Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil
Por: Mayane Rogéria • 25/10/2019 • Ensaio • 1.290 Palavras (6 Páginas) • 336 Visualizações
FICHAMENTO
NETTO, J. P. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. São Paulo:Cortez,2005.
Mayane Rogéria da Silva
2.2.3 A erosão do Serviço Social “tradicional” na América Latina
“O tensionamento das estruturas sociais do mundo capitalista, quer nas suas áreas centrais, quer nas periféricas, ganhou uma nova dinâmica; num contexto de desanuviamento das relações internacionais, gestou-se um quadro favorável para a mobilização das classes sociais subalternas em defesa dos seus interesses imediatos.”(pg.143)
“(...) do exterior da profissão; indiretamente, parte da movimentação social que caracteriza o período; diretamente, arrancados segmentos sociais que padecem a intervenção imediata dos assistentes sociais. Sua conversão em efervescência profissional interna deve-se à convergência de três vetores que afetam a reprodução da categoria profissional como tal. ” (pg.144)
“ Em primeiro lugar, a revisão crítica que se processa na fronteira das ciências sociais. Os insumos ‘científicos’ de que historicamente se valia o Serviço Social e que forneciam a credibilidade ‘teórica’ do seu fundamento com a chancela das disciplinas sociais acadêmicas viam-se questionados no seu próprio terreno de legitimação original. (...) E uma interdição de monta: a fonte primaria da sustentação teórico-metodológica da construção profissional experimentava convulsões que repicavam no vazadouro constituído pelo Serviço Social. ” (pg.144)
“ O segundo vetor que intercorria no processo era o deslocamento sociopolítico de outras instituições cujas vinculações com o Serviço Social são notórias: as Igrejas – a católica em especial, e algumas confissões protestantes. Deslocamento muito desigual nas várias latitudes, porém visível em todas elas e operante em dois planos: no adensamento de alternativas de interpretação teológica que justificavam posturas concretamente anticapitalistas e antiburguesas e na permeabilidade de segmentos da alta hierarquia a demandas de reposicionamento político-social advindas das bases e do ‘baixo clero’. ” (pg.144/145)
“Finalmente, last but not least, o movimento estudantil: condesamente, ele reproduz, no molde particular da contestação global características da sua intervenção, todas as alterações que indicamos e as insere perturbadoramente no próprio locus privilegiado da reprodução da categoria profissional: as agências de formação, as escolas. ” (pg.145)
“A reconceptualização é, sem qualquer dúvida, parte integrante do processo internacional de erosão do Serviço Social ‘tradicional’ e, portanto, nesta medida, partilha de suas causalidades e características. (...) a reconceptualização está intimamente vinculada ao circuito sociopolítico latino-americano da década de sessenta: a questão que originalmente comanda é a funcionalidade profissional na superação do subdesenvolvimento.” (pg.146)
“ (...) uma espécie de grande união profissional que abre a via a uma renovação do Serviço Social. Ela é o ponto de partida para o processo que se esboça em 1965 e que. Genericamente, tem como objetivo expresso adequar a profissão ás demandas de mudanças sociais registradas ou desejadas no marco continental – e que sensibilizavam o Serviço Social pelos mesmos condutos e sujeitos que, internacionalmente, como vimos, forçavam e parametravam alterações profissionais. ” (pg.146/147)
“ (...) aquela grande união objetivamente se esfarinha. Concorrem para isso duas ordens de causas. A primeira foi o leito real seguido no equacionamento das mudanças sociais nas áreas mais significativas do continente: a perspectiva da ‘modernização’ por vias ditatoriais ou do seu puro congelamento repressivo acabou por impor-se, derrotando as alternativas democráticas que apostavam nas vias reformista-democrática e revolucionaria. (...) A segunda radicava na própria composição daquela grande união: se colocavam em xeque o Serviço Social ’tradicional’, seus constituintes faziam-se a partir de posições distintas e com projeções também diferentes.”(pg.147)
“(...) É no marco da reconceptualização que, pela primeira vez de forma aberta, a elaboração do Serviço Social vai socorrer-se da tradição marxista – e o fato central é que, depois da reconceptualização, o pensamento de raiz marxiana deixou de ser estranho ao universo profissional dos assistentes sociais. (...) Não se trata, como se vê, deum ingresso muito feliz da tradição marxista em nosso terreno profissional; entretanto – e não há que perder de vista este aspecto -, o principal é que, a partir de então, criaram-se as bases, antes inexistentes, para pensar-se a profissão sob a lente de correntes marxistas; a partir daí, a interlocução entre o Serviço Social e a tradição marxistas inscreveu-se como um dado da modernidade profissional.”(pg.148/149)
2.2.4. As direções da renovação do Serviço Social no Brasil
“ Na pesquisa deste processo de renovação, no âmbito da (auto)representação do Serviço Social, submetemos a cuidadoso exame a parcela mais significativa da literatura profissional difundida nacionalmente entre 1965 e 1985. Este exame – a partir do qual detectamos as mencionadas direções intrínsecas – revelou que o processo de renovação configura um movimento cumulativo, com estágios de dominância teórico-cultural e ideopolítica distintos, porem entrecruzando-se e sobrepondo-se, donde a dificuldade de qualquer esquema para representa-lo. ” (pg.152)
“ No que toca à distribuição diacrônica da elaboração profissional, nosso exame sugere um cenário em que registram três momentos privilegiados de condensação da reflexão (...) no primeiro momento, o impulso organizador é praticamente monopolizado pelas iniciativas do CBCISS, que então abre a série dos seus importantes ‘seminários de teorização’. No segundo, além da presença dessa entidade, verifica-se especialmente a objetivação dasinquietudes sistematizadas no âmbito dos cursos de pós-graduação, inaugurados pouco antes. No terceiro, acresce-se a estas duas fontes alimentadoras a intervenção de organismos ligados ás agencias de formação (ABESS) ou diretamente a categoria profissional (como as associações profissionais, posteriormente sindicatos, CENEAS etc.).” (pg.152/153)
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