Analise de Sonho JUNG

Sonho 01

A.C.Y. Sexo feminino, 22 anos.

“Eu estava voltando na minha cidade natal, como se fosse anos mais velha. Eu estava bem vestida e maquiada e entrava pela porta da escola de Inglês em que eu dava aulas. A escola, no sonho e na realidade, são ministradas pela família do meu ex-namorado da adolescência. Eu entro pela porta e o vejo descendo as escadas. Ele olha para mim e se espanta, como se estivesse arrependido. Logo em seguida, eu vejo a mãe dele, que era minha antiga chefe. Virando uma sala de aula, eu esbarro com o irmão mais velho dele, com uma postura austera. Ele pagava o meu salário. De repente, despeço-me de todos e subo pelo elevador no andar mais alto. Quando chego lá em cima, quando vou sair do elevador, me vejo pendurada em uma barra de ferro, o chão do elevador está “bambo” e prestes a se soltar. De repente, todo o ambiente da escola some e eu vejo tudo lá embaixo, carros e pessoas passando na rua. Começo a morrer de medo, estou presa por um fio em cima e sinto que vou cair a qualquer momento. De repente o chão do elevador se firma e eu consigo me apoiar. Então acordo.”

Sonho 02 – Na noite sequente ao sonho 01

“Sonho que estou numa fila, em uma praia, prestes a participar de uma atividade de tirolesa. Olho para cima e vejo a tirolesa, estruturada em alto-mar e muito alta. Fico totalmente insegura, pois não queria estar na fila. Não quero ir. Acordo”

Sonho 03 – Na noite sequente ao sonho 02

“Sonho que estou indo para uma escola lecionar aulas de Inglês. Essa escola fica numa espécie de montanha e para ter acesso à ela, é preciso subir um paredão de pedras, muito alto. Eu sonho que vou e volto dessa escola por este paredão, todos os dias, sem corda ou qualquer tipo de equipamento de segurança. Estou dando várias aulas e decido ficar dias na escola, lecionando durante horas ininterruptas, para não precisar sair pelo paredão de pedras e me machucar. Vejo um amigo do trabalho a quem eu considero muito me fazendo desmaiar de propósito, dizendo que eu precisava descansar. Acordo no sonho e decido ir embora, mas não consigo descer o paredão, é muito alto.”

Passos para a interpretação dos sonhos

1. Enunciar a estrutura do sonho: Exposição: lugar ou ambiente; protagonistas; situação inicial; tempo; Desenvolvimento; Peripécia; Resolução.

Todos os sonhos apresentam estruturas altas e perigosas. Todas as estruturas demonstram cunho emocional (mar, ex-namorado, amigo de consideração). Todos demonstram a mesma dinâmica do ego onírico de realizar uma atividade que ainda não lhe é compatível.

1. Estabelecer o contexto do sonho:

1. Ampliações das imagens oníricas: associações pessoais; informações sobre o ambiente do sonho em relação com os personagens; paralelos arquetípicos.

O primeiro sonho demonstra a necessidade de se refazer do ego onírico para que o complexo do ex-namorado a perceba – O arquétipo da mulher selvagem, sábia e autossuficiente. A mãe dele representada como a chefe, a que manda naquele ambiente, representada pelo arquétipo da grande mãe, que também faz sentido com o conteúdo trazido nas sessões. A.C.Y. demonstra intensa necessidade de aprovação por sua mãe.  A aparição da figura austera do irmão do ex-namorado demonstra a figura masculina do ego onírico – animus – o qual pagava seu salário. A.C.Y. traz no contexto clínico seu momento atual de término de faculdade e estágio e inconscientemente, para auto aprovação, a alimentação que realiza de seu próprio animus, tornando-o mais forte do que outras estruturas e demonstrando o tipo psicológico “pensamento”, que suga-a, que tira-lhe o chão e exige muito de si mesma.

O ambiente escolar, aparente em dois dos três sonhos, revela essa necessidade do self de demonstrar como o processo de individuação se segue. A função de lecionar é uma função do animus, trazendo a exigência de “tarefas a cumprir”, não tendo momentos para descansar.

A outra parte do self se manifesta como um amigo para interromper o processo de auto exigência.

1. Temas que inter-relacionam as ampliações: jovem com quem vai se casar; homem que está se divorciando; padre.

Como narrado no tópico anterior, a necessidade de subir a níveis mais altos se evidencia e demonstra o quanto o ego ainda não está preparado para tal. De certa forma, há uma semelhança nas imagens que o ego onírico se apresenta, como uma mulher poderosa, como uma professora, demonstrando esse poder ilusório, o arquétipo da mulher e essa força que ela traz.

1. A situação consciente do sujeito imediata e longo prazo: fatos, emoções, pensamentos, temores, esperanças, conflitos; experiências que tocam complexos ou algo que deve ser corrigido pelo sujeito.

Medo, insegurança, exigir demais de si mesma. ACY conta nas sessões necessidade de manter a casa limpa e organizada todos os dias, dar conta de tudo sozinha.

1. A série de sonhos: às vezes identifica-se pela repetição de um sonho; sonhos de uma mesma noite podem apontar diferentes aspectos de um mesmo tema;

Os três sonhos narrados demonstram que o sonhador se encontra em uma situação considerada perigosa, com pontos “altos” que quase sempre o levam a se sentir tão inseguro ao ponto de se ver possivelmente derrotado pelos mesmos, como se estivesse sempre “por um fio”. Dessa forma, nota-se que o tema em questão, relacionado às mudanças de cunho profissional e pessoal que estão sendo vivenciadas pelo sonhador, aparecem nos sonhos como uma ameaça no seu processo de individuação.

1. Rever as atitudes apropriadas para a interpretação dos sonhos:

1. Nada é conclusivo em relação aos significados/ Evitar suposições próprias; Tratar as imagens oníricas como símbolos e não sinais;

Na visão Junguiana, os elementos, pessoas e situações que aparecem no sonho são de grandeza subjetiva do sujeito e quase sempre dizem respeito ao próprio sujeito, sendo assim não representam pessoas ou situações reais como nos diz Freud, ou seja, não são sinais do tipo “sonhei com ex namorado, então vou voltar com ele”, o sonho diz sobre o sujeito em si, como se comporta, como se posicionar frente tal problema, mostra seus medos, angustias e etc. Entretanto, o significado de cada sonho para cada pessoa é único, não existe algo universal para todos, depende da história do indivíduo e de como ele enxerga cada sonho. Os sonhos não devem ser interpretados de maneira concreta. As imagens oníricas expressam a subjetividade, são partes constitutivas da nossa mente e são fatores subjetivos que se agrupam numa imagem por motivos internos desconhecidos.