BREVE RESENHA DE PRINCIPAIS AUTORES
Por: Damarismel Costa • 23/3/2019 • Resenha • 1.641 Palavras (7 Páginas) • 220 Visualizações
UMA BREVE RESENHA DE PRINCIPAIS AUTORES
Do ponto de vista psicanalítico, são muitos os autores que têm contribuído com enfoques distintos, porém complementares entre si. Citam-se algumas das principais contribuições desses autores que, ao longo dos anos, estudaram – e muitos outros continuam estudando – o fenômeno das psicossomatizações. Comecemos por Freud. De forma esquemática, pode-se sintetizar suas contribuições, tanto as diretas quanto as indiretas, nos seguintes nove itens:
1. O seu conceito de representação-coisa e de representação-palavra. A importância disso no sujeito somatizador reside no fato de que os acontecimentos e os sentimentos das experiências afetivas vivenciadas no passado estão impressos e representados no ego, porém, se essas pretéritas vivências emocionais ainda não passaram para o pré-consciente e não foram simbolizadas e denominadas com palavras, elas vão se expressar corporalmente. Relativamente às representações do corpo no ego, creio ser útil acrescentar que também as interações entre nosso corpo e o mundo inanimado – por exemplo, andar de bicicleta – fazem parte da representação do ego corporal.
2. Complacência somática é o nome que Freud deu ao fenômeno de que uma determinada somatização não é específica de algum quadro clínico especial, mas, sim, existem órgãos particularmente sensíveis – ou por razões de constituição orgânica, ou por fatores psíquicos, como os de fantasias inconscientes localizadas e fixadas em um certo órgão – que, então, funcionam como caixa de ressonância do conflito. 3. O fenômeno das conversões, que, como o nome sugere, alude ao fato de que determinado conflito psíquico que não consegue ser simbolizado, logo tampouco conhecido e pensado conscientemente, converte-se em uma manifestação corporal, em algum órgão dos sentidos, ou em alguma zona da musculatura voluntária. Nesse caso de fenômeno conversivo, os sintomas narram, sem palavras, uma história inconsciente. 4. Neuroses atuais, cuja causa, segundo Freud, era o bloqueio das excitações libidinais, conseqüentes tanto de uma privação de satisfação sexual quanto de um excesso de estimulação, como seria o caso de uma masturbação excessiva. Dizendo de outra forma, o conceito de neurose atual alude a um excesso de estimulação que o ego não consegue processar, de sorte que o corpo funciona como um dreno do excesso. A noção de neurose atual implica a aceitação da teoria econômica das energias pulsionais, razão pela qual caiu em descrédito na psicanálise, hibernando em um longo ostracismo, até que, na atualidade, ela ressurge revigorada e com teorias mais sofisticadas. 5. Processos primário e secundário. De forma reduzida, cabe afirmar que as somatizações correspondem às falhas dos processos de simbolização, os quais estão unicamente presentes no processo secundário de pensamento. Nos casos em que haja falha do processo secundário, logo da abstração dos pensamentos, predominará a concretude dos sintomas, próprias do processo primário. 6. Ego corporal. A clássica afirmativa de Freud de que “o ego, antes de tudo, é corporal” permite depreender, nos processos somatoformes, a importância das representações do corpo “no ego” e de uma cenarização dos conflitos do ego “no corpo”. Tais concepções adqui
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rem capital importância na psicanálise atual, tanto para o entendimento dos transtornos da imagem corporal quanto para a participação do corpo como um cenário dos diversos “teatros” da mente. 7. Identificações patógenas. Freud, em Luto e Melancolia, afirmou que a sombra do objeto recai sobre o ego, isto é, forma-se uma identificação do sujeito com o objeto perdido, de duração transitória no caso de “luto” normal ou de forma definitiva nos casos de “melancolia”. Nesta última situação, deve ter havido uma relação de conflito com a pessoa que foi atacada e perdida, de sorte a forçar um tipo de identificação patológica, que venho propondo chamar de identificação com a vítima. Quando isso acontece, o sujeito sente-se como que obrigado a ser igual em tudo ao objeto perdido, o que adquire uma especial importância nos processos psicossomáticos, pois tal identificação, com grande freqüência, faz-se com os sintomas clínicos da doença que acompanhou ou que vitimou a pessoa que ambivalentemente ele amou e odiou. 8. Para evidenciar a valorização que Freud sempre atribuiu às íntimas conexões que existem entre o psique e o soma, cabe consignar a sua visão profética quando, em 1938, preconizou que o futuro poderá ensinar-nos a influir diretamente no psiquismo mediante substâncias químicas particulares. Essa profecia de que substâncias químicas seriam utilizadas para compensar a patologia da química celular encontra plena confirmação na moderna psicofarmacologia, como são os excelentes resultados clínicos que os medicamentos propiciam em casos de doenças afetivas ou nos de transtorno do pânico, por exemplo. 9. Também vale consignar que coube a Freud o pioneirismo de assinalar que nem toda comunicação é unicamente verbal, e que, de alguma forma, o corpo também comunica, tal como se pode depreender desta frase, a propósito do “Caso Dora” (1905): “nenhum mortal pode guardar um segredo; se sua boca permanece em silêncio, falarão as pontas de seus dedos [...]”.
As contribuições de M. Klein que, indiretamente, facilitam o entendimento dos fenômenos relativos às somatizações podem ser
resumidas às fundamentais concepções de 1) fantasias inconscientes (que impregnam os órgãos). 2) O fenômeno da despersonalização (conseqüente de um excessivo jogo de identificações projetivas e introjetivas). Daí também resulta o sério problema da distorção da imagem corporal. 3) O seu conceito de memória de sentimentos (sensações e emoções primitivas, que não conseguem expressar-se pela linguagem verbal, podem estar gravadas em algum canto da memória do ego corporal). 4) A explicação que Klein dá para o processo psicopatológico da hipocondria, como sendo a da introjeção de objetos persecutórios que se alojam dentro de órgãos e, daí, ameaçam a saúde e a vida do sujeito. 5) De modo geral, a escola kleiniana considera que toda doença psicossomática é a expressão de um luto patológico (vingativo-persecutório) do objeto perdido dentro do ego. Indica que houve predominância do ódio durante a representação da mãe, precedendo tais manifestações somáticas, o surgimento das fobias. Cabe acrescentar que geralmente a separação deu-se antes de concluída a fase de simbiose, o que isso leva tais pacientes a uma inalcançável busca de novas simbioses. A Escola Francesa de psicanálise emprestou as seguintes contribuições: Lacan concebeu a noção de: 1) Corpo espedaçado: o bebê, ou o futuro adulto muito regredido, é capaz de vivenciar o seu corpo como que feito de, ou em, pedaços dispersos. 2) A crença da criança de que ela está alienada no corpo da mãe, com ela ficando confundida corporalmente. 3) O discurso dos pais na modelação do inconsciente da criança, de modo a poder inscrever significantes de natureza psicossomática. Dentro dessa Escola, o Instituto de Psicossomática, de Paris, conceitua: 4) O pensamento operatório (equivale ao conceito de “alexitimia” antes descrito) que esse Instituto descreve nos pacientes somatizadores. 5) A relação branca, isto é, aqueles pacientes que na relação com o analista mostram uma afetividade esvaziada e só parecem ligados aos aspectos concretos dos fatos narrados. A renomada psicanalista Joyce MacDougall acrescentou as conceituações de: 6) Uma primitiva relação diádica fusional da mãe com o lactante, que pode chegar a um ponto
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