OS CAMINHOS E CAMINHADAS
Por: gabsagain • 3/5/2018 • Resenha • 5.229 Palavras (21 Páginas) • 211 Visualizações
Texto I-CAMINHOS E CAMINHADAS
Sob influência de fatores históricos e sociais da década de sessenta e a partir de novas correntes na psicologia norte-americana, entre as quais se destaca a influência de Maslow e Rogers, o foco do trabalho grupal foi pouco a pouco, se deslocando dos aspectos mais relevantes da dinâmica estrutural dos grupos para as qualidades afetivas e emocionais que emergem em grupos e o significado destas para o desenvolvimento pessoal dos participantes.
Nessa transição a articulação da experiência vivida neste tipo de grupo com o contexto social, cultural e politico tornou-se cada vez menos clara. De fato, se a cultura grupal não se constituía em aberta contraposição a cultura vigente, ela tendia a desenvolver-se separada do resto do mundo ou ainda se propunha como chave para mudanças sociais, as vezes ingenuamente, a medida que não interrogava em profundidade as suas próprias premissas ideológicas. Nos EUA ocorreram no fim da década de sessenta ate meados da década de setenta um movimento chamado Human Pontential que focava no estudo na só na historia da época, mas que esclarecesse os jogos subjacentes dos interesses políticos e econômicos. Na Europa esse movimento intensificou o estudo da teoria e pratica grupal a partir da psicoterapia familiar e de grupo e da psicologia social e psicossociologia, voltada para o estudo da dinâmica organizacional.
Psicanalistas ingleses (Foulkes e Anthony) também tiveram seu papel importante na busca de uma concepção de psicoterapia de grupo que não meramente traspusessem conceitos e procedimentos da psicanalise individual para a situação grupal. Utilizara para isso conceitos de Lewin e do conceito de configuração de figura e fundo da psicologia da Gestalt para explicitar a relação indivíduo-grupo, os processos grupais e a relação de grupo com um contexto social mais amplo. Na França teve um trabalho publicado “A Vida Afetiva dos Grupos” com o intuito de compreender a complexidade das inter-relações individuo-grupo-sociedade.
A autora diz ter sido influenciada pelo psicodrama a partir de um método de trabalho baseado em ação e expressão não verbal. Por Jung pela sua ênfase em dimensões do inconsciente que ultrapassa a historia pessoal e por Rogers pela postura de aceitação e de suspensão de um saber anterior ao cliente. Porem desejava uma pratica em que pudesse combinar formas verbais e não verbais de trabalho. Acabou encontrando a Gestalt Terapia podendo desenvolver seu trabalho com grupos e na terapia individual. Segunda ela, quando se trabalha em grupo é como se trabalhássemos em terapia individual em grupo. Porem quando mais ela foi desenvolvendo a abordagem gestáltica em grupos, tanto mais acentuada ficou a sua insatisfação com este modelo de trabalho grupal. Pelo fato de se perder grande parte da riqueza e do potencial terapêutico do grupo, sobrecarregando a pessoa e a função do terapeuta, também ela experienciou os riscos que se correm ao deixar de prestar atenção à complexidade das forças grupais que, ficando encobertas, acabam resultando em consequências negativas e ate destrutivas para o grupo e ou seus participantes. Parece, segundo a autora, que a Gestalt terapia apresenta- se teoricamente insustentável, que justamente enfatiza a relação figura-fundo, evento-contexto, não considera explicitamente o contexto grupal no qual ocorre o trabalho, no qual exerce a sua função, do qual faz parte e que é o campo do acontecer terapêutico.
Entretanto a autora diz ter se identificado com um artigo que relata a tentativa de unir a experiência prévia do terapeuta com vários tipos de grupos com a abordagem gestáltica e oferece um esboço de integração entre princípios e métodos da Gestalt terapia e da Dinâmica de Grupo da escola lewiniana. Ampliando a direção dessa proposta a autora teve como objetivo contribuir para a formulação de um modelo conceitual de trabalho com grupos na abordagem gestáltica, apoiando- sem em leitura, reflexão e experiência pessoal.
Texto II- GRUPOS COMO SISTEMAS: A FUNÇÃO DO TERAPEUTA
Quando se observa a quantidade e diversidade de abordagens grupais descritos na literatura sobre psicoterapia de grupo, torna-se patente a dificuldade de construir modelos compreensivos e explicativos do que se passa em grupo dessa natureza. É verdade que isto não decorre somente das dificuldades inerentes à compreensão de grupos, mas também à variedade de escolas psicoterápicas, cada qual citando seu modelo grupal.
Os vários modelos se agrupam em três grandes categorias, cada qual incluindo abordagens que apresentam consideráveis diferenças entre si. As duas primeiras tem base em diferentes correntes psicanalíticas, enquanto a terceira tem origem na psicologia social, e se aplica, sobre tudo, nas psicoterapias de base existencial e nos grupos de treinamento em relações humanas, de sensibilização e percepção interpessoal.
O primeiro modelo concentra a leitura compreensiva dos eventos grupais na relação de cada participante com o terapeuta. A problemática individual é tratada dentro de um contexto grupal que, enquanto tal, não é focalizado. A função do terapeuta é interpretar as relações de cada um com seu grupo interno.
O segundo modelo enfoca a relação do grupo-como-um- todo com o terapeuta. Os comportamentos individuais sempre são entendidos enquanto emergentes da situação grupal, mas nascem especialmente de pressupostos inconscientes compartilhados por todos e que dizem respeito a fantasia em torno do terapeuta. Aparece uma espécie de cultura grupal, que vem a ser entendida como uma estruturação coletiva de defesas contra angústias ligadas a fantasias muito primárias.
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