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Crianças e Adolescentes em Psicoterapia: A Abordagem Psicanalítica

Por:   •  28/9/2022  •  Artigo  •  2.379 Palavras (10 Páginas)  •  127 Visualizações

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  • PUBERDADE
  • Material organizado por Michaella C. Laurindo
  • REFERÊNCIAS
  • ALBERTI, Sonia. O Adolescente e o Outro. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

  • CASTRO, Maria da Graça Kern et al. Crianças e Adolescentes em Psicoterapia: A Abordagem Psicanalítica. Porto Alegre: Artmed, 2009.

  • CORRÊA, Crístia Rosineiri Gonçalves Lopes; PINHEIRO, Glaúcia da Silva. Período de Latência e Tempo para Compreender nas Aprendizagens. In: Psicologia em Estudo, v. 8, n, 1, p, 61-69. Maringá: jan./mar., 2013
  • COSTA, Teresinha. Édipo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010.
  • FREUD, Sigmund. Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905). In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Comples de Sigmund Freud, vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996
  • Lacadée, Philippe. A passagem ao ato na adolescência. In: La Cause freudiene: Nouvelle Revue de Psychanalyse. Paris: Navarin Editeur, n. 65, p. 219-226
  • LIMA, Nádia Laguárdia de. A Identificação na Contemporaneidade: os Adolescentes e as Redes Sociais. In: aSEPHallus, vol. VI, n 12. Rio de Janeiro, mai-out, 2011. Disponível em: <http://www.isepol.com/asephallus/numero_12/artigo_01.html>. Acesso em 08 jun 2016
  • Possibilidade de escolha de objeto amoroso e exercício da genitalidade;
  •  Bitemporalidade da escolha de objeto amoroso: se efetua em dois tempos. A 1ª começa entre os 2 e os 5 anos e retrocede ou é detida pelo período de latência. A 2ª sobrevém com a puberdade e determina a configuração definitiva da vida sexual;
  • Os resultados da escolha objetal infantil prolongam-se e se conservam como tal ou passam por uma renovação na época da puberdade (é a ratificação ou retificação da escolha amorosa do período edípico);
  • Inversão na escolha de objeto amoroso
  • Desejar o sexo oposto não é uma escolha que ocorra tão ‘naturalmente’, como se fosse pura expressão do corpo anatômico (considerar a pulsão/ o corpo simbólico)
  • É perceptível na puberdade a regularidade das amizades apaixonadas de rapazes e moças por outros do mesmo sexo (considerar comentários de Freud sobre o amor inibido em sua finalidade)
  • A atração dos caracteres sexuais opostos pode ser a força que repele a inversão. Mas esse fator não basta, por si só, para excluir a inversão
  • Considerar entraves sociais;
  • Considerar a sexualidade como um fator mais amplo do que genitalidade;
  • Considerar a identificação a partir da posição fálica;
  • Considerar se recalque, desmentido ou foraclusão.
  • Ao nascer, através dos cuidados e do desejo materno, a criança passa a ser introduzida no campo da sexualidade, que é uma sexualidade autossuficiente, visto que a criança ainda não domina o mundo externo e, desta maneira, ela própria tem que satisfazer suas pulsões.
  • É através do contato com a mãe que o corpo do bebê será erogenizado, pois este bebê é dotado de uma sexualidade perverso-polimorfa, tendo um corpo pulsional. Essas pulsões, parciais, emanam de zonas erógenas que se apoiam em funções vitais e, por isso, a sexualidade infantil é pré-genital, diferenciando-se da sexualidade adulta). (COSTA, 2012)
  • Em determinado momento da constituição do sujeito, essa sexualidade perverso-polimorfa irá submeter-se a uma espécie de amnésia infantil cuja essência, segundo Corrêa e Pinheiro (2013), “consiste na operação de recalque que abre as portas para o período de latência”.
  • A latência compreende forças inibitórias, obstáculos à pulsão, e têm por objetivo reduzir essas pulsões sexuais neste período. Essas forças inibitórias surgem pelo processo de sublimação que, para Freud (1905), é um processo em que há um desvio das forças pulsionais sexuais da finalidade puramente sexual para orientarem-se para novas metas. Ou seja, essa energia sexual é desviada para outros fins, como por exemplo, fins culturais.
  • OBS. Relembrar sobre asco, repugnância, ideais estéticos e morais...
  • Na puberdade, para Freud (1905), ocorrem transformações significativas, a pulsão sexual, que até então era primordialmente autoerótica, agora passa a encontrar outro alvo sexual, um objeto ao qual todas as pulsões parciais se conjugam e as zonas erógenas passam a obedecer ao primado da zona genital.

 

  • A mudança que mais se destaca na puberdade é “o crescimento manifesto da genitália externa, que exibira, durante o período de latência da infância, uma relativa inibição” (FREUD, 1905). Um novo corpo é percebido neste momento, onde os genitais agora estão preparados para atividades de cunho sexual e ficam à mercê de estímulos para serem acionados.

  • Alberti (2010) enfatiza o encontro com o sexo, momento em que toda passagem pela puberdade implica. Para a autora, algo inesperado provoca angústia por trazer sempre a marca do encontro com o real, com o que não é simbolizável, o que não pode ser dito.
  • [...] chegada à latência, a criança começará a se dar conta de que até mesmo seu pai claudica. Apesar dessa descoberta não impedir que o sujeito continue desejando ter um falo – se for desejante o sujeito sempre desejará ter um falo -, ela exigirá uma tomada de posição diante das evidências da castração. (ALBERTI, 2010, p. 29 e 30)
  • Antes de entrar no período de latência, a criança irá passar pelo Complexo de Édipo, do qual deriva-se uma profunda identificação da criança com um dos genitores, que passa de objeto de amor para objeto de identificação. (COSTA, 2012).
  • Nesse sentido, a criança ao final do Complexo de Édipo faz uma internalização das figuras parentais e, posteriormente, na chegada da adolescência, ela começará a fazer o processo de separação desses pais. Isso porque, ao entrar em contato com o mundo exterior, com novas experiências e relações, o adolescente passa a sentir que o pai, antes idealizado e ao qual se identificava, também falha. (ALBERTI, 2010)
  • O adolescente questiona, antes de mais nada, porque os modelos identificatórios se afrouxam, o que trará inúmeros efeitos, até mesmo na esfera de identificação sexual.
  • Se a criança faz de tudo para poder atribuir uma posição idealizada aos pais dos quais depende para sobreviver, preferindo às vezes até mesmo se recriminar para não recrimina-los, há um momento na vida dessa criança que cresce em que não é mais possível fechar os olhos à insuficiência deles.  E os pais são sempre mais ou menos insuficientes, jamais perfeitos. (ALBERTI, 2010, p. 23) Mas o adolescente ainda vive esse impasse...
  • (Ambivalência em evidência / a falta atribuída à um dos genitores, por exemplo)
  • Nesse sentido, é importante que essas referências de identificação que o adolescente tenha com seus pais comecem a vacilar, pois é a partir daí que ele encontrará a possibilidade de descobrir seu próprio jeito, criar sua própria “identidade”.
  • Assim, a partir do momento em que o adolescente já não espera mais que o Outro faça as coisas por ele, é que vai atrás de sua própria identidade, no sentido de buscar perceber seu próprio desejo, e não mais o do Outro. (ALBERTI, 2010).
  • A presença dos pais é fundamental junto ao adolescente, para que ele possa desempenhar sua função de separação, podendo fazer suas próprias escolhas.
  • À medida que o bebê cresce e faz suas próprias experiências de vida, incorpora a alteridade aos poucos, de forma que ela determine sua própria constituição. O sujeito adolescente já fez uma quantidade suficiente de experiências para que esse Outro faça parte dele, o que não impede que busque reconhecê-lo em substitutos ao longo de toda sua existência. (ALBERTI, 2010, p. 13)
  • A separação em questão não é do Outro agora incorporado, mas dos pais imaginarizados e idealizados, e só poderá acontecer se a incorporação dos pais - como diria Freud a propósito do período que chamou de latência – tiver obtido êxito.
  • Quanto mais sólida tal incorporação, maior terá sido a herança dos pais que servirá como recurso para o sujeito adolescente agir conforme suas próprias decisões. (ALBERTI, 2010, p. 14)
  • É comum esse sentimento de ambivalência entre amor e raiva, o que mostra estar em constante trânsito entre estar alienado e separado, entre obedecer e não obedecer, e até alguns conflitos que isso pode gerar com os seus pais.
  • Neste momento, o maior trabalho da puberdade é o de se desligar desse ideal das referências infantis e se identificar com novas referências. Desta maneira, ele se vê levado a construir suas próprias referências, identificando-se com novos modelos. (ALBERTI, 2010).
  • Em “Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar”, Freud (1914) comenta a importância do desligamento que o jovem deve fazer do pai e sua substituição pela figura do mestre no tempo da adolescência. Ele acrescenta que tudo o que distingue a nova geração, tanto o que é portador de esperança quanto o que choca, tem como condição esse desligamento do pai. O desligamento da autoridade dos pais cria a oposição entre a nova e a velha geração, necessária à inserção social. (LIMA et al, 2011, p.1)
  • OBS. Um mestre pode ser um educador, um ídolo, o grupo a que pertence, um ideal, etc...
  • Nesse sentido, o sujeito se vê a partir do olhar do Outro e por isso se apoia neste ideal do eu para se sustentar na existência.
  • Então, na separação, ao buscar no Outro um significante que lhe represente, o sujeito acaba encontrando a falta desse significante e, assim, o sujeito se instala nesse lugar da falta no Outro.
  • Desta maneira, o sujeito se localiza a partir dessa falta, e é por isso que o adolescente vai se confrontar com um vazio, com algo que não pode nomear e isso vai possibilitar que ele se veja de um modo diferente daquele que o Outro inicialmente o significava, realizando assim a separação desse Outro ao qual estava identificado e alienado, buscando novas figuras de identificação. (LIMA et al, 2011)
  • A PASSAGEM AO ATO NOS ADOLESCENTES

(considerações de Philippe Lacadée)

  • A metamorfose da puberdade não vai se dar, talvez, sem correr riscos. Alguns adolescentes, em nome da “verdadeira vida”, são impulsionados a correr riscos frequentemente vitais, sem nenhuma consciência do perigo iminente. Chamamos esses “comportamentos de risco” de novos sintomas.

 

  • Trata-se de uma ruptura, um curto-circuito da relação ao Outro. Mas, paradoxalmente, estes comportamentos de risco mantêm um certo endereçamento ao Outro.

  • Exemplos: a toxicomania, o alcoolismo, a velocidade nas estradas, as tentativas de suicídio, os transtornos alimentares, as fugas, explosões de violência, etc...

  • O adolescente parece capturado por esta atração de um ato a ser efetuado, como se ele fosse mais autêntico do que as palavras.
  •  “Carta 46”, endereçada por Freud a Fliess: “O excedente sexual impede a tradução [em imagens verbais]” (1956. p. 145).
  • Dito de outra forma, todo excedente de sensações, de tensões impede uma tradução em significantes, é o que diríamos com Lacan, onde Freud fala de imagens verbais.
  • uma sensação, uma tensão surgem e que eles não possuem palavras para traduzir o que lhes acontece no corpo ou em seus pensamentos. É daí que pode surgir a provocação linguageira, ou uma certa violência que se traduz através de um ato.

 

  • OBS. “provocação” vem do latim provocare, que quer dizer chamar para lado de fora.

  • E O PAPEL DA ESCOLA?
  • A escola não deve esquecer-se jamais que de tem se ocupar de indivíduos ainda imaturos, aos quais não pode ser recusado o direito de demorar-se em certas fases, mesmo desagradáveis de desenvolvimento. Ela não deve reivindicar por sua conta, a inexorabilidade da vida, ela não deve querer ser mais do que um jogo de vida.” (Freud, 1910, Contribuições para uma discussão acerca do suicídio In Breves escritos)
  • Inexorável: severidade, que não pode ser amenizada

  • Professores: substitutos do Grande Outro (A), considerar o lugar que ocupam na transferência e a ambivalência da qual são alvos...
  • Os professores estão conscientes disso?
  • É nos professores que muito frequentemente as crianças percebem e calculam um ponto de onde se veem diferentes do que eram como crianças.
  • ATO SUICIDA
  • Sobre “demorar-se nesta fase desagradável do desenvolvimento”, é o que Lacan chamou de gozo, que faz com que às vezes o sujeito não queira necessariamente o seu próprio bem. Ele pode também querer, conscientemente ou não, prejudicar-se. A clínica do ato suicida é, sem dúvida, aquela que ilustra melhor este paradoxo.
  • A passagem ao ato através da tentativa de suicídio – que de todo modo sempre se deve levar a sério – representaria a tentativa de se separar da sua mãe, ou do pensamento que tem da sua mãe, ou do que pensa ser para a sua mãe?
  • É por isso que é necessário oferecer aos adolescentes lugares de conversação, onde eles possam agarrar uma nova palavra que lhes permita traduzir suas sensações e dizer sobre esta delicada transição.
  • A transição é antes de tudo para nós uma figura retórica que permite passar de uma palavra à outra. Passando de uma palavra à outra, o jovem se separa do que prendia sua cabeça, deste pensamento que poderia cortá-lo do Outro e que produziria este estranho sofrimento.
  • Passar por análise é a tentativa de ultrapassar o gozo e passagens ao ato, tirando o adolescente desse “ruminar totalmente sozinho no seu exílio”.

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