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Behaviorismo Metodológico E Behaviorismo Radical

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Por:   •  11/11/2014  •  2.961 Palavras (12 Páginas)  •  495 Visualizações

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BEHAVIORISMO METODOLÓGICO E BEHAVIORISMO RADICAL1

MARIA AMÉLIA MATOS

(Dept. Psicologia - USP)

BEHAVIORISMO como vocês já devem saber é uma palavra de origem inglesa, que se refere

ao estudo do comportamento:"Behavior", em inglês. O Behaviorismo surgiu no começo deste

século como uma proposta para a Psicologia, para tomar como seu objeto de estudo o

comportamento, ele próprio, e não como indicador de alguma outra coisa, como indício da

existência de alguma outra coisa que se expressasse pelo ou através do comportamento.

Na Idade Média, a igreja explicava a ação, o comportar-se pelo homem pela posse de uma

alma. No início deste século, os cientistas o faziam pela existência de uma mente. As

faculdades ou capacidades da alma causavam e explicavam o comportamento deste homem.

Os objetos e eventos criavam idéias em suas mentes e estas impressões mentais ou idéias

geravam seu comportamento. Vejam que ambas são posições essencialmente dualistas: o

homem é concebido como tendo duas naturezas, uma divina e uma material, ou uma mental e

uma física, como quiserem.

É uma posição difícil, conflitante, porque devo demonstrar como essas naturezas contatuam,

já que estão em planos diferentes. Notem além disso, a circularidade do argumento: ao mesmo

tempo em que essa alma ou mente causavam e explicavam o comportamento, esse

comportamento era a única evidência desta alma ou desta mente.

No mentalismo, o acesso às idéias ou imagens se faria somente através da introspecção, que

seria então revelada através de uma ação, gesto ou palavra. Temos aqui um modelo causal de

ciência: (a) o indivíduo passivo recebe impressões do mundo; (b) estas impressões são

impressas na sua mente constituindo sua consciência; (c) que é então a entidade agente

responsável por, ou local onde ocorrem processos responsáveis por nossas ações.

É preciso destacar que os processos cognitivos, tão falados hoje em dia, são uma forma de

animismo ou mentalismo, em suas origens. A cognição é algo a que não tenho acesso direto

mas que fica evidente no comportamento lingüístico das pessoas, no seu resolver problemas,

no seu lembrar, etc., esquecendo que linguagem é produto de comportamento verbal; que

solução de problemas é produto de contingências alternativas, e que lembrar é produto de

manipulação de estímulos discriminativos.

O cognitivista recupera o conceito de consciência quando afirma estados disposicionais e/ou

motivacionais que poderiam ser modificados de fora (instruções) ou de dentro (auto-controle)

através de reestruturações cognitivas alcançadas por trocas verbais (ou seja, o comportamento

verbal do outro é decodificado por mim e meu relato verbal, versão moderna da introspecção,

1 Palestra apresentada no II Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental,

Campinas, out/93. Versão revisada encontra-se publicada em: Bernard Rangé (org)

Psicoterapia comportamental e cognitiva: pesquisa, prática, aplicações e problemas.

Campinas, Editorial Psy, 1995.

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dá acesso ao outro às minhas cognições). Estes estados disposicionais assim modificados,

agiriam então afetando e modificando comportamentos expressos. Não estou negando que

existam crenças, sugestões, representações etc., mas estas são formas de se comportar, são

classes de respostas, não eventos mediacionais, não causas diretas do comportamento. Aceito

consciência como uma metáfora, um resumo de minhas experiências passadas (assim também

aceito personalidade, como um conceito equivalente a repertório comportamental). Mas

rejeito consciência como self, como agente decisor, causador, ou mediador do

comportamento.

De qualquer modo, o Behaviorismo surgiu em oposição ao mentalismo e ao

introspeccionismo. Em fins do século passado a ciência de modo geral começou a colocar

uma forte ênfase na obtenção de dados ditos objetivos, em medidas, em definições claras, em

demonstração e experimentação. Esta influência se fez sentir na Psicologia, no começo deste

século, com a proposta behaviorista feita por Watson em 1924:

"Por que não fazemos daquilo que podemos observar, o corpo de estudo da Psicologia?" Ou,

em outras palavras:

- estudar o comportamento por si mesmo;

- opor-se ao mentalismo;

- aderir ao evolucionismo biológico;

- adotar o determinismo materialístico;

- usar procedimentos objetivos na coleta de dados, rejeitando a introspecção;

- realizar experimentação;

- realizar testes de hipótese de preferência com grupo controle;

- observar consensualmente.

* Com exceção das duas últimas

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