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Familias Incestuosas

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Por:   •  24/3/2015  •  4.978 Palavras (20 Páginas)  •  328 Visualizações

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Resumo: O presente artigo tem por objetivo refletir sobre as relações estabelecidas no seio familiar que favorecem o abuso sexual intrafamiliar entre pai e filha, trazendo à tona não apenas o que ocorre entre esses dois personagens que estão diretamente envolvidos na cena incestuosa, mas também a participação indireta da mãe na configuração deste cenário de violência. Sendo assim, abordaremos questões, tais como, a família enfraquecida e adoecida, a confusão das funções parentais e o lugar da filha abusada pelo pai em relação ao Édipo da mãe. Para dialogar com as reflexões da literatura especializada, no campo da psicanálise, também foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 08 profissionais de psicologia que trabalham nos âmbitos da clínica e da justiça, com tal problemática. Conclui-se que, nem sempre, a mãe se encontra ausente nas situações de abuso entre pai e filha, mas se faz presente por trás das cortinas dessa vivência, consentindo consciente e/ou inconscientemente, realizando os seus próprios desejos edipianos, através da relação incestuosa de sua filha com o seu marido.

Palavras-chave: Família incestuosa. Abuso sexual intrafamiliar. Funções parentais. Psicanálise.

1. Introdução

Se não vejo na criança uma criança, é porque alguém a violentou antes, e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado. [...] Diante dela, o mundo deveria parar para começar um novo encontro, porque a criança é o princípio sem fim e o seu fim é o fim de todos nós (SOUZA, 2014, p. 1).

Interessando-se, inicialmente, pelo fenômeno abuso sexual intrafamiliar, mais particularmente entre pai e filha, desvela-se outra figura nos bastidores dessa cena incestuosa: a mãe. Sem mudar de foco, mas ampliando a compreensão do que se passa no interior de toda a família na composição de tal cena, voltamo-nos para o que ocorre não apenas com estes dois personagens que estão diretamente envolvidos no acontecimento abusivo, mas também com a figura materna que, embora não esteja fazendo parte da cena propriamente dita, “participa” indiretamente da mesma.

Os estudiosos desta temática “abuso sexual” levantam a possibilidade de que não se deve levar em consideração apenas o par, “vítima-agressor”, mas que a família como um todo é incestuosa. Portanto, além de existir o autor da agressão em si, aquele que efetivamente comete o ato abusivo; existem outros que “consentem” – consciente e/ou inconscientemente – o tal ato, sem que dele participe diretamente, mas que também tem um papel relevante na configuração do cenário de violência.

Não queremos, aqui, desconstruir radicalmente o “mito” da mãe boa. Até, porque, inúmeras mães, na medida do possível, fazem jus ao mesmo, cuidando e oferecendo segurança aos seus filhos. Entretanto, por razões conscientes e/ou inconscientes que só a própria história de vida pode explicar, algumas tantas mães vacilam no papel de protetoras de seus filhos, testemunhando e consentindo o cenário de violência familiar. Portanto, queremos, aqui, dar ressonância às palavras daquelas crianças e adolescentes que, ao sofrerem o abuso sexual, afirmam que o maior ressentimento não é necessariamente em relação ao autor direto da agressão, mas justamente em relação àquela que, tendo a missão de proteger, assim não o fez (COHEN, 2001; GOBBETTI, 1998).

Diante do que foi exposto, o presente artigo tem como objetivo compreender as relações estabelecidas no seio familiar que podem favorecer o abuso intrafamiliar entre pai e filha, colocando em risco a saúde física e psíquica de crianças e adolescentes, trazendo à baila, também, a figura materna como “participante” indireto do cenário de violência.

Esta temática se justifica pelo número crescente de casos que chegam, muitas vezes, por meio de denúncias e notificações, concernentes à prática da violência sexual no espaço familiar e que tem chamado atenção do Estado e dos órgãos competentes, tornando-se uma questão urgente que requer a tomada de decisões e elaboração de políticas públicas mais efetivas no combate e no enfrentamento a este tipo de violência e crime.

Para dar conta de tal proposta de estudo, tomamos a literatura especializada sobre abuso sexual intrafamiliar na perspectiva psicanalítica. Para dialogar com este referencial teórico, foram também realizadas entrevistas semiestruturadas, as quais foram previamente agendadas, com um (01) Psicólogo/Delegado, locado na Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA) e sete (07) profissionais de psicologia, sendo duas (02) locadas em Hospital/Escola; duas (02), em âmbito jurídico; uma (01), em Hospital Geral; uma (01), em Casa de Acolhimento; uma (01), em Instituição de Ensino Superior. Todos estes entrevistados trabalham com tal temática na sua prática profissional nos âmbitos da clínica e da justiça na Cidade do Recife.

As entrevistas foram realizadas no próprio local de trabalho dos participantes, sendo gravadas com o consentimento prévio dos mesmos e, posteriormente, transcritas. De posse dos dados obtidos, eles foram analisados de acordo com o método de análise de conteúdo temática (MINAYO, 1999). Com base em tais dados, foram levantados três temas mais recorrentes no discurso dos entrevistados: 1) o enfraquecimento e o adoecimento das famílias incestuosas; 2) a confusão e a fragilidade das funções parentais nestas famílias; e 3) o lugar da filha abusada pelo pai frente ao Édipo materno.

2. Família Enfraquecida: Palco de Violência

É, geralmente, no cenário familiar, onde a criança, ao nascer, é inserida e acolhida. Desta forma, faz-se necessário que os integrantes desta família ofereçam um ambiente satisfatório para que este recém-chegado ao mundo possa vivenciar, de forma saudável, o seu processo de desenvolvimento.

Cabe à família, enquanto agência de socialização primária, assegurar a proteção e o bem estar de seus membros, através dos cuidados, nutrindo-os não apenas com alimentos, mas também, com amor, carinho e segurança, compondo uma malha de sustentação, a fim de garantir-lhes não apenas à sua sobrevivência física, mas também a sua constituição subjetiva.

Indo nesta linha de raciocínio, podemos dizer que a família é responsável pelos primeiros vínculos afetivos que servirão de base para as relações presentes e futuras com outras pessoas. Além disso, o cenário familiar favorece condições para a aquisição de identidades pessoais, visto que os membros tomam uns aos outros como modelos de identificação (OSÓRIO, 1996).

É

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