Serviço de Psicologia no SAMU: Campo de Atuação em Desenvolvimento

Serviço de Psicologia no SAMU: Campo de Atuação em Desenvolvimento

Resumo: O presente artigo teve por objetivo através da experiência de implantação do Serviço de Psicologia no SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) do Rio Grande do Norte (RN), a mediação e intervenção com as vítimas necessitadas de resgate, bem como os seus familiares, comunidade envolvida na ocorrência e profissionais da saúde que prestam esse atendimento. Constatou-se o reconhecimento e crescimento da Psicologia no decorrer das intervenções efetuadas, sendo de máxima importância o atendimento do indivíduo em sofrimento.

Introdução

Diante de uma situação crítica em que o atendimento de urgência e emergência é realizado, com prejuízo à condição de saúde normal e potencial risco de vida, o sujeito torna-se psicologicamente frágil. Essa circunstância atinge não somente o paciente atendido, como familiares, comunidade e prestadores dos primeiros socorros. Eles estão sujeitos a esse momento perturbador do equilíbrio e, portanto, suscetíveis a desenvolverem sintomas como ansiedade, estresse, depressão, abuso de substâncias lícitas e ilícitas, podendo até desenvolver transtornos mais graves como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).

Essas manifestações ocorrem facilmente quando não há um tratamento adequado nos primeiros instantes, dificultando a terapêutica posterior. No entanto, essas respostas negativas tendem a diminuir ou mesmo desaparecer quando o cuidado adequado é ministrado imediatamente.

O intermédio da Psicologia nesse tipo de situação passou a ser pensado somente nas últimas décadas, pressupondo que o profissional agindo nesse cenário deva ser rápido, ajustável, participante e sincero para lidar com as dificuldades e características particulares da ocorrência.

Juntamente com a equipe de saúde, o psicólogo inclui-se no atendimento acolhedor do paciente, família e equipe socorrista, intermediando os sentimentos contrastantes, ajudando para que estes sejam direcionados da melhor forma possível. Cabe também ao psicólogo ser o emissário e estabelecer a conexão entre eles, visando garantir a eficiência na comunicação das informações.

O SAMU

Em 1972, durante a Revolução Francesa surgiu o atendimento Pré-Hospitalar (APH) devido a necessidade de transporte rápido, de cuidados urgentes para evitar maiores comprometimentos e até o óbito dos soldados em campos de batalha.

No Brasil este tipo de atendimento  de urgência e emergência  só apareceu na década de 80 e apenas em 2003, devido ao aumento nos casos de acidentes por causas externas, o Ministério da Saúde nacionalizou o programa através da Política Nacional de Atenção às Urgências (PNAU), que tinha como proposta a ordenação, o estabelecimento e instrumentalização dos serviços de emergência e urgência na área de saúde, nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Esse serviço foi ampliado através da aceitação dos estados e municípios que passaram a contar com este tipo de trabalho.

O acesso ao SAMU é gratuito e feito através de ligação telefônica, contando no pronto atendimento com um condutor-socorrista e um técnico de enfermagem para atendimento básico e de menor gravidade e com um condutor-socorrista, um médico e um enfermeiro para os casos mais graves.

O SAMU RN foi implantado em 2006, com base na cidade de Macaíba, na rodovia BR 304, favorecendo o auxílio aos casos urgentes. O atendimento Pré-Hospitalar além do primeiro atendimento feito no local do acidente, também leva a vítima para o hospital mais próximo e mais adequado ao tipo de incidente. O transporte é realizado em veículo adaptado com estrutura e aparelhagem apropriada. Os socorristas trabalham em períodos de 24h.

Os profissionais que trabalham no SAMU geralmente apresentam problemas com sono, doenças cardíacas, maior cansaço mental, processos infecciosos, além de sofrerem agressões físicas e verbais e não contarem com segurança no ambiente de trabalho.

O serviço de Psicologia no SAMU

Estabeleceu-se uma parceria entre o SAMU RN e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2010, pela Secretaria de Saúde do Estado. Um dos pontos de atuação do Serviço de Psicologia foi o acolhimento aos profissionais que passavam por conflitos. O atendimento era feito no início ou no final do período de trabalho, através do plantão psicológico em sessões individuais ou em grupo. Também foi atribuição o desenvolvimento de práticas e palestras com esses socorristas através de estratégias de enfrentamento do estresse e da morte (direcionados ao serviço de urgência e emergência).

Outra sugestão foi o atendimento psicológico às vítimas, familiares e comunidade envolvida no episódio, dentro da própria ambulância para minimizar o máximo possível o trauma sofrido, através da Política Nacional de Humanização (PNH), ou seja, dar importância aos indivíduos presentes no processo.

Relato de Experiência

A experiência da implantação do Serviço de Psicologia

Iniciou-se o trabalho por meio de palestras falando sobre o ponto de vista psicossocial referente ao dia-a-dia dos Atendimentos Pré-Hospitalares (APH). Com a parceria estabelecida entre a Universidade do Rio Grande do Norte (UFRG) e o SAMU RN, implantou-se o Serviço de Psicologia de forma a oferecer primeiramente no Estado do Rio Grande do Norte o atendimento psicológico aos profissionais que trabalhavam no Atendimento Pré-Hospitalar (APH).