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Uma Re-visão das “Regras Técnicas” Recomendadas por Freud

Por:   •  14/6/2018  •  Resenha  •  1.335 Palavras (6 Páginas)  •  1.031 Visualizações

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Uma Re-visão das “Regras Técnicas” Recomendadas por Freud

 Freud deixou para todos os psicanalistas das gerações seguintes um importante e fundamental legado, as regras para se aplicar as técnica de qualquer processo psicanalítico, se referindo como “recomendações”. São elas classificadas por quatro regras:

- Regra fundamental

- Regra da abstinência

- Regra da neutralidade

- Regra da atenção flutuante.

Existe também uma quinta regra:

- Regra do amor à verdade

 Essas regras permanecem vigentes em sua essencialidade, porém vem se transformando por meio de algumas rupturas epistemológicas e inevitáveis mudanças que sucessivamente vêm se processando no perfil do paciente, do analista e da própria ideologia do processo analítico, com óbvias repercussões na prática clínica.

REGRA FUNDAMENTAL

Consiste no compromisso assumido pelo analisando em associar livremente as idéias que lhe surgissem de forma espontânea na mente e falar para o analista, independentemente de suas inibições ou do fato se ele as julgasse importantes ou não. Hoje muita coisa mudou , começando pelo perfil do paciente que procura análise. Raramente nos confrontamos com aqueles pacientes que apresentavam unicamente sintomas neuróticos, como costumavam ser os histéricos, os fóbicos, e os obsessivos. Houve significativas transformações nos fatores socioeconômicos e culturais que, somados aos anteriores, também concorrem para outras mudanças, como a da duração do tempo das análises.

A principal transformação diz respeito ao fato de que os notáveis e progressivos avanços teórico-práticos dos fenômenos pertinentes à área da comunicação vêm possibilitando que o psicanalista compreenda de forma muito mais acurada a metacomunicação que está contida nas diversas formas de linguagem não-verbal, como é o caso dos silêncios, das somatizações, da entonação vocal, da linguagem corporal e gestual, da primitiva linguagem que o paciente emite pela provocação de efeitos contra transferenciais na pessoa do analista.

REGRA DA ABSTINÊNCIA

época na qual as análises eram curtas e na clínica dos psicanalistas predominavam as pacientes histéricas, que logo desenvolviam um estado de paixão e de atração erótica com o analista. Essa regra mostra a necessidade de o psicanalista abster-se de qualquer tipo de atividade que não seja a de interpretar, portanto ela inclui a proibição de qualquer tipo de gratificação externa, sexual ou social, a um mesmo tempo que o terapeuta deveria preservar ao máximo o seu anonimato para o paciente.

Atualmente muita coisa mudou na prática psicanalítica, pois o perfil emocional e situacional do paciente que procura análise é bem diferente daqueles dos primeiros tempos, as condições sociológicas e econômicas também são completamente diferentes, os conhecimentos teóricos e técnicos dos psicanalistas ampliaram-se em extensão e profundidade, os objetivos a serem alcançados também sofreram profundas modificações, as análises são mais longas e, por conseguinte, temos mais tempo, mais liberdade e menos medo para interagir intimamente com os analisandos. A maioria dos analistas atuais trabalha de uma forma mais descontraída, o clima da análise adquiriu um estilo mais coloquial, com uma menor evitação de aproximação. Além disso, há um certo abrandamento do superego analítico, possibilitando que o analista possa sorrir, ou rir, durante a sessão, responder a algumas perguntas particulares, dar algum tipo de orientação, evidenciar algum tipo de emoção, não ter pavor de que apareça alguma fissura no seu anonimato, explicar rigidamente a regra da abstinência e do anonimato, nos termos em que foram originalmente recomendadas por Freud, nas análises mais longas de hoje, seria impossível e conduziria para um clima de muita falsidade, além de um incremento da submissão e paranóia.

REGRA DA ATENÇÃO FLUTUANTE:

O terapeuta deve dispor de condições para que se estabeleça uma comunicação de “inconsciente para inconsciente” e que o ideal seria o analista pudesse cegar-se artificialmente para poder ver melhor. Bion argumenta que esse estado de “atenção flutuante” é bastante útil para permitir o surgimento, na mente do analista, da importante capacidade, latente em todos, de intuição a qual costuma ficar ofuscada quando a percepção do analista é feita unicamente pelos órgãos dos sentidos.

Pensa-se que tanto a “atenção flutuante” de Freud, quanto o “sem memória, sem desejo...” de Bion, equivalem a um estado mental de pré-consciência que, portanto, propicia ao analista estar ligado ao mesmo tempo aos fatos externos e conscientes, assim como a uma área do inconsciente que lhe possibilita uma escuta intuitiva, a qual favorece a arte e a criatividade psicanalítica. O analista que tentar levar a regra da atenção flutuante rigorosamente ao pé da letra trabalhará um estado de desconforto, devido a culpas, e com uma sensação de fracasso pessoal, pois é impossível sustentar essa condição durante todas as sessões e sempre, sem que eventualmente ele tenha suas distrações, divagações, desejos, cansaço, algum desligamento.

REGRA DA NEUTRALIDADE

O psicanalista deve ser opaco aos seus pacientes e, como um espelho, não lhes mostrar nada, exceto o que lhes é mostrado. O conceito de neutralidade deve se estender aos próprios desejos e fantasias do analista, para possibilitar que ele esteja disponível para os pontos de vista dos seus analisandos, diferente dos seus, sem ter que apelar para um reducionismo sistemático aos seus valores prévios, assim como, também, para que ele ocasionalmente aproveite a profunda interação com o seu analisando e possa ressignificar as suas próprias experiências emocionais antigas. Essa regra se refere diretamente à necessidade de que o analista não se envolva afetivamente com o seu paciente.

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