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Cuidado No Final Da Vida: Reflexões Sobre A Morte E O Morre

Por:   •  15/3/2024  •  Artigo  •  3.950 Palavras (16 Páginas)  •  59 Visualizações

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CUIDADO NO FINAL DA VIDA: REFLEXÕES SOBRE A MORTE E O

MORRER

ANA HELENA ARAÚJO BOMFIM QUEIROZ16

ÂNGELA MARIA ALVES E SOUZA17

RICARDO JOSÉ SOARES PONTES18

Resumo: Esse estudo tem o objetivo de resgatar algumas contribuições das ciências humanas e sociais para

reflexão sobre a morte e o morrer no contexto dos cuidados no final da vida. Ante a relação histórica de

progressivo afastamento da sociedade ocidental e do indivíduo com a morte, supõe-se que o modo como os

cuidadores, tanto os profissionais de saúde como os familiares, lidam com seus sentimentos e emoções diante

da morte contribui em como o cuidado será realizado junto aos doentes e suas famílias.

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Palavras-chave: Morte e Morrer. Cuidados Paliativos. Saúde Pública.

O objetivo deste artigo é resgatar algumas contribuições das ciências humanas e sociais para

a reflexão sobre a relação do ser humano com a morte e com o processo de morrer no contexto

dos cuidados no final da vida. É parte dos resultados da dissertação de mestrado em Saúde Pública

da primeira autora, intitulada “Familiares e profissionais de saúde: cuidados domiciliares no final da

vida”, cujo objetivo foi compreender como é cuidar de pessoas com doença em estágio terminal no

domicílio, na perspectiva dos familiares e profissionais de saúde.

Investigar sobre os cuidados no final da vida torna-se relevante diante do contexto atual de

transição demográfica e epidemiológica, em que se percebe um crescente envelhecimento populacional e

um aumento da prevalência de doenças crônico-degenerativas (doenças cardiovasculares e neoplasias),

além de uma maior longevidade, proporcional à população de idosos. Estima-se que, nos próximos

anos, cerca de um milhão de pessoas na América Latina e Caribe necessitarão de cuidados no final

da vida, sendo grande parte delas acometidas por neoplasias (INOCENTI; RODRIGUES; MIASSO,

2009).

16 Mestre em Saúde Pública. Professora do curso de Psicologia da Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: anahelenabqueiroz@

gmail.com

17 Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:

amasplus@yahoo.com.br

18 Pós-doutor em medicina. Professor Departamento de Saúde Comunitária. Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:

rjpontes@fortalnet.com.br

Ano 01, Edição 02, p. 192 - 395, Nov. 2012/Jun.2013 Ano 01, Edição 02, p. 192 - 395, Nov. 2012/Jun.2013.

Cuidado no final da vida pode ser definido como o conjunto de teorias e práticas cujo objeto central é o fenômeno da morte (REGO; PALÁCIOS, 2006). São os cuidados “[...] prestados aos familiares e aos pacientes em fase aguda e de intenso sofrimento, na evolução final de uma doença terminal, num período que pode preceder horas ou dias o óbito.” (MORITZ et al., 2008, p. 423).

Diante da necessidade intervenção nessa fase da vida, surge a expressão cuidados paliativos, que se configura como modalidade emergente de assistência (FLORIANI; SCHRAMM, 2008), um modelo da gestão do fim da vida (MARINHO; ARÁN, 2011), amparada na filosofia do moderno movimento Hospice. Alguns fatores contribuíram para o surgimento desse movimento: a gestão dos casos de sobrevida artificial e o conceito de morte cerebral no final da década de 1960, o deslocamento da morte para os hospitais e as modificações das relações do médico com o paciente moribundo, o que ensejou críticas à profissão e à noção de “boa morte (MARINHO; ARÁN, 2011).

O termo Hospice tem origem no latim hospes, que se relaciona à hospitalidade. No século XIX, na França, os hospices eram abrigos para peregrinos e apresentavam caráter religioso. Atualmente, o termo Hospice é reconhecido como o local onde são desenvolvidos os cuidados paliativos (MELO; CAPONERO, 2009).

A expressão cuidados paliativos, cunhada por Balfour Mount, médico cirurgião canadense, no início da década de 1970 do século XX , foi incorporada posteriormente ao movimento Hospice, que utilizava anteriormente o termo “cuidado hospice” em referência aos cuidados realizados no fim da vida (FLORIANI, 2009). Os cuidados paliativos abrangem um campo interdisciplinar de “[...] cuidados totais, ativos e integrais dispensados aos pacientes com doenças avançadas e em fase terminal.” (FLORIANI E SCHRAMM, 2007, p. 2073). Esses cuidados podem ser desenvolvidos em ambiente hospitalar, ambulatorial, domiciliar e em locais específicos, os hospices.

A morte é um tema interdisciplinar, pois se encontra na confluência de vários discursos. No enfoque biomédico, o objetivo é definir as razões fisiológicas e patológicas que produzem o final da vida de uma pessoa e influenciam no processo de morrer. Do ponto de vista sociológico, a morte, em sua condição universal, apresenta-se de forma diferenciada em determinados momentos históricos e em diferentes sociedades. O discurso da Antropologia Cultural contribui com a reflexão da morte considerando a variedade cultural, enquanto a Antropologia Filosófica investiga o sentido último que tem para o ser humano essa experiência. O discurso bioético aponta os parâmetros para morrer com dignidade. Na perspectiva psicológica, a morte

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