Interpretação do filme, (Mr. Nobody - 2009), com base no existencialismo de Jean Paul Sartre
Por: izadolci • 2/11/2018 • Resenha • 1.442 Palavras (6 Páginas) • 1.423 Visualizações
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UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados[pic 1]
FCH – Psicologia – 6º Semestre
Interpretação do filme, (Mr. Nobody - 2009), com base no existencialismo de Jean Paul Sartre
O filme no começo é confuso, mas com o passar da história, começa a ficar interessante. O Protagonista do filme é Nemo ou Senhor ninguém, possui 118 anos e é o último ser mortal numa terra futurista onde as pessoas são imortais. Esse fato deixa ele famoso fazendo com que apareça na TV e seja entrevistado por um médico e depois por um jornalista. Ninguém sabe quem ele é, não tem registros sobre ele, nem mesmo ele sabe muita coisa. Ele afirma, logo no início, ter 34 anos, outra hora 15, depois 9 anos, na verdade ele vai se lembrando dos acontecimentos em sua vida e conta mais de uma versão sobre como poderia ser sua história.
O filme vai desencadeando as várias formas de vida que o protagonista poderia ter vivido em meio as escolhas que fizesse no passado, nas etapas de sua vida, ou seja, o que poderia acontecer se escolhesse determinado caminho. Várias vezes durante o filme o passado, presente e futuro se misturam onde as diferentes e possíveis realidades se cruzam, sendo observado ao final do filme, que todas elas são fruto da imaginação de Nemo, que sofre a angústia de ter que fazer escolhas. O filme mostra as simplicidades e complexidades dos comportamentos dos humanos, ou seja, cada escolha cria novas probabilidades e cada probabilidade cria novas escolhas.
A questão das escolhas é fundamental no decorrer do filme, desde a seleção dos pais antes do nascimento até o surgimento de várias escolhas possíveis no futuro, quando Nemo se vê diante de uma escolha impossível entre o pai e a mãe num momento de separação. A partir da multiplicidade das escolhas se constrói a multiplicidade das vidas de Nemo. Ou seja, do começo ao fim do filme tudo que se observa são possibilidades de escolhas no passado desencadeando por sua vez um futuro, e o momento principal é o da separação dos pais e da escolha impossível de Nemo. Isso nos faz refletir como nossas escolhas influenciam no que nós somos e o que podemos nos tornar no futuro.
Interligando essa introdução do filme ao pensamento de Sartre, o existencialismo é concebido como uma doutrina que torna a vida humana possível e segundo o autor, essa doutrina “deixa uma possibilidade de escolha para o homem”. O fator principal de seu pensamento é que a “existência precede a essência”, que significa dizer que primeiro o homem existe, surge no mundo e só depois ele se define. A princípio o homem não é nada, só depois será alguma coisa, e para ser alguma coisa precisa fazer, para Sartre, “o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo”. “O homem nada mais é do que o seu projeto; só existe na medida em que se realiza; não é nada além do conjunto de seus atos, nada mais que sua vida”. Levando em conta pensamento do autor, entendo que no filme Nemo com 118 anos, só esta com essa idade e é quem ele é, porque “se fez existir” em meio a determinadas escolhas do seu passado, ou seja, suas ações no decorrer de sua vida o fizeram chegar onde está, e ser quem é, porém o que é retratado também no filme são as várias possibilidades de escolhas que ele poderia ter feito ao longo de sua vida e que se tivesse escolhido alguma, seu futuro seria diferente. São as possibilidades de vida que ele teria se tivesse feito outras escolhas. Ele é senhor ninguém por ter tido a possibilidade de ter feito todas essas escolhas demonstradas no filme.
Em determinado momento do filme, enquanto Nemo conta as várias versões de sua história o jornalista pergunta qual delas é a certa, é quando Nemo responde que todas são certas, pois antes de ser feita uma escolha todas as possibilidades existem. E se nenhuma escolha for feita, não há como o indivíduo se afirmar, não há como ele se definir, por isso chega uma hora que ele mesmo traz a dúvida sobre sua própria existência. Porém, como diz Jean-Paul Sartre, “Seria impossível (...) definir o ser como uma presença, porque a ausência também revela o ser, já que não estar aí é ainda ser.” Portanto, Nemo mesmo não conseguindo fazer uma escolha, mesmo optando pelo nada, ainda assim ele existe e se define, pois não escolher também é uma escolha.
Sr. Ninguém é sobre as escolhas que fazemos durante nossa vida e como elas determinam quem na verdade somos. O que a princípio parece com idas e vindas no tempo são na verdade abstrações da mente do personagem, que tenta imaginar as consequências das escolhas que poderia ter feito e como cada uma delas poderia ter lhe marcado e ajudado a compor aquilo que o diferenciaria como indivíduo. Nas reconstruções de sua própria vida, Nemo escolhe ficar com um dos pais e não com o outro, casa com uma mulher diferente, tem um emprego diferente e morre de uma forma diferente, porém, em nenhuma delas ele consegue chegar aos 118 anos, idade na qual se encontra ao ensaiar suas memórias, mas em todas elas ele escolheu ser alguém, simplesmente por ter escolhido, suas ações o definiram.
O filme traz a ideia que é melhor assumir as consequências de uma escolha do que permanecer passivo diante dela, afinal, tudo pode até permanecer possível enquanto uma escolha não é feita, mas isso não é uma garantia de que ao menos uma das possibilidades venha a se concretizar de fato e de nada adianta uma longa vida não vivida. Para Sartre, “Não existe doutrina mais otimista” que o existencialismo, “visto que o destino do homem está em suas mãos”, “o existencialismo diz-lhe que a única esperança está em sua ação e que só o ato permite ao homem viver”. Já na velhice, Nemo não consegue descobrir quem na verdade é, simplesmente por ter tido todas essas possibilidades de escolhas. Ainda segundo autor Sartre, “a escolha é possível, em certo sentido, porém o que não é possível é não escolher. Eu posso sempre escolher, mas devo estar ciente de que, se não escolher, assim mesmo estarei escolhendo”.
Nemo é um exemplo do quanto pode ser angustiante fazer uma escolha, decidir o futuro. Sartre até mesmo fala sobre o desamparo e angústia que o ser humano se encontra, por ser nós mesmos que escolhemos o nosso ser, e segundo o autor, o homem está “condenado a ser livre”, porque o sujeito “não se criou a si mesmo”, é “livre, uma vez que foi lançado no mundo”. Ou seja, ninguém é responsável por nossas escolhas, temos que lidar com o peso de cada uma que fizemos sem por a culpa no mundo ou nas pessoas, e por isso nos sentimos desamparados, não há um Deus a quem recorrer. Para Sartre, tudo que o homem tem é um projeto de ser, ele sofre o peso da liberdade, é uma fatalidade. É “a obrigação de se fazer, e de ser responsável por aquilo que você mesmo se faz”. Ou seja, há sempre um projeto de vida, você está sempre entre aquilo que você já foi e não pode ser mais e aquilo que você deseja ser e ainda não é.
Nós escolhemos nosso fim, nós escolhemos nossos objetivos, nós escolhemos como vamos viver, como é que nós vamos existir, e a partir da nossa existência é que vai se dar a nossa essência, nós somos aquilo que ainda não somos, somos aquilo que planejamos ser, assim sendo nós podemos escolher como é que vamos existir, só então conseguiremos descobrir nossa essência. Nós escolhemos como iremos ser através da nossa liberdade, estamos diante de uma infinidade de possibilidades e seremos nós mesmo que vamos escolher o caminho que nós vamos existir. Nós é que devemos criar os nossos valores que irão guiar e pautar a nossa vida e farão com que a gente construa a nossa existência e a partir da nossa existência que iremos construir a nossa essência.
Referências
SARTRE, J P. O existencialismo é um humanismo. Les Éditions Nagel, Paris, 1970.
Clube de Cinema de Duas Portas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=R-CNYDSxLjw>. Acesso em 19 de janeiro de 2017.
José Bruno Ap Silva. Sublime Irrealidade. Disponível em: <http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2013/03/sr-ninguem.html>. Acesso em 19 de janeiro de 2017.
Mundo Net. Disponível em: . Acesso em 19 de janeiro de 2017.
CineMarcoCríticas. Disponível em: . Acesso em 20 de janeiro de 2017.
Mariana Carvalho Teixeira. Teoria da História II. Disponível em: http://teoriadahistoria2usp.blogspot.com.br/2013/10/analise-do-filme-mr-nobody.html>. Acesso em 20 de janeiro de 2017.
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