Dois Nascimentos do Homem: Escritos Sobre Terapia e Educação na Era da Técnica
Por: Natalia Greggio • 1/4/2021 • Resenha • 1.081 Palavras (5 Páginas) • 335 Visualizações
POMPÉIA, J. A. Daseinanalyse e Clínica. In: POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. Dois nascimentos do Homem: escritos sobre terapia e educação na era da técnica. Rio de Janeiro: Via cerita, 2011, p. 141- 160.
Fichamento 1
O autor inicia o capítulo fazendo referência ao conceito de clínica que, até os dias atuais, ainda causa certa confusão, tendo em vista que o trabalho clínico é entendido como psicoterapia. Contudo, a psicoterapia ocorre por diferentes teorias e, além disso, o conceito de psicologia ainda não é muito claro.
Comenta que com o passar dos anos, a palavra "logos" sofreu diversas alterações tendo como significado desde um "enunciado" até culminar no significado de conhecimento que ordena e organiza as determinações universais. No mundo ocidental, o conhecimento pode ser definido como algo que parte de um caso particular, passa por um processo de abstração e em seguida por generalizações amplas, até culminar na explicação de casos particulares, e, neste sentido, requer o distanciamento da realidade e do singular.
Segundo o autor, o conhecimento possui quatro características próprias, a saber: atomização, que significa que é preciso decompor o que será estudado, sendo que este pressuposto vale inclusive para a psicologia; procura por explicações causais, que requer um estudo do objeto de conhecimento para justificar o fato de ele ser o que é e como é.
Quando se conhece as causas de algo, é possível interferir nelas, desta forma, o conhecimento é um instrumento de intervenção na realidade, dando poder a quem o possui, por último, a quarta característica está relacionada ao poder de modificar uma realidade, pois o conhecimento é capaz de controlar uma realidade conforme é desejado.
No entanto, para conhecer, é preciso distanciar-se da realidade, uma vez que a ciência é feita pela abstração do que é particular ao ir à procura do que é comum. Assim, se o termo logos significa conhecimento, a palavra psicologia significa o conhecimento da psique, de onde advém a palavra psiquismo, relacionado ao sopro, à vida, á alma como princípio de vida, equivalente à alma.
O autor cita Aristóteles que postulava que a alma humana tem a faculdade da razão, contudo, Descartes rompeu com a tradição aristotélica ao propor um dualismo, no qual, de um lado, existe uma coisa pensante (res cogitans), o pensamento, e do outro, tudo o que há para ser conhecido (res extensa). Contudo, a res cogitans não é concebida com o princípio de vida tal como em Aristóteles e com o cartesianismo a palavra psique passa a se referir à subjetividade do indivíduo, à mente ou consciência que visa conhecer o mundo externo.
Foi no final do século 19 que as questões referentes à mente passaram a ser estudadas em laboratório. Para exemplificar, o autor cita Wundt que pesquisou sobre as sensações e percepções e Freud, que procurou delinear a estrutura do psiquismo por meio da clínica. Paralelamente a isso, desenvolveu-se as teorias comportamentais, que procuravam controlar e medir o comportamento humano.
Além disso, as pesquisas que tinham como objetivo estudar o cérebro humano ajudaram a transformar a palavra psique (que antes significava alma) em outros significados, tais pensamento ou consciência, tirando aos poucos o caráter de subjetividade do termo psique para dar lugar a termos como emoções, valores e estruturas cerebrais.
Ainda nos dias atuais, o psicólogo clínico baseia sua atuação no logos como conhecimento, ou seja, seu papel está pautado em conhecer um objeto, as causas do paciente e lutar contra ela. Aliado a isso, a medicalização desenfreada tem como escopo eliminar os sintomas que incomodam sem procurar sua causa e sem ater-se ao que acontecerá alguns anos depois.
Desta forma, parece que a atuação do psicólogo está restrita à cura, à destruição do mal que ataca o homem sem considerar que as dificuldades podem ser oportunidades de crescimento.
Entretanto, da perspectiva da fenomenologia que postula o homem como ser no mundo, o logos e a psique são compreendidos de modo diferente, sobretudo na clínica psicológica. Assim, a daseisanalise faz uma crítica ao logos que se assume como modelo universal. Em relação à psique, tal conceito é vazio, uma vez que o ser humano é concebido como dasein, ser aí no mundo.
Desta forma, para a fenomenologia, o logos deixa de ser o conhecimento racional que se distancia do objeto para a compreensão, para concebê-lo como um saber que tem com as coisas uma relação de intimidade e liberdade.
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