PANORAMA CRÍTICO DOS NARRADORES JAVE PARCEIROS CONFLITO
Resenha: PANORAMA CRÍTICO DOS NARRADORES JAVE PARCEIROS CONFLITO. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Regilenee • 28/9/2014 • Resenha • 793 Palavras (4 Páginas) • 279 Visualizações
RESENHA CRÍTICA DO FILME NARRADORES DE JAVÉ
CONFLITOS
Em um vale distante no sul da Bahia, há um vilarejo chamado Javé. Seus habitantes formam uma comunidade estritamente oral sem o conhecimento da linguagem escrita. Compõem-se em sua maioria de analfabetos ou semianalfabetos. O vale de Javé está prestes a ficar submerso pelas águas, graças a um projeto do Governo do Estado da Bahia que consiste em construir uma represa no local visando o progresso do estado e do País. A esperança dos moradores é Antonio Biá, o único habitante letrado. É ele quem terá de escrever a História de Javé em um livro e “resgatar”, por meio de histórias narradas por alguns habitantes, toda a sua cultura e toda sua identidade fazendo com que a aldeia faça parte do patrimônio histórico e cultural do país, impedindo assim o seu desaparecimento.
Esse é o enredo – ou o CAUSO – do filme NARRADORES DE JAVÉ (2001, direção de Eliane Caffé) rodado em Gameleiro da Lapa, interior da Bahia. O tema do filme é a diferença entre linguagem oral e linguagem escrita e a importância destas na identidade e na formação cultural de uma civilização.
Como os moradores de Javé são em sua maioria analfabetos (com algumas exceções como o barbeiro e o dono do bar), toda a sua história está centrada na oralidade, nos CAUSOS e nos diálogos entre os moradores. Esta condição torna-se clara logo nos primeiros trinta minutos do filme quando Antonio Biá (José Dumont), para salvar seu emprego como carteiro – “SE NINGUÉM RECEBE CARTA POR QUE TER CORREIO?”, indaga Souza (Matheus Nachtergaele) ao interromper temporariamente o orador do CAUSO Zaqueu (Nélson Xavier) -, envia cartas a parentes e amigos de alguns moradores contando alguns casos e CAUSOS, inventando e FLORINDO alguns fatos. Consegue manter seu emprego as custas da infâmia alheia. Como castigo a personagem é banida da aldeia voltando mais tarde a mando de Zaqueu, um tipo de chefe, mentor e informante dos aldeões que o impõe a condição de escrivão: Biá terá de escrever a história de Javé (o LIVRO JAVÉRICO) a fim de salvar toda a comunidade da catástrofe que se aproxima.
Por Zaqueu ser analfabeto, acredita que, registrando por escrito a história da aldeia, esta passará a compor o quadro sociocultural do país. Não basta apenas que Javé exista na oralidade é preciso documentá-la, registrá-la e imprimi-la em uma linguagem escrita em forma de prosa. É por isso que Zaqueu, ao ouvir dos “homens importantes” que a aldeia só não viria a ser inundada pelas águas caso ela tivesse sua história documentada, associa que, para algo ter uma importância científica, é preciso que esteja impressa no papel e com argumentos “científicos”. Quando lhe perguntam o que é científico Zaqueu não sabe responder exatamente (exploração da falta de letramento da personagem) o que o leva a “criar” uma resposta baseada no senso comum.
Como Javé está isolada das demais cidades, ela torna-se uma espécie de cidade-estado, com suas próprias leis e seus costumes (cena da peregrinação em que o engenheiro declara seu ateísmo – antítese, contraste entre civilização e tribalismo). Não há no filme, por exemplo, evidências de telefone e aparelhos de TV, o que intensifica o seu isolamento e o distanciamento de seus habitantes
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