Medicalização Das Dificuldades De Escolarização
Por: Rebeca Silva Amador • 21/8/2024 • Resenha • 1.271 Palavras (6 Páginas) • 27 Visualizações
O presente texto tem por objetivo tecer uma reflexão crítica a respeito da medicalização
das dificuldades de escolarização, fundamentada nos textos disponibilizados e nas discussões
em sala de aula do componente de Psicologia, Educação Especial e Inclusão. Para isso, é
necessário compreender, primeiramente, o conceito de medicalização, bem como sua
construção histórica, para que se possa entender como a medicalização adentrou no processo
de escolarização e como os profissionais de educação e saúde tem conduzido suas atuações
mediante esse conceito.
A medicalização pode ocorrer em diversas áreas da vida, incluindo a saúde mental, o
envelhecimento, a educação e até mesmo aspectos da sexualidade e comportamento infantil.
Entende-se que a medicalização é o “processo no qual um determinado comportamento e/ou
problema não médico é definido como uma doença, transtorno ou problema médico, sendo
delegada à profissão médica a autorização para ofertar aos indivíduos algum tipo de tratamento”
(CONRAD, P., 1975; 2007 apud CARVALHO, S. R. et al 2015, p. 1253).
Mesmo que esteja atribuído à profissão médica o domínio do conceito anteriormente
citado, outras áreas do saber dito científico, dentro da saúde e da educação, por exemplo, podem
fazer uso dessa lógica para lidar com comportamentos e/ou problemas desviantes de uma norma
social padrão. Todavia, é preciso considerar que a construção histórica da medicalização
encontra na Medicina o respaldo científico-tecnológico que repercute na construção de uma
sociedade nos moldes desse saber.
A Medicina como sendo considerada um dos primeiros conhecimentos científicos e que
atua, em uma lógica positivista, para a construção e manutenção de uma sociedade capitalista
que emana uma ideologia neoliberal, ou seja, uma sociedade que preza pela produtividade
laboral dos sujeitos, que introjeta valores individualistas e que tem a disciplina como
modalidade de exercício de poder cujo efeito é fabricar corpos dóceis e obedientes servis para
esse modo de produção, ganha um lugar de prestigio e dominação social no intuito de gerar
sujeitos hábeis, do ponto de vista da saúde, para manter e repercutir esse sistema. Sobre o papel
da Medicina, Rose (2007a) apud Carvalho, S. R., et al (2015) afirma:
A Medicina se entrelaça, nesse processo, com novos modos de governar as
pessoas, individual e coletivamente, de tal modo que os experts médicos, em aliança
com outros profissionais de saúde e autoridades políticas, buscam gerir modos de
existência com o intuito de minimizar a doença e promover a saúde individual e
coletiva” (ROSE, 2007a apud CARVALHO, S. R., 2015, p. 1259).
As repercussões dessa sociedade pautada na ideologia neoliberal, ultrapassam a
compreensão somente economicista de funcionamento e alcançam o patamar de produção de
subjetividades, modelando os sujeitos na sua forma de ser, pensar e agir. Os sujeitos nesse
contexto são compreendidos como os únicos plenamente responsáveis por suas condições de
vida, gerando auto responsabilização pelos próprios êxitos e fracassos, o que implanta nas
pessoas o espírito de competição e alta performance. Nesse sentido, as pessoas são tidas como
Capital Humano (CAPONI, S.; DARE, P. K., 2020) ou seja, precisam estar sempre aptas para
produzir nesse sistema. Como a ideologia neoliberal invade todos os âmbitos da vida, espaços
de formação de sujeitos, como as escolas, por exemplo, são vistos como fundamentais para a
constituição e valorização desse capital humano.
A constituição do capital humano inicia-se já nas primeiras fases da infância e a escola
passa a ser responsável por viabilizar o desenvolvimento e ajustar os sujeitos para o consumo
desse capital. A educação, sob essa perspectiva, cumpre o papel de desenvolver capacidades
técnicas e emocionais para que as pessoas se adequem ao sistema vigente e sejam sujeitos que
vão reproduzir os valores imprescindíveis para a manutenção da sociedade nesse contexto
neoliberal.
Desse modo, espera-se que os sujeitos sigam padrões de desenvolvimento educacional,
como aprender a ler e escrever até uma determinada idade, conseguir desenvolver raciocínio
lógico para resolução de problemas matemáticos dentro do tempo designado, desenvolvam as
atividades escolares de forma eficiente, eficiência essa medida através de pontuações, o que
legitima a ideia de sucesso e fracasso a partir dessa metodologia de avaliação etc., e padrões
emocionais e comportamentais que prezem sempre por demonstrar bem-estar, positividade,
quietude e felicidade. Esses aspectos são características que compõem o modo de ser bem
sucedido no mundo neoliberal, como afirma Caponi, S.; Kozuchovski D., P., (2020):
Para ser bem sucedido no mundo neoliberal,
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