O Trabalho de Fenomenologia

Trabalho de fenomenologia

        No processo clinico, o psicólogo se depara com alguns desafios que exigem uma analise ampla, e questões de adoecimento não são difíceis de serem encontradas.

O entendimento de doença tende a ser carregado pelo estereótipo de um CID, todavia, a doença não consiste apenas numa ausência de saúde, mas no modo de viver a própria existência que em alguma medida está privada de acontecer em sua totalidade de possibilidades, e nós enquanto psicólogos não devemos aderir ao diagnóstico encaminhado, pré estabelecido ou sugerido pelo paciente, sendo assim, é necessário o entendimento do caso em si e de como Júlia se compreende dentro de sua situação, e para isso é necessário que ocorra uma aproximação entre psicólogo e paciente, permitindo que Júlia tenha um espaço para falar e conseguir expor como se compreende no mundo.         Além disso, é importante proporcionar que Julia consiga expandir suas possibilidades, promover a aproximação da condição de ser enquanto existência, em concordância de si mesma, do que vivenciou e do que deseja vivenciar.

        É possível perceber pela fala apresentada como Julia encontra-se presa nas ideais passadas que seus pais esboçavam, sobre as problemáticas que poderia encontrar se engordasse (sem companhia para brincadeiras ou garotos não se interessariam por ela), limitando-a em sua temporalidade, limitando Julia de ser quem ela poderia ter sido, e isto até o momento atual . Essas ideias que os pais insistiram em expressar quanto ao corpo de Júlia podem ser o ponto de partida desse distanciamento do ser, fazendo com que Julia adote uma “máscara social”, por uma existência inautêntica.

Através da compreensão de corporeidade, entendemos que Julia manifesta através da recusa de alimentação e do limitado cuidado de si, como sintoma de uma compreensão limitada de si mesma e também dos pais, que são as primeiras referências que temos no caso, pensamos que seja necessário compreender mais, dentro da perspectiva de Júlia, o que é o corpo, a comida, a magreza e obesidade, qual o significado da família e da sociedade, além de possibilitar que ela desdobre o que é o adoecer, se ela se compreende estado de adoecimento e como é isso pra ela, afinal na fenomenologia na dasseinsanalise não se compreende corpo e mente separados, então podemos pensar na espacialidade de Julia, em relação à sua existência, diante de tantos “limitantes” e imposições que provocam com que ela busque o mínimo de espaço existencial de si mesma.

Julia parece num primeiro momento estar fechada para o atendimento, perceptível pela sua fala “a comida é minha inimiga”, por isso é importante que o psicólogo consiga compreender o que é apresentado e, junto da paciente, buscar um sentido dentro da existência dela. Assim, o atendimento se torna um desafio para o psicoterapeuta daseins-analítico, devido a incapacidade da paciente de, naquele momento, perceber qualquer possibilidade na sua existência, parece ter sido até este momento uma existência ordenada por qualquer outra coisa, que não por si mesma, tendo em vista que ao ser lançado no mundo o dasein necessita cuidar do próprio existir, estabelecendo relações consigo mesmo para uma existência autêntica.