Relacionamento abusivo no contexto familiar
Por: Thiago Zazatt • 17/9/2019 • Projeto de pesquisa • 7.017 Palavras (29 Páginas) • 333 Visualizações
RESUMO
O presente projeto foi escrito a fim de trilhar o caminho transversal das disciplinas cursadas no oitavo semestre do curso de Psicologia no Centro Universitário Várzea Grande, tendo como fio condutor a obra cinematográfica “A Cor Púrpura” (1985) com o cerne Relacionamento Abusivo no Contexto Familiar e seus atravessamentos dentro da teoria proposta. Para tanto, optou-se por se utilizar o método de revisão bibliográfica proposta pelos docentes em suas respectivas disciplinas e a promoção de discussões em grupos, divididos entre os discentes de acordo com a afinidade particular de cada um com as abordagens ofertadas, para identificar, pontuar e qualificar no filme citado, fatos que pudessem ser identificados como pertencentes ao que se entende por relacionamento abusivo frente à teoria e seus respectivos autores. Dessas discussões, resultou-se um breve texto escrito de autoria dos grupos, com a supervisão dos professores, compilados e agrupados, a saber, em Psicoterapia Infantil; Terapia Comportamental e Cognitiva: Técnicas de intervenção e atuação profissional; Terapia Existencial-Humanista: Técnicas de intervenção e atuação profissional e Teoria Psicanalítica: Técnicas de intervenção e atuação profissional, organizados pela disciplina de Prática de Pesquisa I e II de forma a encontrar a complementaridade necessária para o entendimento e para a discussão relevante. O texto ora apresentado é o resultado de análises críticas e orientações de cada uma das abordagens citadas onde se espera, como resultado efetivo, verificar a continuidade dos fatos demonstrados (tanto no filme “A Cor Púrpura” como nas teorias citadas), confirmando, finalmente, que relacionamento abusivo não é algo novo no contexto social, que em outros tempos houveram autores que se preocuparam de pontuar tais fatos em teoria acadêmica e que, certamente, o papel do profissional da Psicologia é diretamente ligado às necessidades de apoio, empoderamento, acolhimento e tratamento dos envolvidos que, muitas vezes, ora são vítimas, ora são agressores, com o intuito de dirimir repetições de abusos e aproximar-se ainda mais do entendimento dessas práticas.
Palavras-chave: A Cor Púrpura; Projeto Integrador; Abordagem Psicológicas.
1. APRESENTAÇÃO DO TEMA
O presente trabalho tem como objetivo fazer um resgate teórico dos conteúdos ministrados no curso de graduação em Psicologia, ofertado no Centro Universitário de Várzea Grande (UNIVAG), articulado com um tema transversal as diferentes abordagens psicológicas, especialmente, relacionamentos abusivos no contexto familiar. Para isso, os fundamentos que embasam essa produção serão norteados pelas seguintes disciplinas: Psicoterapia Infantil, Comportamental e Cognitiva: Técnicas de intervenção e atuação profissional, Existencial-Humanista: Técnicas de intervenção e atuação profissional, Psicanálise: Técnicas de intervenção e atuação profissional e Prática de Pesquisa I e II. E, para que a articulação do conhecimento acumulado nessas matérias pudesse ocorrer de forma fluida foi selecionado o filme, A Cor Púrpura (1985) como objeto de análise.
Dentro deste será realizado um recorte da temática que abarque a violência familiar e suas vertentes, buscando discutir e comparar, a partir das teorias estudadas e selecionadas, as variantes da violência doméstica e as influências na constituição psicológica dos personagens principais do filme.
Assim, verifica-se que a violência marca a relação abusiva entre homens e mulheres ao longo da obra. O encadeamento desses elos, tem-se início desde as primeiras cenas retratadas, que apresentam a infância e adolescência da protagonista. Diversas formas de violência, dentre elas, a psicológica, a física e a sexual são apresentadas no decorrer dessa produção. Longe de ser apenas uma obra cinematográfica, o filme lança, prende nossos olhares sobre os relacionamentos abusivos no contexto familiar, que será aqui o enfoque das discussões. Mas antes se faz necessário apresentar a obra ao leitor, a seguir.
A Cor Púrpura (1985), dirigido por Steven Spielberg, homem branco e reconhecido mundialmente como cineasta premiado, e lançado no ano de 1985, é baseado no livro que leva o mesmo nome, lançado em 1982 e premiado com um prêmio Pulitzer. A obra foi escrita por Alice Walker, mulher, negra, feminista e ativista, nascida no estado da Geórgia nos Estados Unidos, em fevereiro de 1944, em uma realidade próxima ao fim da 2ª Guerra Mundial na qual estavam presentes, de forma escancarada, a segregação racial e a família patriarcal.
A segregação racial é dada como uma forma de apartar, em todas as esferas sociais, indivíduos negros e brancos. A família patriarcal é um modelo social com o qual se compõe, ainda em nossos dias, a conhecida família tradicional. Toda e qualquer decisão tomada pela família deve estar acordada com o crivo de aprovação do homem, pai da família, imperando a decisão do patriarca, sendo mulher e filhos submissos às suas decisões.
A narrativa se passa em uma cidade do estado da Geórgia, sul dos Estados Unidos, tendo seu desenrolar a partir do ano de 1906. Questões como discriminação racial, violência doméstica, abuso sexual e machismo, são apresentadas de forma clara e explícita.
A trama conta a história de Celie Johnson (Whoopi Goldberg), menina negra, pobre e semianalfabeta, que vive no começo do século XX. Fora abusada sexualmente por seu pai (o qual descobre décadas depois ser na realidade seu padrasto) durante anos. Como resultado desses abusos teve duas crianças, ainda na adolescência, que lhe foram arrancadas ainda bebês. Sua irmã Nettie (Akousua Busia) era seu único apoio, a única pessoa que lhe trazia felicidade.
Um dia Albert Johnson (Danny Glover) aparece na casa da família de Celie buscando uma mulher para casar-se, seu real objetivo era Nettie, mas o pai de ambas recusa a proposta para Nettie e oferece Celie em casamento. Albert, viúvo há pouco, deixa claro ter buscado uma mulher para cuidar da casa e das crianças, assim como suprir suas necessidades sexuais. O filme retrata os abusos e a violência de Albert para com Celie.
Pouco tempo após a união, Nettie busca abrigo na nova casa de Celie, pois estava cansada de fugir das investidas do pai, que tentava a todo jeito abusar sexualmente dela. Com Albert não é muito diferente, porém após tentar estuprar Nettie e esta resistir e reagir, ele a expulsa de sua casa. Nettie promete a Celie que escreveria cartas para ela sempre.
Celie continua a apanhar e ser abusada por Albert, a um certo ponto percebemos como é natural para ela essa forma de ser tratada. Quando
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