TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO DE SUBSTÂNCIAS
Por: Wagna Alencar • 24/4/2021 • Artigo • 3.503 Palavras (15 Páginas) • 261 Visualizações
TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO DE SUBSTÂNCIAS (F10 – F19): ÁLCOOL E COCAÍNA
INTRODUÇÃO
O presente trabalho objetiva esclarecer como ocorrem os transtornos psicopatológicos relacionados ao uso de substâncias. Considerado um problema de saúde pública, a dependência química atinge as diversas classes sociais, sendo um dos problemas mais graves em uma sociedade contemporânea, caracterizando-se em um estado de uso, compulsivo e incontrolável, da substância psicoativa. Milhares de pessoas, independente de sexo, idade, cultura ou condição social, por razões diversas, tornam-se dependentes de alguma substância psicoativa.
A Psicopatologia é definida como um “ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental – suas causas, as mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação”. Campbell (1986 apud Dalgalarrondo, 2008, p.27).
Uma substância psicoativa é qualquer substância química que, quando ingerida, modifica uma ou várias funções do SNC, produzindo efeitos psíquicos e comportamentais (DELGALARRONDO, 2008).
O CID 10 (2008, p.11) traz dentre as categorias diagnosticadas, os Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias (F10 – F19), que abrangem dez classes distintas de drogas. Este agrupamento compreende numerosos transtornos que diferem entre si pela gravidade variável e por sintomatologia diversa, mas que têm em comum o fato de serem todos atribuídos ao uso de uma ou de várias substâncias psicoativas, prescritas ou não por um médico.
Os transtornos por uso de substâncias “consistem na presença de um agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicando o uso contínuo de certa substância apesar dos problemas desencadeados e significativos relacionados às mesmas” (DSM-5, 2014. p. 483)
Para êxito do trabalho será apresentado dois dos transtornos mentais estudados no ramo da psicopatologia e detalhados no Cid 10 com a codificação de F10 e F14: os transtornos relacionados ao uso de álcool e os transtornos relacionados ao uso de cocaína. Veremos que esses transtornos podem desencadear problemas cognitivos, comportamentais e sociais.
2 TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO DE SUBSTÂNCIAS (F10 – F19) - ÁLCOOL E COCAÍNA
Para Atkinson (2002), a adicção a drogas só ocorre quando um padrão de comportamento de consumo compulsivo e destrutivo emerge. E três fatores principais (dentre eles o sistema de recompensas do cérebro) operam juntos para tornar as drogas psicoativas mais aditivas do que outros incentivos. Segundo ele os fatores são:
- a capacidade da maioria das drogas aditivas de superativar sistemas de recompensa no cérebro como vimos anteriormente.
- a capacidade das drogas aditivas de serem consumidas diversas vezes, produzir síndromes de abstinência desagradáveis.
- as drogas aditivas podem produzir mudanças permanentes nos sistemas cerebrais de recompensa que causam desejo mesmo depois de passada a abstinência.
2.1 Transtorno relacionado ao álcool
O álcool é uma substância que ingerida excessivamente causa grande dependência física e tolerância, podendo tornar-se patológico e trazer graves consequências na saúde física, no bem-estar psicológico, no meio familiar e social do indivíduo.
2.1.1 Etiologia
O alcoolismo se manifesta no individuo de acordo com o contexto, padrão e amplitude do uso; algumas pessoas podem não desenvolverem problemas, mas para outros, o consumo pode ser altamente disfuncional, acarretando uma série de complicações e prejuízos, como é o caso de abuso e dependência.
A Síndrome de dependência do álcool (SDA) é definida como um estado psíquico e físico resultante da ingestão repetitiva de álcool, incluindo a compulsão para ingerir bebidas alcoólicas de modo contínuo ou periódico, havendo a perda do controle (DALGALARRONDO,2008). Os fatores de risco para esse transtorno podem ser tanto ambientais como genéticos e fisiológicos, com múltiplas repercussões na saúde do indivíduo. Em relação aos fatores ambientais podemos citar a cultura em relação ao consumo e a intoxicação por álcool, assim como o preço que é posto, experiências pessoais e níveis de estresse.
Constituindo-se um transtorno com múltiplas repercussões na saúde do indivíduo, a SDA também se apresenta em múltiplas formas e graus. A CID-10 traz a classificação F10 – Transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de álcool, com as seguintes subdivisões:
F10.0 – Intoxicação aguda
F10.1 – Uso nocivo
F10.2 – Síndrome de dependência
F10.3 – Estado de abstinência
F10.4 – Estado de abstinência com delirium
F10.5 – Transtorno psicótico
F10.6 – Síndrome amnésica
F10.7 – Transtorno psicótico residual e de início tardio
F10.8 – Outros transtornos mentais e de comportamento
F10.9 – Transtorno mental e de comportamento não-especificado
O DSM-5 subdivide os transtornos relacionados ao álcool entre: transtorno por uso de álcool, transtornos induzidos por álcool, transtornos relacionados ao álcool não especificado, abstinência de álcool, intoxicação por álcool, porem neste trabalho iremos nos aprofundar e detalhar apenas o transtorno por uso de álcool.
2.1.2 Sinais e Sintomas
O transtorno por uso de álcool é defino por um grupamento de sintomas comportamentais e físicos, os quais podem incluir: Compulsão: vontade incontrolável de beber do indivíduo; Problemas de memória; Falta de coordenação; Dependência física, o que pode ocasionar crises de abstinência (náuseas, suor, ansiedade quando não ingere o álcool), irritabilidade, crises convulsivas e alucinações; Confusão mental; Tolerância: cada vez são necessárias doses maiores para a satisfação e necessidade do indivíduo; Alteração de comportamento (DSM-5, 2014).
A redução ou a interrupção do uso do álcool em pacientes dependentes produz um conjunto bem definido de sintomas chamado de síndrome de abstinência. Embora alguns pacientes possam experimentar sintomas leves, existem aqueles que podem desenvolver sintomas e complicações mais graves, levando-os até a morte. Esses sintomas de abstinência se desenvolvem 4 a 12 horas após a redução do consumo e a fissura é indicada por um desejo intenso de ingerir o álcool ficando difícil manter o foco em outras coisas (DSM-5, 2014). Nos casos leves e moderados, ocorre desconforto gastrointestinal, ansiedade, irritabilidade, pressão arterial elevada, além de taquicardia. Em crises mais graves, que ocorrem em menos de 5% dos alcoólicos, incluem delirium tremens, alucinações, convulsões, alcalose respiratória, febre e dependência física. Já os sinais e sintomas de ansiedade e depressão podem não necessitar de farmacoterapia por estarem relacionados com Intoxicação Alcoólica ou Síndrome de Privação e podem diminuir nas primeiras semanas de abstinência (GOODMAN; GILMAN, 2010).
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