Dinâmica, Perls
Por: wagnerlourenzon • 21/4/2016 • Trabalho acadêmico • 2.056 Palavras (9 Páginas) • 576 Visualizações
DINÂMICA
Crescimento Psicológico
Perls definia a saúde e a maturidade psicológicas como sendo a capacidade de emergir do apoio e da regulação ambientais para um auto apoio e uma auto regulação. O processo terapêutico representa um esforço na direção desta emergência. O elemento crucial no auto apoio e na auto regulação é o equilíbrio. Uma das proposições básicas da teoria da Gestalt é que todo organismo possui a capacidade de realizar um equilíbrio ótimo consigo e com seu meio. As condições para realizar este equilíbrio envolvem uma conscientização desobstruída da hierarquia de necessidades, que descrevemos anteriormente.
Uma apreciação plena desta hierarquia de necessidades só pode ser realizada através da conscientização que envolve todo o organismo, uma vez que necessidades são experienciadas por cada parte do organismo e sua hierarquia é estabelecida por meio de sua coordenação.
Perls considera o ritmo de contato/fuga com o meio ambiente (que mencionamos anteriormente) como o componente principal do equilíbrio organísmico. A imaturidade e a neurose implicam uma percepção inapropriada do que constitui este ritmo ou uma incapacidade de regular seu equilíbrio.
Indivíduos auto apoiados e autorregulados caracterizam-se pelo livre fluir e pelo delineamento claro da formação figura-fundo (definição de sentido) nas expressões de suas necessidades de contato e retraimento. Tais indivíduos reconhecem sua própria capacidade de escolher os meios de satisfazer necessidades à medida que estas emergem. Têm consciência das fronteiras entre eles mesmos e os outros e estão particularmente conscientes da distinção entre suas fantasias sobre os outros (ou o ambiente) e o que experienciam através do contato direto.
Ao acentuar a natureza do auto apoio e da auto regulação do bem-estar psicológico, Perls não quer dizer que o indivíduo pode existir, de algum modo, separado de seu meio ambiente. Na verdade, o equilíbrio organísmico supõe uma constante interação com o meio. O ponto crucial para Perls é que podemos escolher a maneira como nos relacionamos com o meio; somos auto apoiados e autorregulados quanto ao fato de que reconhecemos nossa própria capacidade de determinar como nos apoiamos e regulamos dentro de um campo que inclui muito mais do que nós mesmos. Perls descreve vários modos pelos quais se realiza o crescimento psicológico. O primeiro envolve o completamento de situações ou gestaltes inacabadas, que já descrevemos pouco atrás. Ele também sugere que a neurose pode ser vagamente considerada como um tipo de estrutura em cinco camadas, e que o crescimento psicológico (e eventualmente a libertação da neurose) ocorre na passagem através destas cinco camadas.
Perls denomina a primeira camada de camada dos clichês ou da existência dos sinais. Ela inclui todos os sinais de contato: “bom dia”, “oi” , “o tempo está bom, não é?’* A segunda camada é a dos papéis ou jogos. É a camada do “como se” em que as pessoas fingem que são aquelas que gostariam de ser: o homem de negócios sempre competente, a menininha sempre bonitinha, a pessoa muito importante.
Depois de termos reorganizado essas duas camadas, Perls sugere que alcançamos a camada do impasse, também denominada camada da anti-iexistência ou do evitar fóbico. Aqui experienciamos o vazio, o nada: é o ponto em que, para evitarmos o nada, geralmente interrompemos nossa tomada de consciência e retrocedemos à camada dos papéis. Se, no entanto, formos capazes de manter nossa autoconsciência neste vazio, alcançaremos a morte ou camada implosiva. Esta camada aparece como morte ou medo da morte, pois consiste numa paralisia de forças opostas; experienciando esta camada contraímo-nos e comprimimo-nos-implodimos. No entanto, se pudermos ficar em contato com esta morte, alcançaremos a última camada, a explosiva. Perls sugere que a tomada de consciência deste nível constitui a emergência da pessoa autêntica, do verdadeiro self, da pessoa capaz de experienciar e expressar suas emoções. E Perls adverte:
Agora, não se apavorem com a palavra explosão. A maior parte de vocês sabe dirigir um carro . Existem milhares de explosões por minuto dentro do cilindro.
Isto é diferente da violenta explosão do catatônico: esta seria como a explosão num tanque de gasolina . Outra coisa, uma única explosão não quer dizer nada.
As assim chamadas quebra de couraça da teoria reichiana tem tão pouca utilidade quanto o insight da psicanálise. As coisas ainda precisam ser trabalhadas
(P erls, 1 9 6 9 , p. 85 n a e d . bras., com os grifos acrescentados).
Existem quatro tipos de explosões que o indivíduo pode experienciar ao emergir da camada da morte. Existe a explosão em pesar, que envolve o trabalho com uma perda ou morte que não tinha sido previamente assimilada. Existe a explosão em orgasmo em pessoas sexualmente bloqueadas. Existe a explosão em raiva quando sua expressão foi reprimida. E, por fim, existe a explosão no que Perls chama de joie de vivre-alegria e riso, alegria de viver.
A estrutura de nossos papéis é coesiva pois destina-se a absorver e controlar a energia destas explosões. A concepção errónea básica de que essa energia precisa ser controlada deriva de nosso medo do vazio e do nada (terceira camada). Interpretamos a experiência de um vazio como sendo um vazioestéril e não um vazio fecundo; Perls sugere que as filosofias orientais, a filosofia Zen em particular, têm muito a nos ensinar a respeito da experiência do nada, positiva e geradora de vida, e a respeito da importância de permitirmos a experiência do nada sem interrompê-la.
Em todas suas descrições de como um indivíduo se desenvolve, Perls mantém a idéia de que a mudança não pode ser forçada e que o crescimento psicológico é um processo natural e espontâneo.
Obstáculos ao Crescimento
Perls considera a fuga da conscientização e a consequente rigidez da percepção e do comportamento como os maiores obstáculos ao crescimento psicológico. Os neuróticos (aqueles que interrompem seu próprio crescimento) não podem ver claramente suas necessidades e tampouco podem distinguir de forma apropriada entre eles e o resto do mundo. Em consequência, são incapazes de encontrar e manter um equilíbrio adequado entre eles próprios e o resto do mundo. A forma que este desequilíbrio geralmente toma é a pessoa sentir que os limites sociais e ambientais penetram muito fundo dentro dela mesma; a neurose consiste em manobras defensivas destinadas ao equilíbrio e proteção contra este mundo invasor.
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