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Medicalização Das Dificuldades De Escolarização

Por:   •  21/8/2024  •  Resenha  •  1.271 Palavras (6 Páginas)  •  34 Visualizações

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O presente texto tem por objetivo tecer uma reflexão crítica a respeito da medicalização

das dificuldades de escolarização, fundamentada nos textos disponibilizados e nas discussões

em sala de aula do componente de Psicologia, Educação Especial e Inclusão. Para isso, é

necessário compreender, primeiramente, o conceito de medicalização, bem como sua

construção histórica, para que se possa entender como a medicalização adentrou no processo

de escolarização e como os profissionais de educação e saúde tem conduzido suas atuações

mediante esse conceito.

A medicalização pode ocorrer em diversas áreas da vida, incluindo a saúde mental, o

envelhecimento, a educação e até mesmo aspectos da sexualidade e comportamento infantil.

Entende-se que a medicalização é o “processo no qual um determinado comportamento e/ou

problema não médico é definido como uma doença, transtorno ou problema médico, sendo

delegada à profissão médica a autorização para ofertar aos indivíduos algum tipo de tratamento”

(CONRAD, P., 1975; 2007 apud CARVALHO, S. R. et al 2015, p. 1253).

Mesmo que esteja atribuído à profissão médica o domínio do conceito anteriormente

citado, outras áreas do saber dito científico, dentro da saúde e da educação, por exemplo, podem

fazer uso dessa lógica para lidar com comportamentos e/ou problemas desviantes de uma norma

social padrão. Todavia, é preciso considerar que a construção histórica da medicalização

encontra na Medicina o respaldo científico-tecnológico que repercute na construção de uma

sociedade nos moldes desse saber.

A Medicina como sendo considerada um dos primeiros conhecimentos científicos e que

atua, em uma lógica positivista, para a construção e manutenção de uma sociedade capitalista

que emana uma ideologia neoliberal, ou seja, uma sociedade que preza pela produtividade

laboral dos sujeitos, que introjeta valores individualistas e que tem a disciplina como

modalidade de exercício de poder cujo efeito é fabricar corpos dóceis e obedientes servis para

esse modo de produção, ganha um lugar de prestigio e dominação social no intuito de gerar

sujeitos hábeis, do ponto de vista da saúde, para manter e repercutir esse sistema. Sobre o papel

da Medicina, Rose (2007a) apud Carvalho, S. R., et al (2015) afirma:

A Medicina se entrelaça, nesse processo, com novos modos de governar as

pessoas, individual e coletivamente, de tal modo que os experts médicos, em aliança

com outros profissionais de saúde e autoridades políticas, buscam gerir modos de

existência com o intuito de minimizar a doença e promover a saúde individual e

coletiva” (ROSE, 2007a apud CARVALHO, S. R., 2015, p. 1259).

As repercussões dessa sociedade pautada na ideologia neoliberal, ultrapassam a

compreensão somente economicista de funcionamento e alcançam o patamar de produção de

subjetividades, modelando os sujeitos na sua forma de ser, pensar e agir. Os sujeitos nesse

contexto são compreendidos como os únicos plenamente responsáveis por suas condições de

vida, gerando auto responsabilização pelos próprios êxitos e fracassos, o que implanta nas

pessoas o espírito de competição e alta performance. Nesse sentido, as pessoas são tidas como

Capital Humano (CAPONI, S.; DARE, P. K., 2020) ou seja, precisam estar sempre aptas para

produzir nesse sistema. Como a ideologia neoliberal invade todos os âmbitos da vida, espaços

de formação de sujeitos, como as escolas, por exemplo, são vistos como fundamentais para a

constituição e valorização desse capital humano.

A constituição do capital humano inicia-se já nas primeiras fases da infância e a escola

passa a ser responsável por viabilizar o desenvolvimento e ajustar os sujeitos para o consumo

desse capital. A educação, sob essa perspectiva, cumpre o papel de desenvolver capacidades

técnicas e emocionais para que as pessoas se adequem ao sistema vigente e sejam sujeitos que

vão reproduzir os valores imprescindíveis para a manutenção da sociedade nesse contexto

neoliberal.

Desse modo, espera-se que os sujeitos sigam padrões de desenvolvimento educacional,

como aprender a ler e escrever até uma determinada idade, conseguir desenvolver raciocínio

lógico para resolução de problemas matemáticos dentro do tempo designado, desenvolvam as

atividades escolares de forma eficiente, eficiência essa medida através de pontuações, o que

legitima a ideia de sucesso e fracasso a partir dessa metodologia de avaliação etc., e padrões

emocionais e comportamentais que prezem sempre por demonstrar bem-estar, positividade,

quietude e felicidade. Esses aspectos são características que compõem o modo de ser bem

sucedido no mundo neoliberal, como afirma Caponi, S.; Kozuchovski D., P., (2020):

Para ser bem sucedido no mundo neoliberal,

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