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Professor do Depto. de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais

Por:   •  24/9/2022  •  Trabalho acadêmico  •  3.036 Palavras (13 Páginas)  •  132 Visualizações

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,[pic 1]

Eticae Psicologia: por uma demarca o filos6fica[pic 2]

Carlos Roberto Drawln

Professor do Depto. de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais

ai-se tornando uma obser­ va ao banal para grande parte de nossa jovem co­ munidade profissional,[pic 3]

embora nao desprovida de certo ma­ tiz dramatico, a constata ao da crise na qual a Psicologia se ve mergulha­ da. A magnitude dos desafios e a ur­ gencia das situa oes embaralham os diagn6sticos de um impasse que nao pode ser circunstancializado ou mini­ mizado, porque atravessa todo um espectro de problemas que se interli­

gam e se refor am: do cronico desem­ prego a precariedade dos cursos de forma ao, do caos te6rico a fatuidade

pratica.

Instala- se na Psicologia uma cri­ se de identidade que a fragmenta num plural que mal se pode ocultar sob a designa ao de espafo psi. Nao se tra­ ta aqui da saudavel pluralidade da diferen a, que e sinal de riqueza con­ ceitual, mas de uma perigosa atomi­ za ao, sintoma da incomunicabilida­ de de posi oes que se fecham em seus guetos te6ricos. (Drawin, 1983).

A complexidade da questao e o mal-estar que freqiientemente acarre­ ta nas rela oes dos psic6logos com a comunidade e com outros segmentos profissionais  nao podem servir de

pretexto ao imobilismo, a indiferen a

autocompassiva ou ao lenitivo facil das solu oes te6ricas. Se nao existem solu oes prontas e o caminho nao e claro, resta-nos a op ao do debate e a paciencia da procura, como unica al­ ternativa para tentar reconstituir ou,

14 • PSICOLOGIA, Ci NCIA E PROFISSAO


ao menos, repensar nossa identidade em dissolu ao. Este e o necessario tra­ balho previo para qualquer redefini­ ao formal e juridica de nosso perfil profissional que nao queira se perder

no mero artificialismo normativo. As institui oes ligadas a Psicologia, en­ quanto categoria profissional, devem

combater a tenta ao legalista, porque e in6cua, porque e incapaz de ocultar a efervescencia conflitiva de nossa atua ao.

E neste horizonte de compreen­

sao que este artigo se pretende uma interven ao filos6fica, estruturando­ se nos limites destas duas coordena­ das: nao se trata de uma reflexao acabada, mas exprime a urgencia de uma interven ao e visa nao a tecnici­ dade de um problema determinado, mas a explicita ao de alguns pressu­ postos da discussao.

Consideramos que a problemati­ ca etica da Psicologia nao pode ser tomada isoladamente, mas que preci­ sa ser situada no contexto mais amplo desta crise de identidade a que aludi­ mos acima. Para simplificar esta con­ textualiza ao, circunscrevemos tres niveis - que nao sao estanques, mas interagem - de desdobramento desta crise:

  1. No nivel tecnico: a imagem social de disciplinas como piscologia e sociologia esta fortemente marcada por suas caracteristicas tecnicas. Nao sem motivo, porque, sendo ciencias recentes, veem-se compelidas a exa­ cerbar a sua eficacidade como artifi-

cio para a obten ao de sua aceita ao academica. Assim, associa-se freqiien­ temente o soci6logo as tecnicas de pesquisa de opiniao e aos metodos estadsticos e o psic6logo a aplica ao de testes. Ora, as tecnicas psicol6gicas surgiram, em muitos casos, atraves da demanda de uma sociedade em pro­ cesso de acelerada racionaliza ao de seu processo produtivo e que necessi­ tava de instrumentos cientificos que justificassem a eclusao ou hierarqui­ za ao de grupos no interior deste pro­ cesso. (Tort, 1976).0        que agrupava tais tecnicas sob a rubrica "Psicolo­ gia" era, antes, a exigencia ideol6gica de legitima ao cientffica do que a sua pr6pria consistencia te6rica. Assim, ao sabor destas exigencias ideol6gicas flutuantes, a Psicologia herdou um conjunto disparatado de procedimen­ tos, uma infinidade de tecnicas hete­ rogeneas em sua operacionalidade e, mesmo, antagonicas em seus objeti­ vos. A Psicologia -        neste aspecto - foi obrigada a se inscrever imediata­ mente como tecnologia, sem contar com a longa gesta ao de uma ativida­ de eminentemente racional. A contra­ partida desta ausencia de lastro te6ri­ co e a dissolu ao do pr6prio projeto tecnol6gico da Psicologia no tateio cego de um empirismo grosseiro, no fetiche da vivencia, no carisma da intui ao. As tecnicas sao geradas pelo arbitrio individual, sem que se neces­ site recorrer a qualquer referencial co­ mum, criticamente respaldado. (De­ leule, 1972)

[pic 4]

Dai os riscos que nos rondam: na noite do diletantismo, todos os gatos sao pardos e nela tudo torna-se legiti­ mo, uma vez que a eficticia da tecnica[pic 5]

  • as vezes ja previamente definida em fun ao de um objetivo arbitrario
  • e estabelecida apenas pela avalia­ ao impressionista de quern a propoe. Assim, no espectro das psicoterapias,

tudo e permitido e na polissemia do termo terapeutico e impossivel detec­

tar os provaveis efeitos iatrogenicos dos procedimentos psicoterapicos.

  1. No nivel te6rico: o corpo te6- rico da Psicologia se constituiu sob dois fogos: por um !ado a pressao social a exigir legitimidade te6rica a posteriori para os procedimentos que engendrava, por outro, a pressao aca­ demica a transpor a priori para o

campo da nova disciplina o seu dog­ ma metodol6gico. Assim, ao amadu­ recimento for ado que a sociedade capitalista impos a Psicologia, acres­ centou-se o esquecimento positivista dos prindpios. Ao generalizar os me­ todos das ciencias da natureza triun­ fantes e introjeta-los na Psicologia, sob a forma de prioriza ao do meto­ do sobre o objeto, o positivismo difi­ cultou enormemente a autoconscien­ cia da Psicologia como ciencia te6ri­ ca, isto e, saber dotado de prindpios, de densidade e autonomia pr6prias. (Voegelin, 1979)

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