por meio deste, que o funcionamento humano pode tornar-se saudável ou funcional. É através do contato que nos damos conta de nosso processo e de que podemos ser criativos na forma de ver o mundo e de fazer escolhas na vida. (FREITAS et al, 2010)
Desta forma, no trabalho clínico, busca-se uma ampliação da consciência do indivíduo sobre seu próprio funcionamento, ou seja, sobre como ele funciona ou como se interrompe em seu processo de contato consigo e com o mundo. A isso, dá-se a denominação de awereness, sendo a principal ferramenta para resolução de conflitos dentro e fora do setting terapêutico. (YONTEF, 1998)
2.1 Relevância da Gestalt Terapia dentro do contexto hospitalar
Levando-se em consideração o contexto hospitalar, Galli (2009) propõe que essa relação com o meio se faz essencialmente necessária, uma vez que é através do contato com a doença que o paciente se torna também responsável por seu processo de recuperação; e ainda, enxergar o sintoma não como uma patologia total, mas como uma forma do corpo dizer algo além para si.
A partir das correntes do existencialismo, fenomenologia e humanismo de que o próprio cliente é responsável por si mesmo, tendo a habilidade de escolher o seu próprio caminho, determina-se um dos conceitos mais importantes dentro da Gestalt Terapia: a autorregulação. Ou seja, uma regulação saudável em que todo organismo enquanto ser vivo é capaz de se autorregular de uma forma que seja melhor para si mesmo. (RIBEIRO, 2012)
No contexto hospitalar, os atendimentos são eminentemente clínicos, podendo ser de ordem individual ou em grupos, sendo mais comum nos atendimentos ambulatoriais e/ou intervenções institucionais. Cabe ao psicólogo hospitalar atividades específicas como a psicoterapia com pessoas encaminhadas e/ou com as respectivas famílias, após uma triagem feita por um médico, um enfermeiro e um assistente social, por exemplo. (YONTEF, 1998)
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