Psicologia Diagnóstico Organizacional

Diagnóstico organizacional

As intervenções dos psicólogos têm sido pautadas, predominantemente, em abordagens mais curativas do que preventivas, com um olhar e escutas focados no entendimento e no controle das consequências das condutas dos trabalhadores. A compreensão das situações (processos) nas quais se estruturam tais consequências não tem recebido a mesma ênfase. Os psicólogos são chamados para intervir no momento do surgimento de sintomas, entendidos como consequências negativas resultantes do processo de trabalho, e que são comumente expressos em queixas das mais diversas ordens como, por exemplo, problemas referentes à queda na produtividade, baixa qualidade dos produtos, crescentes índices de absenteísmo e rotatividade, desencadeamento de doenças, aumento da frequência ou da gravidade de acidentes de trabalho, desmotivação, insatisfação, descomprometimento, etc. Com base na queixa, muitas vezes os profissionais são demandados a responder conforme uma lógica de causa e efeito. Entretanto, a atuação do psicólogo deve ser pautada na complexidade e na multicausalidade dos fenômenos psicológicos inerentes às organizações e ao trabalho (Azevedo & Cruz, 2006).

O processo de intervenção consiste em investigar e identificar situações-problemas referentes à política, organização, procedimentos e métodos, subsistemas organizacionais (de gestão de pessoas, por exemplo) e individuais, visando recomendar ações específicas e proporcionar auxílio na implementação dessas recomendações. Normalmente, a primeira etapa para definição da situação-problema contempla a realização do diagnóstico organizacional (ou setorial). Em sequência, o planejamento da intervenção consiste na organização e proposição de possíveis soluções. É o ponto de partida para organizar, coordenar e implementar ações, alinhadas com objetivos. Após a definição do que será feito, é hora de realizar a intervenção planejada. Com a intervenção realizada, para finalizar o processo, é importante avaliar o resultado da intervenção e verificar se auxiliou na resolução dos problemas que foram identificados na etapa de diagnóstico ou em qualquer outra etapa do processo.

Pode-se considerar, portanto, que o processo compreende:

1) Diagnóstico

2) Planejamento da intervenção

3) Execução da intervenção

4) Avaliação da intervenção

DESCRIÇÃO DO CONTATO PRELIMINAR COM A ORGANIZAÇÃO (ENTREVISTA INICIAL)

A empresa “Bonita Calcinhas” foi criada há 4 anos por Juliana e Júnior e atua no ramo de confecção de calcinhas. A fábrica está localizada na Rua da Boniteza n° 18, bairro Costa Feliz, em uma cidade de 500.000 habitantes.

A fábrica iniciou sua produção com cinco máquinas, dois modelos de calcinhas e sete funcionários. Atualmente produz 50 modelos, conta com 30 máquinas e 35 funcionários, com média de produção de 360 dúzias diárias de calcinhas. Pretende acrescentar ao seu portifólio a confecção de cuecas.

Júnior (sócio e marido) de Juliana possui uma empresa familiar de cuecas, ao lado da empresa de Juliana. No mesmo bairro outras pessoas da mesma família possuem fábricas do mesmo ramo da empresa de Juliana.

O quadro funcional da empresa e suas respectivas funções são: donos Juliana (pagamento e cobrança) e Júnior (tabela de preço), Shirley (secretária e controle de pedidos), Gislaine (secretária e lançamento de nota fiscal), Ramon (quebra-galho e ajuda em todos os setores), Felipe (despacha pedidos), Terezinha (encarregada), e 30 costureiros/as.

Os funcionários, de modo geral, são moradores do bairro e por terem familiares como funcionários das outras fábricas, conhecem as características das empresas concorrentes. Por isso, muitas vezes, comparam a “Bonita Calcinhas” com as outras fábricas, querendo ter as mesmas condições de trabalho.

Juliana acredita que o funcionário tem que trabalhar satisfeito, por isso prefere atrasar pagamento de fornecedores do que atrasar pagamento de funcionários. Os funcionários tem carteira assinada, e alguns benefícios como plano de saúde e odontológico, convênio gás e farmácia, auxílio educação, além de prêmio de frequência (R$100,00) e prêmio por produção (R$150,00). O prêmio por frequência iniciou há 6 meses em função de faltas recorrentes ao trabalho por parte dos costureiros/as. Juliana não soube informar se tinha relação com desgastes físicos e sobrecarga de trabalho, mas que são frequentes os relatos de problemas de saúde (obesidade, diabetes, dores de coluna e de cabeça, etc.).