Resenha - Raimundo, o condicionado

Raimundo, um sujeito desterrado em sua própria terra, um poeta e um condicionado, vítima do adoecer psíquico. Concebeu seu espaço e território no canteiro central da Avenida Pedroso de Morais, no alto de Pinheiros, o qual se tornou um território identitário, um espaço nomeado, habitado, preenchido e inscrito por marcas históricas, conteúdos afetivos e simbólicos, no qual Raimundo Arruda depositou sua subjetividade e o nomeou de “A ilha”. Natural de Goiás, Raimundo deixou sua terra natal e as instituições das quais pertencia para se tornar um cidadão invisível na enorme São Paulo.

A partir da subjetividade e relação que Raimundo Arruda criou com o espaço, formou-se seu território. Denominamos “espaço” algo que já é pronto, que está dado ao sujeito, sem significações ou adjetivos. O território por sua vez, não é visto como algo externo, mas sim como algo pertencente ao sujeito, pois é no território que o sujeito deposita suas ações, paixões, poderes, forças, fraquezas, e cria sua relação com o espaço, a partir do qual o sujeito constrói sua identidade e manifesta sua existência. Além disso, o território pode ser visto a partir da relação de poderes que existe inserido nele, se referindo as questões de controle de ordem e gestão do espaço estabelecido por diversas instituições, das quais podem ser o Estado, grandes indústrias ou serviços.

O território, em suma, é definido por meio das relações sociais e culturais em que se está inserido, o que implica na relação de poder. Neste sentido, poderia-se dizer que Raimundo Arruda concebeu seu território na “ilha” por não se encaixar no território do restante da sociedade e suas instituições.

Seu passado, contudo poder-se relacionar com a questão das redes sociais as quais faziam parte de sua vida anteriormente, as quais provavelmente não lhe proporcionaram apoio o suficiente, já que há evidencias de que as redes sociais estáveis, sensíveis e confiáveis protegem a pessoas contra doenças.

Sendo assim, é importante salientar que o local no qual o indivíduo esta inserido contribui para dar sentido a sua identidade, juntamente de outros elementos, e esta possibilita a relação com uma rede social, a que existe anteriormente, que possui uma série de códigos de linguagem e de conduta que proporcionam tanto a inserção como a exclusão do sujeito.

Por não ocupar um lugar de valor na sociedade, Raimundo se viu condicionado ao não acesso aos sistemas de bens e serviços da cidade, tornando-se assim invisível perante a sociedade. , porém esta situação mudou após a publicitária Shalla Monteiro ver o condicionado da ilha. A partir de um olhar horizontal Shalla o encontrou, olhou para o poeta invisível da melhor maneira que se pode ver uma pessoa, buscou ajuda-lo da maneira como ele quis ser ajudado, tirando-o da invisibilidade a partir de seus escritos. Sensibilizada, o ajudou publicando os poemas em uma página criada por ela no Facebook, pela qual Francisco Arruda encontrou o irmão desaparecido.

A partir da visibilidade, da rede, da globalização que faz parte de macro e micro instancias territoriais, Raimundo voltou para sua cidade natal Goiânia com o irmão, resgatando assim sua cidadania, sua comunidade e podendo conceber seu território próximo à instituição mais importante naquele momento, sua família e, mesmo depois deste reencontro e recolocação, Raimundo não deixou para trás seu território anterior, continuando a ter por ele o mesmo afeto, cuidando de seu lugar como este o cuidou.