Pinel e o Tratamento Moral em “O alienista” e “O diário do Hospício”
Por: Rosa Rachel Peixoto • 28/5/2018 • Resenha • 627 Palavras (3 Páginas) • 300 Visualizações
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UNIVESIDADE VEIGA DE ALMEIDA
Clínica de Atenção Psicossocial
Aline Drummond
Pinel e o Tratamento Moral em “O alienista” e “O diário do Hospício”
Rosa Rachel Mendes Peixoto – 20151103913
“-Suponho o espírito humano uma vasta concha. O meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair a pérola que é a razão; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da razão e da loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia e só insânia.” (Machado de Assis, pág. 7).
Em “O alienista”, Machado de Assis, faz de forma brilhante, uma crítica a uma ciência que estava nascendo com a pretensão de estabelecer limites entre o razão e a loucura.
Pode-se perceber uma relação entre Simão Bacamarte e sua Casa Verde com Pinel e o surgimento da psiquiatria (antes chamada alienismo), que com o tratamento moral que propunha, defendia a ideia do asilo como espaço terapêutico para o doente. Identificam-se algumas questões levantadas por Machado de Assis em sua obra em forma de sátira ao que ocorria na época:
Um saber que estava surgindo e, apesar de desestruturado, tinha o aval das autoridades para segregar e isolar, sem critério diagnóstico competente, parte da população: “(...) ou aqueles que para lá são encaminhados pela autoridade real oujudiciária.”(Foucault, 1978:49, APUD Paulo Amarante, pág.23). Fica claro papel regulador e de controle social assumido pelos hospitais.
O Poder que era exercido por Simão Bacamarte sobre toda a população, que o levava, sob a suspeita e alegação de qualquer desequilíbrio, a recolher qualquer cidadão à casa verde, é uma crítica ao poder dos diretores das instituições hospitalares da época.(pág. 24).
A intenção de observar estudar e classificar as doenças, alegada por Simão Bacamarte para recolher os “doentes” é uma referência ao novo modelo de intervenção médica à que se refere Paulo Amarante nas págs.25 a 27, no qual o médico que antes prestava uma assistência em momentos críticos passa a ser constante e de um estudioso de todo o curso evolutivo das doenças. Como a Casa Verde, “o Hospital tornou-se (...) um espaço de exame (...), de contato empírico com as doenças e os doentes.” (Amarante, pág. 26).
O médico assume o lugar de protagonista na cena hospitalar, não só como de detentor do saber como também do poder administrativo (que deixa de cunho religioso e passa a ser científico)
Em nome da ciência e em reconhecimento ao seu valor, os abusos de Simão Bacamarte eram de certa forma, aceitos. Isso fica evidente nas passagens em que cada vez que a suspeita de uma motivação pessoal de Bacamarte para o recolhimento de determinado sujeito (ciúmes ou represálias) era descartada, o povo se acalmava e reconhecia seu propósito científico nas internações.
Saindo da ficção criada por machado de Assis para a experiência de internação vivida por Lima Barreto e relatada em seu “Diário do Hospício”, encontramos a mesmas questões levantadas.
Ressalto aqui, a menção que ele faz em relação à impessoalidade o caráter experimental do tratamento, quando ele diz que o médico “É capaz de ler qualquer novidade de cirurgia aplicada à psiquiatria numa revista da Noruega e aplicar, sem nenhuma avaliação preliminar, num doente qualquer”. (Lima Barreto, pág 30, grifos meus).
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