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SOFRIMENTO/PRAZER NO TRABALHADO

Por:   •  27/10/2015  •  Artigo  •  2.805 Palavras (12 Páginas)  •  295 Visualizações

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TRABALHO E O SOFRIMENTO: INTERVENÇÕES NA/DA CLÍNICA PSICANALÍTICA[1] 

Cíntia da Costa[2]; Morgana Vanelli[3]; Walkíria Rodrigues4; Graziela Cezne5

RESUMO

O presente artigo apresenta uma breve revisão de literatura sobre o significado do trabalho para os trabalhadores, bem como o adoecimento dos mesmos e a possibilidade de intervenção clínica na perspectiva psicanalítica.  A relação do sujeito com seu trabalho durante a história passou por constantes mudanças, decorrentes da passagem do sistema laboral, que ocorreu por diferentes meios de produção. E com o atual modo de produção capitalista, essa relação sofreu consequências, tornando o trabalho algo competitivo que visa sempre o lucro. Em fator dessas mudanças, a subjetividade do trabalhador foi impactada, bem como, suas condições de trabalho. Diante disso, percebe-se que a psicanálise poderá intervir nessa realidade ampliando seu alcance e dando espaço a escuta simbólica, tanto nas perspectivas éticas como políticas.

Palavras-chave: Psicanálise; Psicodinâmica do Trabalho; Relação sujeito-trabalho; Sofrimento e Prazer; Trabalho.

1. INTRODUÇÃO

O ato de trabalhar, para Freud (1930), vai muito além da Produção e da Economia, ele perpassa pelas atividades que são realizadas no homem e pelo homem. O trabalho, segundo ele, está diretamente relacionado à economia da libido, garantindo um lugar do sujeito na realidade e comunidade humana. Freud (1930) compreende o “trabalho” como um instrumento que o homem criou para lidar com seu desamparo e viver em sociedade.

O trabalho se refere não só as transformações materiais motivadas pelas tarefas humanas, mas também às transformações de todas as ordens que dependam do propósito humano. A representação mental tanto do objeto material quanto do objeto psíquico no campo da palavra propicia o valor simbólico do trabalho seja qual for à natureza (MENDES, 2012).

Esse ofício constrói uma identidade no sujeito, para essa construção é necessário que haja uma conexão com o real, sendo esta conexão determinada no trabalho. Na relação trabalho-sujeito precisa haver um reconhecimento, o trabalhador necessita perceber-se reconhecido diante do outro, pois isso é fundamental na dinâmica de identidade e prazer (DEJOURS, 2004).

Contemporaneamente, o trabalho é o que “esta” hoje, mas não necessariamente se conservará até amanhã. E independentemente de sua posição ocupada, o trabalhador precisa conviver com uma incerteza de que nada assegura o seu lugar e de certo modo, isso vai influenciar o sujeito de como se colocar em relação às demandas de trabalho. (GAGEIRO apud APPOA, 2000). Ao ser trabalhada a questão do valor simbólico do trabalho e o sujeito contemporâneo, questiona-se quais as condição que desdobra o trabalho psicanalítico hoje. (PEREIRA apud APPOA, 2000). E consequentemente o possível desdobramento em sofrimentos e sintomas, que objetivem um trabalho no âmbito da clínica psicanalítica.

Desta forma a psicanálise, de acordo com Fantin e Kovaleski (2014), é um campo do saber que atua sob a singularidade do indivíduo e a possibilidade do mesmo emergir. A psicanálise viabiliza o sujeito a remediar seu sofrimento com a palavra. A relação dela com o mundo externo faz-se de acordo com o discurso, fazendo-a assim um laço social (FANTIN E KOVALESKI, 2014). Objetivou-se com este trabalho estudar a relação sujeito/trabalho a partir do ponto de vista da psicanálise onde cada vez mais no meio organizacional o capital está demandando um novo perfil de profissional, o que pode gerar mais sofrimento naqueles que buscam inserir-se nele e diante dessa nova realidade buscou-se compreender o papel que a psicanálise ocupa.

2. METODOLOGIA

Este trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica. Portanto, foram incluídos neste estudo artigos científicos publicados em língua portuguesa sobre o trabalho contemporâneo, sofrimento do trabalhador, psicanálise, clínica psicanalítica e valor simbólico do trabalho na base de dados Scielo. Foram selecionados 16 artigos sobre os descritores: trabalho, trabalhador contemporâneo e clínica psicanalítica, sendo escolhidos os que abrangeram o tema proposto.

A pesquisa bibliográfica engloba leitura, análise e interpretação de livros, revistas, jornais, pesquisas, artigos, monografias, etc. O material obtido passa por uma seleção onde será possível escolher os mais apropriados que podem servir para a fundamentação teórica do estudo. Tal pesquisa tem por objetivo analisar as diversas contribuições científicas sobre o tema pesquisado, dando suporte a qualquer tipo de pesquisa (FORTE, 2006).

3. DESENVOLVIMENTO

        

        A psicanálise é uma teoria que constitui o campo de estudos sobre a subjetividade e trabalho. É uma disciplina das mais complexas que analisa o homem, e demonstra na sua teoria a dimensão social. Ainda que o trabalho não seja o objeto principal da psicanálise, é uma atividade humana que perpassa por toda sua obra (LIMA e VIANA, 2006). Desta forma, a teoria psicanalítica no advento de sua técnica contribui de modo efetivo.

Na atualidade o exercício do trabalho apresenta-se de forma repetitiva e o tempo funciona como uma medida para se calcular a produtividade. Apesar dessa realidade a psicanálise busca imprimir uma marca, que seja proveniente do desejo, que produz singularidade. Quando isso não é possível, introduz-se a repetição de uma forma aberta, sendo necessário parar de alguma forma a “máquina de repetir”. Dessa maneira, algum tipo de saída ocorrerá, mesmo que sintomática, mas as novas formas que o trabalho vem assumindo excluem essa possibilidade. (CABISTANI apud APPOA, 2000).

Em um lugar de trabalho definido por limites precisos como tempo de trabalho, no qual o gozo não compete ao operário, aparece um tempo que precisa tornar-se totalmente produtivo e são valorizados seus limites: há uma tarefa que precisa ser realizada num desafio aos ponteiros do relógio (GIONGO apud APPOA, 2000). Para a mesma autora, é preciso acreditar que a principal meta e o organizador das relações no mundo do trabalho atualmente, atende pelo nome de produtividade. Assume-se um processo de produção orientado na busca de um produto que contente totalmente o cliente e assegure a permanência no mercado. Os limites do humano podem ser considerados como impedimento gerando um ideal de que um trabalhador não falhe, não erre, não precise descansar, não sofra, não adoeça (GIONGO apud APPOA, 2000).

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