CUIDADOS PALIATIVOS SOB A ÓTICA DA TRIADE TR´GICA E DO OTIMISMO TRÁGICO
Por: millanetta • 13/9/2017 • Artigo • 3.148 Palavras (13 Páginas) • 895 Visualizações
[pic 1] | UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR[pic 2] PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL |
EMILIA SILVA COSTA NETA
CUIDADOS PALIATIVOS SOB A ÓTICA DA TRIADE TRAGICA E DO OTIMISMO TRÁGICO.
Trabalho apresentado como nota a disciplina Psicodinâmica e Noodinamica. Suprasentido. Tríade trágica e Vazio Existencial do Curso de Logoterapia e Análise Existencial Humana, da Universidade Católica do Salvador – UCSal, sob orientação do Professor Francisco Carlos Gomes.
SALVADOR, 2017
As mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais, que ocorreram no mundo desde o século XIX e que se intensificaram no século passado, produziram alterações significativas para a vida em sociedade.
A saúde, sendo uma esfera da vida de homens e mulheres em toda a sua diversidade e singularidade, não permaneceu fora do desenrolar das mudanças da sociedade nesse período. Assim sendo, o processo de transformação da sociedade é também, de certa forma, um processo de transformação da saúde.
Inclusive, nestas ultimas décadas tornou-se muito importante cuidar da vida, de modo que se reduzisse a vulnerabilidade ao adoecer e as chances de que ela se tornasse produtora de incapacidade, de sofrimento crônico e de morte prematura de indivíduos e população.
Contudo, mesmo com a criação de novas tecnologias cada vez mais precisas e sofisticadas em todas as atividades humanas ainda não foi possível a descoberta da cura para todos os tipos de câncer permanecendo, portanto, os desafios quanto a luta de dignificar os últimos momentos de vida da pessoa com câncer.
A consideração de que haja dignidade nos últimos momentos de vida refere-se aos cuidados paliativos.
Cuidados paliativos são cuidados ativos totais prestados a pacientes e às suas famílias quando se estabelece que o doente já não se beneficiará de tratamento antitumoral, do tratamento curativo (BRASIL, 2001).
Barbosa et al., (2008) acrescentam que os cuidados paliativos no final da vida abrangem uma série de ações farmacológicas e não farmacológicas além da habilidade em comunicação e a questão da terminalidade da vida e os aspectos éticos e legais associados a essa terminalidade. Estas ações juntas se remetem ao alivio da dor, do sofrimento e qualidade nos últimos dias de vida.
Assim sendo, os cuidados paliativos seriam um conjunto de ações que visassem promover ao paciente oncológico, em estado terminal - “doença avançada, incurável e evolutiva, com elevadas necessidades de saúde pelo sofrimento associado e que, em média, apresente uma sobrevida esperada de 3 a 6 meses”, uma qualidade de vida diante da morte.
Pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2000), cuidados paliativos é uma abordagem que aprimora:
[...] a qualidade de vida de pacientes e seus familiares que enfrentam problemas com doenças ameaçadoras de vida, através da prevenção e alivio do sofrimento, por meios de identificação precoce, avaliação correta e tratamento de dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual.
Assim sendo, não só descortina a necessidade de tratamento da dor, mas também a imperiosidade do acompanhamento das questões físicas, psicossociais e espirituais. Trazendo, portanto, a espiritualidade do individuo, considerando-a como fator determinante no seu processo de morte, segundo Vasconcelos e Aquino (2015, p. 28).
Torna-se muito oportuno, a manifestação do Instituto Nacional do Câncer (INCA) (2011), que lista os princípios dos cuidados paliativos quanto ao paciente com câncer, como se vê:
Fornecer alívio para a dor e outros sintomas estressantes como astenia, anorexia, dispnéia e outras emergências oncológicas;
Reafirmar vida e a morte como processos naturais;
Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente;
Não apressar ou adiar a morte;
Oferecer sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até a sua morte;
Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto.
De acordo com os princípios, os cuidados paliativos expressam uma possibilidade de cuidado digno e humanizado em propor ausência de dor e promoção do máximo conforto possível e supressão de situações estressantes mesmo com a proximidade e iminência da morte, em particular, em casos de pacientes terminais oncológicos.
Por sua vez, a Associação Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) (2006, p.2), de forma sublime registrou uma definição mais ampla dada pela OMS, acima citada e bem válida e oportuna, sobre os cuidados paliativos, como sendo:
Uma abordagem que visa melhorar a qualidade de vida dos doentes que enfrentam problemas decorrentes de uma doença incurável com prognostico limitado e/ou doença grave (que ameace a vida), e suas famílias, através da prevenção e alivio do sofrimento, com recurso à identificação precoce, avaliação adequada e tratamento rigoroso dos problemas não só físicos, como a dor, mas também dos psicossociais e espirituais.
Assim, deixa claro que a doença é uma ameaça a vida, ou seja, que leva a morte ao tempo em que o cuidado paliativo não objetiva somente o corpo físico, perpassa ainda pelas questões psicossociais e pelo sistema de crenças pessoais e por questões espirituais como já mencionado anteriormente.
Dessa forma, no conceito do que sejam os cuidados paliativos acaba trazendo a questão da consciência da terminalidade da vida, da finitude da vida, mas concomitantemente buscam tornar ainda mais vivos “todos os momentos que restam ao doente, tenha ele um prognostico de anos, meses, semanas, dias ou horas” numa dimensão de otimismo trágico, como se vê, logo abaixo:
É esta a sabedoria da Medicina Paliativa: saber cuidar e aliviar o sofrimento sem abreviar a vida, tornar vivos todos os momentos que restam ao doente, tenha ele um prognostico de anos, meses, semanas, dias ou horas. Ter o dom da comunicação verdadeira, do respeito absoluto à autonomia, da comunicação, capaz de entender toda a evolução da doença. Prevenir complicações estressantes, orientar os familiares e oferecer-lhes suporte diferenciado através de uma equipe multiprofissional. Manter o paciente livre de dor durante o processo de morrer e se manter ao lado até o seu ultimo instante (MACIEL apud OTERO E COSTA, 2007, p.4)
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