Trabalho Análise do episódio de Black Mirror “15 milhões de méritos”
Por: Rodrigo Antunes • 14/6/2023 • Trabalho acadêmico • 2.747 Palavras (11 Páginas) • 101 Visualizações
Análise do episódio de Black Mirror “15 milhões de méritos”
através dos conceitos de Zygmunt Bauman
Subjetividade e Cultura
Professora: Patrícia N. A. Coelho
Grupo
Bruno Borba
João Alexandre
Nicolas Keller
Paulo Felipe
Rodrigo Antunes
Modernidade líquida
As questões contemporâneas, que afetam diretamente a vida coletiva foram tratadas por diversos autores, mas em especial por Bauman, um sociólogo polonês, que se tornou popular por tratar do conceito de modernidade líquida. Ele cunhou o conceito de modernidade líquida para definir o tempo presente. A modernidade líquida, no entanto, não deve ser confundida com a pós modernidade, conceito do qual Bauman é crítico. Segundo ele, não há pós modernidade, no sentido de ruptura ou superação, mas sim uma continuação (transição, passagem) da modernidade seguindo uma lógica diferente - o que antes era rígido, sólido, agora é líquido, fluido.
A modernidade sólida era caracterizada como ordenada e previsível. O termo líquido foi escolhido por Bauman por se tratar de um estado que constantemente sofre mudanças, é capaz de se reorganizar de acordo com o meio em que se encontra e que não conserva forma por muito tempo, o que ilustra perfeitamente as relações e certezas do atual período. Todas os aspectos da vida sofrem mudanças. Essas mudanças no mundo contemporâneo afetam a vida coletiva em todos os seus aspectos. A lógica da modernidade sólida de fixidez, do coletivo, e do estável é substituída pela lógica do agora, do consumo e do individualismo na contemporaneidade. Os relacionamentos não são feitos para serem duradouros, as pessoas estão muito distantes uma das outras, apesar da proximidade trazida pela tecnologia, há uma grande valorização daquilo que é efêmero, ídolos passageiros, sucessos temporários, há uma busca interminável pela identidade através do consumo, trazendo a ideia de que você é o que você compra, e que você precisa participar disso para ser considerado alguém, consequentemente isso invalida quem não consome, como alguém impuro, que não pertence àquele local.
Existe ainda uma necessidade de se manter atualizado com as últimas tendências para se manter dentro dos padrões sociais. Contudo, as constantes variações e incertezas causam ansiedade, angústia pelo fato das pessoas não saberem se conseguirão se adequar aos novos padrões sociais. Essa rotatividade afeta também a esfera econômica que vive em constantes crises e instabilidades, acarretando em desemprego e, consequentemente, mais ansiedade. A falta de equilíbrio e saúde mental é outra característica desse tempo, em decorrência de todas as exigências, que nunca poderiam ser cumpridas por uma única pessoa, isso devido à falta de tempo que essas mudanças necessitam para serem incorporadas em relação ao tempo que elas se mantém relevantes. É neste cenário que Bauman enxerga o mundo líquido, trazendo luz sobre estes temas que impactam tão profundamente as nossas vidas.
Sobre pureza e impureza:
Segundo Bauman a pureza é uma visão de ordem, ou seja, cada “coisa” tem o seu devido lugar e nenhum outro adjacente. Já o que é oposto à pureza são as coisas que estão fora de seu lugar, vista assim como: o sujo, os agentes poluidores, imundos. Essas “coisas” consideradas sujas podem se tornar puras, uma vez colocadas em seu justo lugar, como um exemplo citado em seu livro (O mal-estar da pós-modernidade): o omelete colocado em um prato de jantar é algo puro, já colocado em cima de um travesseiro é visto como impuro, sujo.
Para Bauman, todo processo de purificação envolve necessariamente um mecanismo de exclusão. Ou seja, um grupo/indivíduo sempre ficará as margens. Cada esquema de pureza gera sua própria sujeira e cada ordem gera seus próprios estranhos, pessoas que não se encaixam no mapa cognitivo, moral e estético do mundo, causando um mal-estar naquela sociedade, preparando assim o estranho à sua própria medida e semelhança. A partir de uma análise feita por Mary Douglas, uma antropóloga britânica, os modelos de pureza e padrões a serem conservados mudam de uma cultura/época para outra, pois cada época e cultura tem seu devido modelo de pureza, um certo padrão ideal a ser mantido. Bauman exemplifica isso com o nazismo e comunismo que eram um tipo do processo de pureza, extremistas e totalitários. O nazismo em busca da pureza da raça e o comunismo em busca da pureza da classe.
Uma das maiores impurezas, aquilo que destoa do padrão imposto de um devido grupo/sociedade, da versão moderna da pureza eram os revolucionários, e a mais odiada/problemática impureza da versão pós-moderna da pureza deixam de ser os revolucionários e passam a ser aqueles que fazem a lei com suas próprias mãos ou os que desrespeitam as leis, como os furtadores, ladrões e terroristas. Os impuros eram vistos assim, como objetos fora do lugar.
Cada um de nós possui subjetividade prória, e ingressamos em um mundo “pré-fabricado”, por valores morais, convívios do cotidiano e rotina de um determinado grupo que somos inseridos.
Bauman também citava os “consumidores falhos” como aqueles vistos como uma sujeira da sociedade, um problema, pois faltavam recursos necessários para a sociedade de consumo para eles: o dinheiro. Deste modo, são incapazes de serem “indivíduos livres”, uma vez que a liberdade é vista como poder de escolha do consumidor. Passando a serem vistos, assim, como os novos impuros da sociedade.
Diferentes funções do revolucionário:
Nesta parte será descrito mais especificamente sobre um conceito de sujeito, de Bauman, que surge no primeiro capítulo do livro Mal-estar na Pós-Modernidade em que é descrito, como dito, antes como a questão da pureza e impureza se dão na sociedade e como este critério designa a aptidão ou a falta dela para participar do jogo consumista de modo que coloca como fora da lei seus inimigos incriminando sua resistência para que o jogo consumista continue sendo perpetuado, colocando quem não se adequa a ele como "objetos fora do lugar" (Bauman, 1997). Do mesmo modo como ocorreu na modernidade, onde havia permanente guerra à tradição e o sistema deveria purificar-se de quem se apresentava contra esse, radicalizando os seus princípios. Os que faziam esse papel, como inquietantes impurezas, eram os revolucionários que buscavam extrair ao máximo a ordem vigente da modernidade para tentar colocar em ordem o que esse sistema jamais poderia aguentar.
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