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Do Caos ao Cérebro

Por:   •  5/6/2023  •  Ensaio  •  1.571 Palavras (7 Páginas)  •  83 Visualizações

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Do Caos ao Cérebro. Deleuze, Gilles; Guattari, Félix. In: O que é a filosofia?

Do caos ao cérebro, começam com um pedido: “um pouco de ordem para nos proteger do caos” (Deleuze e Guattari, p. 237). É sobre a dor e a angústia da ideia que escapa a si mesma que falam os autores,  ideias que fogem, se precipitam: “Variabilidades infinitas cuja desaparição e aparição coincidem. São velocidades infinitas, que se confundem com a imobilidade do nada incolor e silencioso que percorrem, sem natureza nem pensamento.” (Deleuze e Guattari, p. 237).

        Daí querermos tanto nos agarrar às opiniões prontas, já que nos oferecem regularidades, semelhança, contiguidade, causalidade, permitindo-nos um pouco de ordem nas ideias: “Mas não haveria nem um pouco de ordem nas ideias, se não houvesse também nas coisas ou estados de coisas, como um anticaos objetivo.” ( Deleuze e Guattari, p. 237.). Pensando com Kant, os autores apontam que para que haja acordo entre as coisas e o pensamento é necessário que a sensação se reproduza. “É tudo isso que pedimos para formar uma opinião, como uma espécie de ‘guarda-sol’ que nos protege do caos.” (Deleuze e Guattari, p. 238).

        Entretanto, a arte, a ciência e a filosofia exigem mais, traçando planos sobre o caos. As três querem que rasguemos o firmamento e que mergulhemos no caos. Parecendo retornar do país dos mortos, o filósofo traz do do caos “variações que permanecem infinitas, mas tornadas inseparáveis sobre superfícies ou em volumes absolutos, que traçam um plano de imanência secante” (Deleuze e Guattari, p. 238), que não sendo mais associações de ideias distintas, passam a re-encadeamentos, por zonas de indistinção, num conceito.

O cientista traz do caos “variáveis tornadas independentes por desaceleração, isto é, por eliminação de outras variabilidades quaisquer, suscetíveis de interferir, de modo que as variáveis retiradas entram em relações determináveis numa função: não mais são liames de propriedades nas coisas, mas coordenadas finitas sobre um plano secante de referência, que vai das probabilidades locais a uma cosmologia global.” (Deleuze e Guattari, p. 238).

Por sua vez, o artista traz do caos “variedades, que não constituem mais uma reprodução do sensível no órgão, mas erigem um ser sensível, um ser da sensação sobre um plano de composição, anorgânica, capaz de restituir o infinito”. (Deleuze e Guattari, p. 238/239). Enquanto para o filósofo e para o cientista se trata de vencer o caos por um plano secante que o atravessa, para o artista, a luta contra o caos dá-se como um salto que o conduz do caos à composição.

Dessa forma, as três disciplinas procedem por crises em uma luta contra o caos que implica certa afinidade pelo inimigo, já que: “uma outra luta se desenvolve e ganha mais importância, contra a opinião, que, no entanto, pretendia nos proteger do caos.” (Deleuze e Guattari, p. 239). Assim, a arte opera uma fenda, rasgando até o firmamento, fazendo passar um pouco de caos: “A arte transforma a variabilidade caótica em variedade caoide (...) A arte luta com o caos, mas para deixá-lo mais visível” (p. 241).

“O pintor não pinta sobre uma tela virgem, nem o escritor escreve sobre uma página branca, mas a página ou a tela já estão de tal maneira cobertas de clichês preexistentes, preestabelecidos, que é preciso de início apagar, limpar, laminar, mesmo estraçalhar para fazer passar uma corrente de ar, saída do caos, que nos traga a visão.” (p. 240).

A luta da ciência contra o caos desacelera suas variabilidades sob constantes, submetendo-o a uma seleção que reterá pequena parte da das variáveis a serem controladas e postas em relação a cálculos deterministas a a cálculos probabilísticos. Não obstante, mesmo nessa posição a ciência experimente profunda atração pelo caos: “Se a desaceleração é a fina borda que nos separa do caos oceânico, a ciência se aproxima tanto quanto ela pode das vagas mais próximas, estabelecendo relações que se conservam com a aparição e desaparição das variáveis” (p. 242)

A filosofia, em sua luta contra o caos, produz variações conceituais, sendo um conceito “um conjunto de variações inseparáveis que se produz ou se constrói sobre um plano de imanência, na medida em que recorta a variabilidade caótica e lhe dá consistência (realidade). Um conceito é, pois, um estado caoide por excelência” (p. 245).

“Numa palavra, o caos tem três filhas segundo o plano que o recorta: são as Caoides, a arte, a ciência, a filosofia, como formas do pensamento ou da criação. Chamam-se caoides realidades produzidas em planos que recortam o caos.” p. 245

Através deste percorrido, os autores apontam que a junção desses três planos é o cérebro, ressaltando que não se trata de uma unidade dos planos, mas de sua junção. Apresentando essa noção, os autores passam a problematizar uma dupla questão com relação ao cérebro: “as conexões são preestabelecidas, guiadas por trilhos, ou fazem-se e desfazem-se em campos de forças? E os processos de integração são centros hierárquicos localizados, ou antes formas (Gestalten), que atingem suas condições de estabilidade num campo do qual depende a posição do próprio centro?” (p. 245). Sendo tratado como objeto cientificamente constituído, o cérebro aparece como um órgão de formação e comunicação da opinião.

        Dessa forma, a arte, a filosofia e a ciência não constituem objetos mentais de um cérebro objetivado, mas sim os três aspectos sob os quais o cérebro se torna sujeito: “os três planos, as jangadas com as quais ele mergulha no caos e o enfrenta.” (p. 247).

O filósofo, o cientista, o artista, parecem retornar do país dos mortos. O que o filósofo traz do caos são variações que permanecem infinitas, mas tornadas inseparáveis sobre superfícies ou em volumes absolutos, que traçam um plano de imanência secante: não mais são associações de ideias distintas, mas re-encadeamentos, por zonas de indistinção, num conceito. O cientista traz do caos variáveis, tornadas independentes por desaceleração, isto é, por eliminação de outras variabilidades quaisquer, suscetíveis de interferir, de modo que as variáveis retiradas entram em relações determináveis numa função: não mais são liames de propriedades nas coisas, mas coordenadas finitas sobre um plano secante de referência, que vai das probabilidades locais a uma cosmologia global. O artista traz do caos variedades, que não constituem mais uma reprodução do sensível no órgão, mas erigem um ser sensível, um ser da sensação sobre um plano de composição, anorgânica, capaz de restituir o infinito. A luta com o caos, que Cézanne e Klee mostraram em um ato na pintura, no coração da pintura, se encontra de uma outra maneira na ciência e na filosofia: trata-se sempre de vencer o caos por um plano secante que o atravessa.  p. 238/239.

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