Analise Dente Canino
Por: liliane alves • 25/11/2020 • Artigo • 1.571 Palavras (7 Páginas) • 223 Visualizações
RESUMO
Este artigo trata-se de uma análise feita através da obra cinematográfica “dente canino” de 2009, produzido por Yorgos Lanthimos e Efthymis Filippou.
A idéia deste artigo é mostrar a forma que o pai impôs uma ideologia para seus filhos e as consequências disso no desenvolvimento e socialização dos mesmos. E com isso fazer um paralelo com a importância da participação dos pais em apresentar o mundo aos seus filhos.
Neste trabalho, vamos apresentar alguns pontos do filme sobre a ideologização dos filhos, onde notamos o quanto os pais idealizaram seus filhos e acabaram afetando o desenvolvimento deles por acreditarem que o melhor a fazer seria privá-los de contato com o mundo externo.
Iremos discutir sobre a teoria da socialização primária e secundária abordada pelos autores Luckmann e Berger e a visão da autora Silvia Lane em determinados pontos do texto.
Discutiremos também sobre o autor José Roberto Tozoni Reis, que apresenta o conceito de família, a influência emocional que a mesma exerce sobre os membros e as mudanças que ocorrem no decorrer do tempo, dando enfoque nas ideologias familiares.
Palavras-chave: Ideologia, desenvolvimento, socialização.
INTRODUÇÃO
A falta de referências, experiências, interação com o mundo social, com outras instituições e significativos, atrapalha o nosso desenvolvimento como seres humanos, e é o que nos torna mais próximos dos animais, pois o que nos diferencia deles é a nossa capacidade de raciocínio e de sermos seres completamente sociáveis.
O filme dente canino aponta de uma forma bem radical alguns aspectos sobre essa ideologia imposta pelo pai e sobre a ausência da socialização secundária, que acarretou em um péssimo desenvolvimento para os filhos, pois mesmo sendo jovens/adultos eles acabavam se comportando como crianças ou até mesmo agindo completamente pelo instinto, devido a falta de estímulos que os dessem a possibilidade de um desenvolvimento pleno, de terem autonomia e de construírem uma moral, o que os tornaram alvos fáceis da manipulação.
Ideologização na socialização
Nós seres humanos, somos fruto das escolhas e decisões que tomamos, mas essas escolhas são muito influenciadas por nossas experiências, pela forma como fomos educados, pelas coisas das quais compartilhamos, entre outras coisas. Mas o que acontece quando deixamos de poder escolher e decidir sobre nossa própria vida?.
Lane (1984, p. 40), diz que o nível de atuação na própria história depende do grau de autonomia e iniciativa que se alcança, mas os jovens do filme em questão não tinham autonomia alguma, já que lhes faltou a socialização secundária e uma quantidade significativa de experiências próprias que os fizessem ser capazes da autonomia. Eles não iam à escola, a clubes ou tinham contato com qualquer outro tipo de instituição que pudesse fornecer essa socialização, por isso não houve um pleno desenvolvimento social e intelectual.
O primeiro aspecto que vamos discutir no presente artigo, é a questão da socialização primária e secundária, tratada pelos autores Luckmann e Berger. No filme observamos que, os significativos dos três filhos são os pais, o pai é quem dita as regras e a mãe é apenas omissa as vontades dele. O pai tinha a intenção de educar os filhos dentro de casa, pois dessa forma os manteria seguros, inocentes e isso faria com que eles se tornassem boas pessoas, mas o resultado que vemos não é exatamente esse.
O pai apresenta aos filhos uma realidade completamente distorcida, ele transmite uma ideologia de que os filhos só poderiam sair de casa quando o dente canino deles caísse, e que só poderiam dirigir quando o dente voltasse a crescer. Ele faz os filhos entenderem que não estão preparados para enfrentar o mundo lá fora, que de acordo com ele é mal. Inclusive cita o exemplo de um suposto irmão que teria fugido e tido problemas, com isso reforça a idéia de que o pai estava certo e que só seguindo suas regras eles poderiam se manter seguros. Como tudo que o pai fala faz sentido para eles, os filhos acabam objetificando e internalizando essa realidade.
“A criança não interioriza o mundo dos outros que são significativos para ele como sendo um dos muitos mundos possíveis. Interioriza-se como sendo o mundo, o único mundo existente e concebível, o mundo tout court”. (LUCKMANN E BERGER, 2004, p. 180).
Dessa forma, a socialização primária dos filhos foi construída pela família, mas a socialização secundária não ocorre, pois eles nunca saíam de casa e visitas de pessoas externas eram inexistentes, exceto por um único e breve contato que tiveram, uma funcionária que ia para a casa deles somente para manter relações sexuais com o filho. Portanto podemos analisar a importância dos pais, que são os responsáveis por apresentar aos filhos os outros significativos.
A falta de outros significativos para uma socialização secundária, impediu que os filhos tivessem acesso a novas experiências e trocas, a se desenvolver intelectualmente e adquirir novas áreas em suas vidas como a social, profissional e amorosa.
Para Tozoni (1984, p.98), apesar dos prós e contras sobre a família, não se deve ignorar o papel fundamental que ela tem nas relações sociais do indivíduo.
Um aspecto muito importante é a linguagem, responsável por possibilitar a comunicação entre os indivíduos. Observamos que muitas palavras que tinham um significado pejorativo eram modificadas pelos pais por algo bom, o que é uma das formas que o pai utilizava para ideologizar seus filhos. A linguagem trás um peso muito grande para o grupo social, porque para o indivíduo é parte de seu desenvolvimento mas também se trata do veículo de ideologia (LANE, 1984, p. 41).
Outro ponto relevante a ser discutido seria a forma em que é tratada a sexualidade no filme, que é outro aspecto “demonizado” pela sociedade. Na trama, uma funcionária vai para atender os desejos sexuais exclusivamente do filho,
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