O IMPACTO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO NA SAÚDE MENTAL DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS
Por: Danielle Cristina Frazão Pereira • 11/11/2022 • Artigo • 6.161 Palavras (25 Páginas) • 104 Visualizações
O IMPACTO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO NA SAÚDE MENTAL DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS
Danielle Cristina Frazão Pereira¹
Regienne Maria Paiva Abreu Oliveira Peixoto²
RESUMO
O presente artigo é resultado de pesquisas e estudos a respeito do impacto da violência de gênero na saúde mental de travestis e transexuais. Para alcance de respostas, este estudo foi realizado a partir de críticas acerca do determinismo biológico e da análise de contextos naturalmente vulneráveis à população trans, mais especificamente travestis e transexuais. Também fora destacado a influência da violência de gênero na procura e no atendimento de pessoas trans nos serviços de saúde, bem como os agravantes físicos e psicológicos associados a violência contra travestis e transexuais. Nesse sentido, através de debates cada vez mais presentes acerca de questões relacionadas à gênero e sexualidade, o psicólogo pode ser um importante agente de mudanças e de prevenção para que as questões políticas, éticas e sociais estejam cada vez mais alinhadas com a empatia e o acolhimento.
Palavras-chave: Violência de gênero, saúde mental, travestis, transexuais, psicólogo como agente de mudanças e de prevenção.
1 INTRODUÇÃO
A partir do momento em que se determina o sexo biológico de um indivíduo - em sua maioria ainda dentro da barriga da mãe - passa-se a criar diversas expectativas para aquela criança segundo a definição de seu sexo biológico. Logo após o nascimento, a criança já passa a ter contato com essas normas sociais, mesmo que de forma imperceptível, mas presente a todo instante. Ou seja, desde a infância, aprende-se a agir e a se expressar de uma determinada forma correspondente.
No entanto, o que define o comportamento masculino ou feminino das pessoas é a cultura em que esta se insere, desde antes do seu nascimento. A partir disso, entende-se que o conceito de gênero é construído culturalmente e é historicamente determinado, ou seja, é fruto das normas sociais impostas pela ideia do que é ser homem ou mulher. Desse modo, entende-se que não é a formação genital que define o gênero, mas sim a autopercepção e a forma com que a pessoa se manifesta no âmbito social.
Ainda assim, para o senso comum, uma vivência de gênero discordante do esperado para o seu sexo biológico é considerada algo anormal, chegando a ser tratado, em alguns casos, como um tipo de transtorno. Porém, entende-se que isso é uma questão de identidade, ou seja, a pessoa simplesmente não se identifica com o sexo biológico que tem. Esse é o caso dos transexuais e dos travestis, que por conta disso, sofrem diversas situações de violência atreladas a julgamentos, humilhações, constrangimentos e situações sociais desagradáveis, o que traz consequências na saúde física e mental dessas pessoas.
No contexto atual, o debate acerca de questões relacionadas à gênero e sexualidade se torna cada vez mais presente, envolvendo também questões políticas, éticas e sociais. Dentre as principais questões discutidas, a violência de gênero se constitui como um importante fator negativo para a saúde psicológica daqueles que fazem parte do grupo LGBTQIA+. Diante disso, esse paper é regido pelo seguinte problema de pesquisa: qual o impacto da violência de gênero na saúde mental de travestis e transexuais?
Para alcance destas respostas compreende-se como objetivo geral a compreensão do impacto de situações de violência de gênero na saúde mental de pessoas trans; e por objetivos específicos a observação das diversas formas de violência que os travestis e transexuais são expostos no convívio social, avaliar de que forma elas afetam a procura por um atendimento médico e psicológico, identificar os principais transtornos psicológicos decorrentes dessa violência de gênero e discutir o papel do psicólogo na prevenção e no combate dessas violências, a partir de debates cada vez mais presentes nos dispositivos sociais.
O presente artigo utilizará como método de abordagem o método dedutivo, trabalhando em cima de estudos previamente definidos a fim de construir uma conclusão coerente que analise a consequência da violência de gênero na saúde mental das pessoas trans. Para comprovar os objetivos e evitar falseamento, a pesquisa será de cunho bibliográfico, ou seja, com base no Código de Ética Profissional do Psicólogo e em matérias complementares como livros, artigos científicos e trabalhos acadêmicos.
Por fim, faz-se necessário um debate mais profundo acerca das dificuldades encontradas pelos travestis e transexuais no decorrer de sua vida em diversas situações sociais. Acredita-se que essa investigação permitirá um melhor entendimento de questões relevantes e pertinentes relacionadas ao universo trans, dando ênfase ao preconceito velado e às dificuldades encontradas por eles no meio social, avaliando como isso afeta a sua saúde mental.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Partindo-se do pressuposto de que, em seu conceito geral, gênero define tudo aquilo que é social, cultural e historicamente determinado a um indivíduo a partir das relações sociais que este estabelece desde o seu nascimento, Grossi (1998) utiliza de conceitos como sexualidade, papéis de gênero e identidade de gênero para esclarecer a equivocada relação de equivalência que essas categorias apresentam diante do senso comum.
Sendo assim, quando se fala de sexo e/ou sexualidade, esse mesmo autor completa que, quase sempre, o senso comum se refere a apenas dois sexos: homem e mulher. Ou seja, existe uma classificação morfológica que significa o que é ser homem ou ser mulher, definida desde a concepção. Sexo, portanto, se refere ao componente biológico e ilustra a diferença entre eles. No entanto, a sexualidade possui um conceito muito mais amplo, remetendo às práticas e aos sentimentos ligados à atividade sexual dos indivíduos. (DE JESUS, 2012)
Nesse sentido, tudo aquilo que é associado ao sexo biológico é considerado papel de gênero. Tais papéis são mutáveis de acordo com a cultura e a história de cada lugar, porém, não são biologicamente determinados, uma vez que cada indivíduo se percebe de forma diferente dentro de uma mesma cultura. Quanto a isso, a constituição desse sentimento individual de identidade é o que se chama de identidade de gênero. (GROSSI, 1998)
Diante desse contexto, surge a noção de diversidade sexual, que propõe o entendimento não só das diversas práticas sexuais, mas sim de todos os elementos que compõem a sexualidade humana, em seu sentido mais amplo. Ou seja, refere-se às vivências sexuais ou não dos indivíduos, desejos, afetos, comportamentos e maneiras de enxergar a si mesmo e o outro. Entretanto, a incompreensão dessa diversidade acaba gerando conflitos sociais, que podem resultar em situações sérias de violências. (DE JESUS, 2012)
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