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Reflexões Sobre as Práticas Escolares no Contexto das Classes Especiais

Por:   •  27/3/2022  •  Projeto de pesquisa  •  2.387 Palavras (10 Páginas)  •  150 Visualizações

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Aline Brito Freitas de Queiroga

A BARREIRA DO RÓTULO:

Reflexões sobre as práticas escolares no contexto das classes especiais.  

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CURITIBA, 2006

Título: A Barreira do Rótulo: reflexões sobre as práticas escolares no contexto das classes especiais.

I. Autor: Profa. Dra. Miriam Aparecida Graciano de Souza Pan (orientadora).

II. Resumo

A presente pesquisa tem como tema de estudo a construção da identidade nas classes especiais – tema bastante discutido após o surgimento da política de inclusão. Procura-se elucidar de que forma o discurso escolar se faz presente e reflete-se no discurso, nas atitudes e na concepção que a criança faz de si mesma. Por meio de observações, entrevistas e oficinas, o pesquisador buscará maior compreensão do problema abordado. A análise dos dados coletados será feita por meio do método da análise do discurso.

   

III. Apresentação e Objetivos:

Embora tomados como seres únicos, cada um de nós carrega consigo a história de um grupo. Somos produto de uma rede de relações construída e reconstruída ao longo do tempo, por nós mesmos e pelos outros sujeitos ao nosso redor. Não se pode pensar em indivíduos isolados, independentes, descontextualizados; o que os outros pensam de nós, a forma como somos vistos pelos grupos dos quais fazemos parte, acaba por interferir no modo como nós mesmos nos vemos.

Partindo desta concepção, como entender então a influência da escola na construção do sujeito? Sendo hoje talvez a mais importante e mais respeitada instituição social, de que forma a escola tem contribuído na formação de seus alunos? De que maneira o discurso e os “rótulos” escolares interferem no modo como a criança se percebe enquanto sujeito? Será que os títulos não acabam por definir o papel social da criança dentro da escola?

Assim, este trabalho tem como principais objetivos:

  • Analisar de que maneira o discurso escolar vem a interferir na concepção que a criança constrói de si mesma e da escola;
  • Investigar o modo como o discurso e as práticas infantis apresentam-se atrelados aos rótulos recebidos dentro da escola.
  • Buscar, junto a professores, entender a dinâmica do processo de construção subjetiva, seu papel enquanto educadores e parte deste processo, e de que forma têm eles atuado dentro desta dinâmica.  

IV. Justificativas:

Vivemos hoje o discurso da inclusão. Medidas governamentais têm sido tomadas no sentido de integrar crianças portadoras de necessidades especiais às salas de aula tidas como “normais”, ou seja: tem-se buscado proporcionar às crianças com algum tipo de deficiência – que, até então freqüentavam apenas as escolas “especiais” – o convívio em sociedade, com outras crianças “normais”. Seguindo a mesma lógica, foi excluído o sistema de retenção (ou reprovação) nas séries do chamado ciclo básico (pré a 4ª série).

Contudo, será que o sistema escolar atual está pronto a receber as mudanças implantadas? Na tentativa de minimizar o impacto da rejeição, da reprovação, será que não se acaba por gerar outros problemas? Foi excluído o sistema de retenção, entretanto, foram criadas as chamadas classes especiais. Crianças não-alfabetizadas estão hoje cursando a terceira, quarta séries. Crianças com diferentes tipos de deficiência foram simplesmente agregadas às escolas e, na maioria dos casos, sem que houvesse nenhum tipo de suporte acadêmico capaz de verdadeiramente incluí-las.

Não se esteve praticando a inclusão mas, sim, acabou surgindo um novo tipo de exclusão – e de patologia. Não se fala mais em problemas de ensino, o discurso atual tende aos “distúrbios de aprendizagem”; não se questiona o método escolar mais adequado a cada tipo de criança, fala-se da criança que não vem respondendo ao método. Assim como a inclusão de portadores de necessidades especiais tem sido conduzida em termos individuais – o aluno é quem deve se adaptar –, todas as outras questões referentes à alfabetização têm deixado de lado a coletividade, o papel da escola enquanto grupo. A diversidade passou a ser vista como doença; o diferente tornou-se o “anormal” e, a partir de então passou a ser catalogado numa série de “hiperatividades”, “dislexias”, “disgrafias”, dentre outros.

Resumindo: não se sabe lidar com a diferença. Existe um único molde e cabe ao aluno enquadrar-se nele. Sobre esta questão, Corrêa (1992) coloca:

Que é ser diferente em uma sociedade de iguais? Possuir uma marca, um rótulo, um carimbo que limita as expectativas de crescimento e torna aquele ser humano um “prisioneiro” e, a partir daí, não lhe resta outra alternativa a não ser a de aderir à ordem pré-fixada e ter sua vida organizada por outras pessoas.

 

Em torno deste processo, como reage o professor que, num determinado momento é encarregado de uma turma com 30 a 40 alunos além daqueles portadores de necessidades especiais – na maioria dos casos sem antes mesmo ter passado por algum tipo de “reciclagem” ou treinamento específico? Tem sido útil encaminhar o aluno que não aprende, o aluno bagunceiro, o aluno deficiente para as classes especiais? E quanto à identidade dessas crianças? De que forma podemos pensar a construção subjetiva da criança dentro de uma turma especial? Não tem o discurso do educador sido também imposto a ela?

Partindo destes questionamentos, a idéia deste trabalho é buscar entender de que maneira o rótulo imposto em sala de aula é internalizado pela criança e de que modo ela reage a isto. Da mesma forma, tem-se como intuito trabalhar com professores, buscando apreender a dinâmica do processo ensino/aprendizagem e como ela pode variar dependendo do contexto em que é aplicada. Talvez melhor do que rotular e enquadrar o aluno dentro de um modelo de “inaptidão” seja buscar juntamente com ele formas de se resolver a questão que se tem em comum: a diferença.

 

V. Revisão bibliográfica:

Ingressar na escola não é uma tarefa fácil, principalmente quando se leva em conta a importância desta instituição hoje. Todo sucesso profissional, realizações pessoais e financeiras estão intimamente relacionados ao desenvolvimento acadêmico do indivíduo, de maneira que, de uma criança mal sucedida na escola não se espera um futuro promissor. Como então lidar com a criança que “não aprende”? Como se sente essa criança?

Nas palavras de Corrêa (1992) “quando aos sete anos uma criança ingressa na 1ª série do 1º grau, ela traz consigo a sua realidade, seus valores, seu vocabulário, seus hábitos e conhecimentos. Mas perante a escola ela já chega com diferentes possibilidades de sucesso.” O aluno é analisado assim que adentra a sala de aula e, na maioria das vezes é a partir do pré-conceito que se dirigem as práticas de ensino. O professor acaba por direcionar a aprendizagem, o futuro deste ou daquele aluno de acordo com o rótulo pré-estabelecido, de tal forma que o aluno torna-se escravo de um determinado padrão de conduta.    

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