A FAMÍLIA - CONCEITOS E SURGIMENTO
Por: weltonsoares • 11/5/2016 • Monografia • 15.376 Palavras (62 Páginas) • 363 Visualizações
CAPÍTULO 1
FAMÍLIA - CONCEITOS E SURGIMENTO
Alguns conceitos de família serão elencados para formalizarmos com um referencial teórico pertinente a constatação de que ela desempenha papel fundamental no desenvolvimento e manutenção da saúde e no equilíbrio emocional das pessoas que formam uma família.
A Constituição Federal de 1988 representou um marco na evolução do conceito de família, ao corporificar o conceito de Lévy-Brul, de que o traço dominante da evolução da família é sua tendência a se tornar um grupo cada vez menos organizado e hierarquizado e que cada vez mais se funda na afeição mútua. (GENOFRE, 1997)
Elsen (2002) define família como um sistema em que se compartilham valores, crenças, conhecimentos e práticas, formando um modelo explicativo de saúde-doença, através do qual a família desenvolve sua dinâmica de funcionamento, promovendo a saúde, prevenindo e tratando a doença de seus integrantes.
Burgens e Rogers apud Elsen (2002) conceituam família como uma unidade de pessoas em interação, um sistema semi-aberto, com uma história natural composta por vários estágios, sendo que cada um deles correspondem tarefas específicas por parte da família.
Os conceitos são vários, mas a verdade é que a união das pessoas que fazem parte de uma família com ou sem os laços consanguíneos se constitui a partir da intimidade, amizade, respeito e crescimento coletivo.
Ao longo da história, Engels (1982) estudou as fases clássicas da evolução da cultura, e podemos perceber algumas transformações que a família vem passando historicamente, atreladas as modificações sofridas pela sociedade. Sabendo portanto, que essas transformações afetam a dinâmica da família e sua função na sociedade.
Vejamos os três estágios da evolução da cultura, para compreendermos o histórico do surgimento da família, Engels (1982): Estado selvagem - em que predominava a apropriação dos produtos naturais para a utilização; Barbárie - foi quando apareceu a agricultura e a domesticação dos animais e à medida que evoluía à maneira do trabalho do homem, aprimorava-se a produção dos recursos da natureza; e a Civilização - representou o período da indústria, à produção cada vez mais complexa dos produtos naturais, marcado também pelo surgimento das artes. Engels (1982) apresenta que desde a pré-história, a família evoluiu numa diminuição constante do seu grupo, onde predomina a comunidade conjugal entre os sexos, grupo este que incluía a tribo completa.
Engels (1982) apud Simionato e Oliveira (2003, p. 59) descreve que a Barbárie corresponde ao tipo de família sindiásmica, e a Civilização correspondem à monogamia, a saber:
Ao Estado Selvagem considerado como infância do gênero humano corresponderia a estruturação por grupos onde cada homem pertencia a todas as mulheres e cada mulher pertencia a todos os homens. A Barbárie corresponderia a família sindiásmica, caracterizada pela redução do grupo a sua unidade última que é o par, ou seja, o casal. Finalmente no estágio da Civilização, o modelo correspondente é o da monogamia, que se baseia no predomínio do homem e cujo objetivo expresso é o de procriação dos filhos e a preservação da riqueza através da herança. Historicamente, as culturas grega e romana traduzem com bastante severidade a forma de organização da família monogâmica. Esta forma foi a primeira que não se baseava em condições naturais, mas econômicas, e representou concretamente o triunfo da propriedade privada sobre a propriedade comum primitiva, originado espontaneamente. (ENGELS, 1982 apud SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003, p. 59)
A partir de então, a composição da família começa a se modificar, observando-se mudanças nos papéis e nas relações das pessoas que a constitui. E em consequência da civilização, a família sofre nesta sociedade capitalista com as questões econômicas, políticas, sociais e culturais que interferem radicalmente no seu modo de pensar, agir, vestir etc. E ajustando-se a tudo isso, a família sobrevive como sendo fundamental para o desenvolvimento humano.
Singly (2000) apud Simionato e Oliveira (2003, p. 59) continuam esta reflexão sobre a evolução da família:
A compreensão de Singly sobre a família contemporânea é de que ela é, ao mesmo tempo e paradoxalmente, relacional e individualista. De acordo com a autora, é na tensão entre esses dois pólos que se constroem e se desfazem os laços familiares contemporâneos, onde cada um busca a fórmula mágica que lhe permita ser livre junto, onde o ideal é a alternância entre um eu sozinho e um eu com.
Segundo Singly (2000) citada por Simionato e Oliveira predomina no modelo familiar contemporâneo a "imposição" da lógica do amor, onde os cônjuges só ficam juntos se amarem-se mutuamente; os pais dão mais atenção aos filhos. Acontece então, a transformação da família em um espaço privado a serviço das pessoas, justificando então a conceituação da autora, ao afirmar que a família é "relacional e individualista".
1.1 Um breve histórico familiar
O conceito histórico da palavra família vem de "famulus" (escravo doméstico) iniciado em Roma pelas tribos latinas, com o começo da agricultura e da escravidão.
O trabalho de Morgan (1877) apud Castro (2005) denominado "A Sociedade Antiga", constitui-se como uma obra fundamental para explicar a endogamia e a exogamia. O "Mito do pai morto" (o que monopolizava sexualmente as fêmeas), de Darwin, foi a base para a hipótese de Freud: Na volta do exílio, os filhos assassinos, reconhecendo a culpabilidade, proíbem a morte do totem, renunciando o fruto do crime (as mulheres), instaurando a exogamia e quem sabe também o direito materno, substituindo a organização patriarcal.
De acordo com Morgan, desse estado primitivo de promiscuidade, provavelmente bem cedo, formaram-se os quatro tipos de família: a família consanguínea, família punaluana, família sindiásmica e família monogâmica.
A família consanguínea, os cônjuges são descendentes de um casal, em cada geração sucessiva cada um são irmãs e irmãos entre si, por isso, maridos e mulheres uns dos outros. A família consanguínea não existe mais em pleno ano de 2012. E desse modo, nem os povos mais atrasados de que trata a história, relata qualquer exemplo, demonstrando que ela existiu de fato. O que valida tal explicação para esse tipo de família consanguínea é o exemplo de parentesco havaiano, ainda vigente na Polinésia, que apresenta graus de parentesco dessa natureza, que só puderam ter existido a partir dessa forma de família. Consiste portanto, em excluir os pais e os filhos das relações sexuais recíprocas.
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